Como queremos buscar a paz?

Artigo

23/09/2005


A palavra paz está sendo muito usada no Brasil nesses últimos tempos, principalmente desde o início do horário político pré-referendo. São dois lados defendendo suas opiniões diferentes, mas, por incrível que pareça, usando argumentos parecidos: todos dizem querer PAZ - o que difere é a forma como pretendem construí-la..

Cada pessoa precisa ouvir esses dois lados e então tomar sua própria decisão ao votar. Mas só para ajudar nessa reflexão, gostaria de deixar uma sugestão: não importando aonde você se encontre nesse momento, imagine uma arma na mão de cada pessoa que está perto de você agora! Isso faria você se sentir mais seguro realmente? Ou será que uma realidade com abundância de armas não nos faria sentir ainda mais ameaçados, pois qualquer mal-entendido poderia causar um conflito trágico?

Grande parte dos homicídios com arma de fogo é cometida por pessoas sem antecedentes criminais, em conflitos banais que acabam em tragédias, como, por exemplo, brigas entre cônjuges, entre vizinhos, no trânsito. Para se ter uma idéia, em São Paulo, as vítimas de latrocínio - matar para roubar - correspondem a menos de 5% das vítimas de homicídio (Secretaria de Segurança Pública - SP, 2004).

Também o risco de acidentes não pode ser ignorado, uma vez que no Brasil duas crianças (entre 0 e 14 anos) são feridas por tiros acidentais todos os dias (Datasus, 2002). Muitas vezes, ter uma arma aumenta o risco, não a proteção! Vale lembrar ainda que bandidos não compram armas em lojas, mas vão tomá-las nas casas de quem comprou. No Estado de São Paulo, segundo a Polícia Civil, das 77 mil armas apreendidas em 1998, 71.400 foram roubadas de seus donos originais.

A paz não é só uma palavra, mas é um compromisso de cada cristão. Não dá para fugir desse compromisso no dia 23 de outubro deste ano e em nenhum outro dia da vida. Não adianta votar e depois lavar as mãos. Paz se conquista e se constrói todos os dias. E nessa luta pela paz não existem garantias nem votando no sim e nem votando no não. Não existem garantias, mas existem opções de como queremos reagir a tanta violência que nos rodeia: com mais violência ou com o cessar fogo sempre que possível.

As armas não protegem e nem atacam por si só - elas são apenas ferramentas de agressão. Mas será que não existem outras formas de nos protegermos mais eficientemente do que comprando objetos que têm a única função de machucar outras pessoas? Será que não seria mais eficiente para nos proteger deixar de lado o medo de amar e de enxergar as outras pessoas como verdadeiros irmãos e irmãs em vez de ameaças em potencial?

Ver nas outras pessoas irmãos e irmãs pode não nos dar garantias para evitar ser de alguma forma abordado por bandidos, mas certamente nos trará mais liberdade em relação ao medo de viver do que qualquer arma pode dar. Ver nas outras pessoas semelhantes de bom coração até prova em contrário nos dará uma paz que arma nenhuma pode dar: a paz de espírito e de coração.

Carin Rahmeier
pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
na Paróquia Martin Luther
em Joinville - SC

Jornal A Notícia - 23/09/2005


Autor(a): Carin Rahmeier
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Natureza do Texto: Artigo
ID: 7637
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