Todos os povos tiveram e tem seus momentos de festividade. Todas as culturas procuraram e procuram estabelecer ou criar certos dias para a descontração e a desrepressão. Às vezes, este calendário se fundia ou funde com o calendário religioso. A cultura contemporânea ainda conserva traços desta prática e o carnaval é um resquício de um calendário religioso que assumiu ares secularizados.
É bem verdade que os ciclos festivos ficaram bastante diluídos nos dias de hoje com a possibilidade de as pessoas encontrarem a todo dia e a toda hora meios de promover o lazer e a descontração. Numa sociedade do tempo livre o lúdico exerce um papel muito importante e, ao mesmo tempo, perigoso. As insatisfações e a falta de sentido da existência aparecem com mais constância nos momentos ditos “livres”. As drogas são um expediente muito utilizado pelas pessoas para preencher o vazio existencial ou fugir da angústia decorrente deste vazio.
Neste sentido não é mera coincidência o fato de que uma das drogas mais difundidas em certos círculos ser denominada “ecstasy”. Trata-se de um termo com uma conotação religiosa. Êxtase no sentido de uma alteração emocional profunda provocada por músicas, danças, gritos ou ingestão de bebidas e também atribuída a fatores externos inexplicáveis/sobrenaturais. Êxtase como estar fora de si, como fora de controle e totalmente embevecido e inebriado.
A cultura contemporânea tem como característica a satisfação imediata de todos os desejos. As pessoas não fazem mais projetos de médio ou longo prazo. Como dar sentido à vida se todas as coisas mudam tão rapidamente? Que projetos podem ser estabelecidos, se tudo é tão instável? A curtição do presente diante de um futuro instável parece ser bastante atraente.
A fé cristã procura apresentar uma perspectiva de sentido para a vida que ultrapassa uma mera “curtição” do presente. O Deus revelado em Jesus Cristo aponta para o seu reino como razão da existência. Na comunhão com Deus e com os seus filhos e suas filhas experimenta-se uma proposta de fé que se pauta pela vivência de valores importantes e fundamentais para a vida, a saber, a promoção da justiça e defesa da integridade da criação. A esperança da transformação da realidade da dor e do sofrimento move os cristãos a superar o dito popular-bíblico: Comamos e bebamos, que amanhã morreremos! Por isso a festividade pode ser experimentada como um alegre aperitivo de um futuro novo.
“Venha teu Reino, Senhor!
A festa da vida recria!
A nossa espera e ardor
Transforma em plena alegria!”
P. Rolf Schünemann
Publicado na edição 69 do Informativo dos Luteranos - fevereiro/2008