Comportamento: a tolerância é algo raro

Artigo

01/09/2007

O cenário no cotidiano brasileiro é rico em histórias repugnantes. A decadência relacional e o caos ético se concretizam na perversidade da violência sexual, na amplitude da corrupção legalizada, na delinqüência das esquinas e na violência miserável nas ruelas das cidades. A sensação é de que prevalecem atitudes de vida sem limites! Convive-se com os brindes do absurdo, sem direito a orientação confiável.

O mundo religioso brasileiro demonstra confusão similar. Há indícios de mediocridade da fé fruto de moralismos, faltam instrumentos para a interpretação contextual da Palavra de Deus. Isso não serve à edificação da comunidade, nem à novidade de vida e à sinalização do reino de Deus. A ênfase unilateral na religiosidade emocional destronou a razão humana. A afetividade e a razão não se excluem; antes, se completam e são companheiras.

Na Igreja Católica Romana, a sociedade vislumbra uma realidade religiosa que se manifesta no poder da hierarquia centralizadora. Nesse particular a vida de fé ocorre de forma submissa às exigências da confessionalidade religiosa, com a prerrogativa de ser única, a serviço da verdade e instrumento exclusivo da salvação humana.

O Pastor Presidente da IECLB, em posicionamento recente, acenou com desalento e desânimo. A ausência do bom senso e da autocrítica tem conseqüências na vida da pessoa. O clamor por respeito, segurança e tolerância se alastra. Os olhos da fé enxergam um horizonte diferente e permitem visualizar novas perspectivas de conhecimento. A motivação procede do Evangelho de Jesus Cristo, a boa notícia da liberdade e do convite ao espírito crítico. Se os discípulos calarem, as pedras se manifestarão. Ninguém poderá ser coagido pela força a submeter-se a uma única convicção religiosa, partidária ou ideológica. Vale o reconhecimento de Tomás de Aquino, quando enfatizou o espírito da liberdade da fé: credere voluntatis est. Crer é atitude espontânea, voluntária!

A ausência do respeito, enquanto direito fundamental de toda pessoa, conduz à ante-sala da licenciosidade e do convívio desregrado. Parece haver consenso: a tolerância tornou-se um produto raro. O dom da liberdade e a postura do espírito crítico promovem saúde e sinalizam tolerância respeitosa e solidária; isto vale nas comunidades e na sociedade em geral.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

O Caminho - 09/2007


Autor(a): Manfredo Siegle
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Natureza do Texto: Artigo
ID: 8774
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