Após o polêmico diálogo de Jesus com os fariseus a respeito da tradição, ele conversa em particular com os seus discípulos sobre a necessidade de ter uma tradição, mas compreendendo o seu significado e jamais fazendo dela um impedimento ao amor ao próximo. De nada adianta querer fazer tudo direitinho se falta amor a Deus e ao semelhante. Em seguida, como já havia acontecido noutras oportunidades, ocorre uma situação onde os discípulos percebem na prática o que significa colocar o coração e amar ao outro. O evangelista traz o seguinte relato...
JESUS PARTIU PARA OS ARREDORES DE TIRO E DE SIDOM. ENTROU NUMA CASA E NÃO QUERIA QUE NINGUÉM O SOUBESSE. CONTUDO, NÃO CONSEGUIU MANTER EM SEGREDO A SUA PRESENÇA. DE FATO, LOGO QUE OUVIU FALAR DELE, CERTA MULHER, CUJA FILHA ESTAVA COM UM ESPÍRITO IMUNDO, VEIO E AJOELHOU-SE AOS SEUS PÉS. A MULHER ERA ESTRANGEIRA. ELA ROGAVA A JESUS QUE EXPULSASSE DE SUA FILHA O DEMÔNIO. ELE LHE DISSE: DEIXE QUE PRIMEIRO OS FILHOS COMAM ATÉ SE FARTAR. NÃO É CORRETO TIRAR O PÃO DOS FILHOS E LANÇÁ-LO AOS CACHORRINHOS. ELA RESPONDEU: SIM, SENHOR! MAS ATÉ OS CACHORRINHOS, DEBAIXO DA MESA, COMEM DAS MIGALHAS DAS CRIANÇAS. ENTÃO, O MESTRE LHE DISSE: POR CAUSA DESTA RESPOSTA, VOCÊ PODE IR. O DEMÔNIO JÁ SAIU DA SUA FILHA. ELA FOI PARA CASA E ENCONTROU SUA FILHA DEITADA NA CAMA. O DEMÔNIO JÁ A DEIXARA.
Antes de tratar o fato em si, proponho uma reflexão bem atual. Na época de Jesus, as mulheres eram consideradas inferiores. Os judeus também evitavam misturar-se com estrangeiros. Havia preconceito sexual e racial. De quebra, também preconceito religioso. O mundo mudou, mas os preconceitos ainda existem. As mulheres ainda não ocupam o mesmo espaço que os homens. Por exemplo, percebam o número de mulheres na política. Quantas estão na nossa Câmara Municipal? Também dentro da igreja, existem denominações que não permitem mulheres ministras ou na liderança. Com respeito à raça, pergunto-me se trato com o devido respeito, se não deveria amar e me preocupar mais com os haitianos e venezuelanos que deixaram tudo para trás em busca de melhores condições de vida. Eles circulam entre nós. Lembro-me constantemente que os nossos antepassados também foram estrangeiros aqui no Brasil. Por fim, graças a Deus, lembrem-se de que vivemos numa nação que prevê liberdade religiosa. Pela fé, devo amar o outro, mesmo sendo diferente. Pela lei, devo respeitar a religião do outro. Por isso, reflita sobre as situações que nos cercam, aprenda com Cristo e coloque em prática o Evangelho, amando a Deus e ao outro. Ponto. Poderia terminar aqui o sermão.
Mas, voltemos para Sidom. Jesus procura retirar-se com os seus discípulos para uma região bem diferente. O atrito com os fariseus crescia dia a dia. O Mestre não queria conflitos. Antes da cruz, muito precisava ainda ser feito e ensinado. No isolamento, ele é descoberto. De fato, ele está bem ciente da situação, que pode servir de lição aos discípulos daquela época e também para a gente, hoje. Naqueles tempos, em hipótese alguma, um homem poderia conversar com uma mulher na frente de outras pessoas. Para complicar ainda mais a situação, ela era estrangeira e seguia outro deus. Na essência, era uma armadilha à impureza. Mas, Jesus não rejeita a oportunidade. Ele ouve e ajuda aquela mulher sofredora.
Hoje realizamos dois batismos na comunidade na firme convicção de que a fé é o melhor caminho. O rito é feito em amor e na esperança de uma sociedade abençoada por Deus. A mulher procura Jesus pleiteando uma questão familiar. A filha está possessa de espírito imundo. Ela precisa de ajuda para recuperar a menina. É o amor de mãe que deseja o bem da sua prole. Independente da época, é o desejo de todos os pais e famílias. Já tratamos deste assunto em cultos passados. Uma pessoa possessa é alguém fora do controle. Jesus veio e vem para salvar. O maligno quer somente destruir. Um jovem que perde o foco por causa de uma paixão, abandonando o conselho dos mais experientes. Um jovem que deixa de sonhar após alguma desilusão. Um jovem que só pensa na sua aparência externa, esquecendo-se do seu coração. Um jovem que deixa de planejar o futuro só para curtir a vida no momento. Um jovem que se entrega ao vício e à libertinagem. São inúmeras situações nas quais as pessoas estão endemoniadas. Você pode achar isso pesado. Mas, é a verdade. Só Jesus pode libertar. Só Jesus é capaz de dar foco à vida de alguém.
Como mãe, ela se coloca do jeito certo diante de Jesus. Ela se achega de joelhos. Ela intercede pela filha. Você ora por tua família? Você lembra em oração os teus afilhados? Você já agradeceu pelos teus pais, por tua família, por tua igreja? Humildemente, aquela mãe reconhece suas limitações e apela à fé. Ela vai ao lugar mais certo: Jesus! No primeiro momento, o Mestre reconhece sua “ilegalidade”. Ele devia estar lidando com os homens adultos e judeus. Mas, quando ela diz que sequer quer o “pão”, bastam-lhe somente as migalhas, o coração de Jesus amolece e, ao invés de uma repreensão, aparece espontaneamente um elogio: Mulher! A tua fé é exemplar. Mas, para quem? Aos discípulos que estavam vencendo o preconceito? Mas, também, para cada um de nós ainda hoje... Lembrando as palavras do apóstolo: “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11.6). Não são as tradições, sequer uma religião. Não são as minhas boas obras. Basta somente crer. A salvação acontece.
Por isso, termino o sermão com um desafio: Em oração e com muita humildade, coloque diante de Jesus os demônios que atormentam a tua vida, a tua família, as tuas amizades e a sociedade. Carregue para junto do Mestre o que te incomoda e deixa preocupado. Ele tem a solução. Ele é a solução. Quando Jesus ocupa o nosso coração tudo fica diferente. Sempre de novo se apresenta o desafio de colocarmos Jesus no centro da família e, se possível, da sociedade. A melhor forma de fazer isso é através do nosso testemunho. Que Deus nos abençoe. Amém!
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