Gostaria de saber se o consumo das substâncias alucinógenas como a maconha, daime, cogumelos são considerados pela Bíblia como magia. E também se alguma delas é permitida pela Bíblia, como as que dão sensação de harmonia com o esclarecimento de Deus sobre a verdade absoluta (maconha, daime e cogumelos)
Estimado R.!
Você traz um assunto bastante delicado porque qualquer posição que se assuma pode ser mal interpretada. A questão da fé e da religiosidade envolve todas as dimensões do ser humano - corpo e mente. A espiritualidade diz respeito à totalidade do ser. Neste sentido também alcança a todos os sentidos da pessoa, pois eles são parte do modo de apreensão da realidade.
O ser humano em sua complexidade e diversidade carece ainda de muita investigação. Ao longo da história humana as civilizações tiveram formas diversas de religiosidade e a explicação para as experiências de fé e de sentido da existência também foram diversas.
A experiência de fé do povo de Deus testemunhada na Bíblia também passou por momentos muito diferentes ao longo de vários séculos de tal modo que se torna necessário situar os textos que falam da vivência religiosa dentro do seu contexto. O contexto histórico e geográfico influenciou as práticas de fé do povo.
Assim podemos entender que uma das maiores ameaças para o povo de Deus (e por isso também atacada veementemente) foi a idolatria, o culto a divindades dos povos vizinhos. A unidade e a sobrevivência da fé judaica (e também do cristianismo) tem em Javé o seu núcleo agregador. A unicidade de Deus possibilita a continuidade e permanência deste povo até os dias de hoje. A educação na fé e a fidelidade a ele foram fundamentais na história. As práticas religiosas que puderiam desviar desta fé eram condenadas. O uso de aromas, comidas e/ou bebidas , danças e festas acompanharam o povo de Deus. Ao longo do tempo foram acrescentados ritos e símbolos para lembrar os feitos de Deus e a sua fidelidade para com o seu povo.
A magia se baseia na crença de que por meio de palavras e gestos seja possível alcançar um determinado bem ou concretizar algum desejo pessoal. Há um tipo de fé na palavra e no gesto independente da crença em Deus. Deus fica num segundo plano. O rito tem mais peso e a pessoa que realiza a magia é considerada poderosa.
Fica difícil associar de forma direta substâncias alucinógenas com magia. Existem alterações do estado de consciência que independem de magia. A desrepressão causada por um alucinógeno e o despertamento de novas emoções não precisam estar correlacionados com uma prática religiosa. Agora, se a pessoa usa deste expediente como ritual religioso, então a situação é outra.
Algumas experiências que você menciona podem estar carregadas de sentido religioso ou não. Uma delas (Santo Daime) tem caráter religioso, sim. Aí eu diria que fica a critério da pessoa analisar se a alteração de consciência por meio de alucinógenos pode ser benéfica ou prejudicial a si mesmo e se à luz da Bíblia está incorrendo em uma prática mágica. Se Deus é colocado à margem pela pessoa e se ela se torna o centro de tudo, da experiência e do rito, então tudo muda de figura.
Do ponto de vista cristão a fé está relacionada ao Deus revelado em Jesus Cristo e comunicado pela Palavra de Deus. Esta fé não carece sempre de experiências extraordinárias. O sentido da vida que encontramos em Jesus Cristo e a sua orientação para a vivência cotidiana podem acontecer e acontecem no ordinário, na normalidade da vida. A qualquer momento e em qualquer lugar podemos invocar a Deus, ler sua palavra e entoar uma canção. Este be-a-bá nos sustenta e serve de apoio para a vida. Os cultos e a comunhão com os irmãos e as irmãs não precisam estar recheadas de êxtases e transes. É claro que um ambiente acolhedor pode favorecer a comunhão, mas também aí pode haver expectativas contraditórias. Uns gostam de um estilo de música, outros gostam de movimento e assim por diante.
R., pensei alto com você. Espero ter ajudado de alguma maneira.
Ver artigo: Ecstasy – drogas- carnaval