A pandemia nos têm obrigado a permanecer em nossas casas, com nossa familía e para os que moram sozinhos nem mesmo isso. Percebemos que, além do risco biológico da contaminação, passamos a correr o risco de outras formas de adoecimento: os sofrimentos que vêm com a solidão. Nesse sentido, vai se tornando uma urgência, tão importante como as precauções com o contágio, o desenvolvimento de formas de estar junto que possam acontecer sem a proximidade corporal.
É possível estar presente junto ao outro sem estar fisicamente presente?
Sabemos que a proximidade física não garante que alguém esteja conosco.Todos passamos por experiências onde percebemos que a outra pessoa, apesar de estar de corpo presente, está distante, pensando em outras coisas, com o pensamento e os sentimentos muito longe de onde estamos. Apesar de próxima no espaço, a pessoa está longe. O que nos faz sentir que alguém está efetivamente JUNTO conosco?
Não apenas a atenção no que estamos falando. Quando quero me fazer humanamente PRESENTE junto ao outro preciso estar desejando estar com ele, com meu coração aberto a sentir repercussões em mim do que ele me traz; produzindo nele a confiança de que sua narrativa não é uma voz no deserto, mas encontra em mim um destino e um acolhimento.
Assim, a verdadeira presença se configura num corpo virtual compartilhado, sustentado pela confiança mútua, gerada pela identificação que o outro faz em mim de um porto para a sua mensagem, um abraço onde minha alma se oferece como a escrita que testemunhará esse encontro.
O encontro, mais que de um corpo material, necessita de um ato amoroso. Podemos ter um ato amoroso, mesmo através de uma comunicação áudio-visual. Trata-se de um encontro de nossas almas, do que temos de mais próprio, na comunhão de uma experiência vivida.
E é urgente nos exercitarmos nisso, agora mais do que nunca. Não só vírus matam. A solidão também.
Maurício Garrote - Médico Psiquiatra