Cinzas

06/02/2008

Escrevo esta reflexão na manhã da Quarta-feira de Cinzas. Mais tarde, teremos na Paróquia do ABCD um Ato Litúrgico em que as palmas recolhidas no Domingo de Ramos de 2007 serão queimadas. Com as cinzas será feito um sinal na testa das pessoas presentes e serão ditas as palavras: “Recorda-te que és pó, e ao pó retornarás”, ou então, “arrepende-te e crê no Evangelho”.

Fazendo isso, nos inserimos numa antiga tradição da igreja cristã ainda preservada em algumas igrejas luteranas e, em outras, esquecida. As cinzas já eram usadas nos tempos pré-cristãos, como sinal de humildade. No livro de Ester, lemos a história de Mardoqueu, que se vestiu com um saco e se cobriu com cinzas quando soube que um Decreto do Rei Asuer I (Xerxes, 485-464 antes de Cristo) da Pérsia tinha condenado à morte todos os judeus de seu império. Outros exemplos podem ser lidos em Jó (42, 6) e em Jonas (3, 5-6). Jesus, em Mateus 11, 21 também fala positivamente sobre o uso de cinzas como sinal de piedade, de arrependimento e de mudança de vida.

O sinal que as cinzas trazem é de sua nulidade. O que já queimou, já deu calor, já deu luz, já cumpriu com sua missão. Cinzas eram jogadas fora por não terem mais utilidade. Esta convicção está presente no rito da Quarta-feira de Cinzas. Qualquer esforço por conquistar a salvação, seja cumprindo a Lei de Deus, seja dedicando-se aos pobres e marginalizados, é inútil e descartável, tal como as cinzas. A Lei só tem valor na medida em que me mostra o que sou realmente e que não posso cumpri-la. Por não poder cumprir a Lei, eu deveria ser descartado e jogado fora, tal como as cinzas. Minha esperança, pois, está na fé em Jesus Cristo, em seu ato redentor na cruz.

Por esta razão, o rito das cinzas é colocado no início da Quaresma: um tempo de 44 dias antes da Sexta-feira Santa; um tempo para refletir sobre a inutilidade de meus esforços para salvar-me; um tempo para lembrar da minha transitoriedade e da minha morte. Estes elementos devem criar dentro de mim um espaço de liberdade para acolher o real significado da morte e da ressurreição de Jesus Cristo.

Que seja um tempo abençoado, em que o símbolo das cinzas nos acompanha e nos leva a uma profunda reflexão. Amém.

 

Pastor Carlos Musskopf ,  Pastor da IECLB na Paróquia do ABCD – Santo André/SP.

 


Autor(a): Sínodo Sudeste
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8351
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