Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros” (1Jo 3.11)
Compreender é algo muito importante na comunicação para que ela alcance o coração das pessoas. René Descartes (1596 - 1650) nos fez refletir sobre a frase penso, logo existo”. No entanto, para nós Cristãos essa reflexão está incompleta, pois o verdadeiro sentido de nossa existência encontra-se na relação de comunhão com o próximo e com Deus. Quem sou eu? Perguntava-se Dietrich Bonhoeffer (1906 —1945), concluindo assim: seja o que for, Tu o sabes, ó Deus: sou Teu!”. Nesse sentido, a dúvida pode levar a descrença ou à crença. Duvidar nos leva a pensar e nos mostra que estamos aí. Porém, não nos diz o por quê. Assim sendo, o simples pensar não nos permite ainda compreender a verdade sobre nós.
E qual é a verdade? No Evangelho de João 1.14 lemos: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. Isso nos mostra que Deus se comunica ao ser humano. Para que haja plena comunicação dessa verdade, precisamos deixar que ela se torne “carne, intima, pessoal e atual em nós. É, pois, para nossa essência humana que Deus olha quando vem a nós, se encarna, nos aceita e acolhe assim como somos. Ele nos reconhece como dignos de sua misericórdia, apesar de sermos pecadores. E nessa comunicação somos justificados em nosso direito de aí estar. Nisto, podemos encontrar o propósito de Deus para nossas vidas. Somos libertados da tentação de ficar nos justificando. Não precisamos mais provar nada a ninguém. Podemos viver do amor que Deus nos comunica. Somos dignificados pela presença do Cristo que vive em nós e entre nós. A fé nos traz uma serenidade que nos permite ser quem somos: pessoas amadas por Deus que vivem da justiça do Cristo. Assim, podemos ter paz. Pois, nada pode nos separar desse Amor. (Rm 8.35)
A essência do ser (e não a aparência) precisa ser transmitida para que sejamos compreendidos naquilo que queremos expressar e testemunhar. É na comunicação do amor divino, na partilha, que o sentido de nossa vida cristã se revela (tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber”… - Mt 25.35). Note-se que, o cristão verdadeiro só encontra razão para sua existência quando estabelece vínculos com os demais. Ninguém é cristão de si, para si e por si só. Pois, ele é criatura - imagem do Amor que encontra seu destino no outro (veja 1Jo 4), a partir da comunidade. Nisto, conhecerão todos que somos discípulos do Cristo vivo (veja Jo 13.35). Viver na essência desse amor é aceitar ao outro como Cristo nos aceitou, é reconhecer o direito do outro estar aí (mesmo que não creia ou seja diferente de nós). É amá-lo como criatura de Deus e como próximo. Pois, somente amando as pessoas incondicionalmente é que conseguiremos comunicar o Evangelho em toda a sua profundidade.
Palavras impressionam, mas o que edifica é a ação. Porquanto, é na caridade, no amor que compreende as necessidades e fraquezas do outro, que se reconhece um/a verdadeiro/a Cristão/ã. Sabemos que a comunicação do Evangelho chegou ao seu alvo quando sentimos o que o outro sente, quando nos comprometermos com as dores e os sofrimentos das pessoas à nossa volta, quando perdemos a ânsia por julgar o diferente, quando paramos com a mania de autojustificação, quando nos envolvemos com a vida cotidiana das pessoas e quando nos comprometemos na luta evangélica por justiça, dignidade e paz. Nisto, a comunicação do amor alcança seu objetivo. Ela se encarna na realidade, tornando-se concreta em nós e, a partir de nós, para os outros, na vivência da fé. Porém, a mensagem de Deus requer que compreendamos ao outro e a nós mesmos; para que então essa justiça amorosa de Deus tenha lugar em nossos corações e mentes e se torne comunhão.
Pastor em Palmitos - SC