Carta Pastoral sobre as eleições 2018 da Igreja Católica e Igreja de Confissão Luterana

04/09/2018

 

Você também está desanimado com os políticos do nosso país? Está sem ânimo para ir às urnas nas próximas eleições? O desânimo que atinge boa parte dos eleitores brasileiros é compreensível. Os últimos tempos têm sido marcados por denúncias de improbidade administrativa, corrupção, desvio de malas de dinheiro e de armações políticas com o objetivo de garantir o poder de alguns em benefício de poucos e prejuízo de muitos. No entanto, a Igreja de Jesus Cristo não pode se deixar vencer pelo desânimo, tampouco abrir mão do seu papel profético de denunciar situações que atentem contra a dignidade humana.

Um dos papéis da Igreja é justamente trabalhar para que toda a sociedade, incluindo os partidos políticos, se empenhe para que a vontade de Deus em favor das pessoas sofridas e exploradas perpasse as esferas jurídica, econômica e política.

A Igreja que se distancia da política, restringe o Senhorio de Deus e prejudica o bem-estar de todas as suas criaturas. Uma boa e justa ordem social faz parte da vontade de Deus. Segundo Lutero, um “bom governo” faz parte do “pão nosso”, pelo qual Jesus nos ensinou a interceder. Por isso, cabe insistir na responsabilidade das instâncias políticas e de todos os cristãos.

Somos Igreja de Jesus Cristo no Brasil e, portanto, corresponsáveis por aquilo que aqui acontece. Cremos que a verdadeira fé se expressa no amor e se traduz em ações em favor de tudo o que é necessário para a vida digna. Todos os cidadãos, independentes de sua confissão religiosa, fazem e sofrem as consequências da política.

Com a participação da Igreja e dos cristãos nas eleições podemos ajudar a constituir um bom governo. Fiscalizar as ações daqueles que elegemos e indicar projetos que correspondam ao Evangelho, devem fazer parte do nosso dia-a-dia. Portanto, fé e ação política não se excluem. Logo, o exercício do voto é de extraordinária importância para todos. Quem não se envolve no processo político e deixa de votar, colabora para a eleição de maus políticos. Se você optar por ficar “na sua”, deixando que tudo permaneça como está, estará aceitando a situação e colaborando com ela. Abra a sua Bíblia no livro de Juízes 9.7-16, e reflita sobre esta passagem sagrada. O que ela nos ensina?

Enquanto cidadãos católicos e luteranos, integrantes de um Município, Estado e País, podemos e devemos ser sal e luz no mundo (Mt 5.13 e 14). Mundo é onde vivemos: casa, escola, trabalho, córrego, bairro, cidade. Portanto, é dever de todo cristão envolver-se com política, questionando, propondo, causando mudanças e selecionando bons candidatos na hora de votar.

Inspirados no gesto profético do Papa Francisco, ousamos dizer: “Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (Evangelii Gaudium, 183).

 

O COMPROMISSO DO CRISTÃO NA DEMOCRACIA

Enquanto instituição, a Igreja não é partido, não faz política partidária, nem se permite ser usada como palanque partidário. Ela não tem um partido próprio, nem adota um partido como seu. Porém, é seu dever incentivar o cristão a se engajar e a participar da política partidária, levando aos partidos e às ideologias que os sustentam, as riquezas e os valores do Evangelho. Para tanto, o cristão precisa engajar-se em associações de moradores, sindicatos, cooperativas, entidades beneficentes e partidos políticos que tenham compromisso com o bem comum.

Quando o cristão se candidata para um cargo político, deve se afastar de suas funções eclesiais durante o período da campanha eleitoral, por três motivos: para ter mais tempo para se dedicar à candidatura; para não correr o risco de usar a função religiosa em benefício próprio; e para não ser acusado pelos adversários políticos de estar se beneficiando dessa situação.

O cristão tem uma Boa Notícia para anunciar a todos: o Evangelho. O mundo da política só tem a ganhar com a luz que receberá do Evangelho. O cristão consciente faz política, sim, porque ele não se cansa de buscar o bem comum e denunciar a politicagem, por ser ela um pecado contra o ser humano e contra Deus. A fé cristã deve iluminar a política, não substituí-la, nem demonizá-la.

 

NÃO CONFUNDA POLÍTICA COM POLITICAGEM

A palavra “política” vem do termo grego PÓLIS (cidade). A política é a condução da vida em sociedade. O político é o cidadão que vive em sociedade e que participa ativamente na organização e na vida dessa sociedade. Neste sentido, cada um de nós é um político. Para que a sociedade possa funcionar bem, os políticos (nós, os cidadãos) escolhem pessoas (os governantes) para conduzir os serviços de interesse comum e fiscalizam se esses serviços são bem realizados.

Politicagem é a má prática da política. A politicagem se define pela simples busca de poder e de regalias. Ela usa e abusa do povo para se enriquecer, legitimando o autoritarismo, tornando-se um jeito fácil de roubar. Em síntese, a política trabalha pelo bem comum e a politicagem em benefício próprio.

Somos todos seres políticos por natureza. Quando trabalhamos pelo bem comum, fazemos política. Quando só pensamos em nosso próprio bem, fazemos politicagem.

 

VOTE COM RESPONSABILIDADE

Estamos nos aproximando das eleições. Elas decidirão os rumos do nosso País e do nosso Estado para os próximos quatro anos. Procure escolher candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e estadual que tenham ficha limpa. É fundamental avaliar também se possuem conhecimento da função que irão desempenhar. Escolha candidatos que respeitam a família, que valorizam a educação de qualidade, a liberdade religiosa e o lazer sadio. Eleja pessoas que defendam saúde e previdência públicas de qualidade. Que defendam a vida e promovam o cuidado da Casa Comum, respeitando o equilíbrio da natureza e que estimulem o desenvolvimento sustentável, que gera oportunidades de trabalho para todos.

O futuro do nosso País e do nosso Estado está em suas mãos! Seu voto é importante. Não embarque na ideia de anular o seu voto, tampouco vote em branco ou deixe de votar. Votos brancos, nulos e abstenção não anulam a eleição, apenas colaboram para eleger candidatos indesejáveis e não compromissados com os valores do Evangelho*. Não troque o seu voto por favorecimentos pessoais, benefícios materiais, promessas ilusórias! Você também é responsável por uma sociedade mais justa e solidária.

Analise os candidatos, seu passado e seus projetos: suas características condizem com o Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo? Não seja corrupto: não venda ou compre voto! Não corrompa o candidato perguntando o que ele vai lhe dar em troca do seu voto! Pense mais no bem da população do que no seu próprio bem! Assim, você se beneficiará de um bom governo e de uma boa legislatura.

Faça a sua parte e estará contribuindo para o bem de todos. Seja honesto e cumpridor dos seus deveres! Não se espelhe em maus exemplos de desonestidade, mesmo que sejam de pessoas ditas importantes! Faça o bem a todos, sem distinção, com amor e honestidade! Faça a sua parte e não espere pelos outros.

 

Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias - Bispo Diocesano de Colatina

Dom Paulo Bosi Dal’Bó - Bispo Diocesano de São Mateus

Pastor Joaninho Borchardt - P. Sinodal do Sínodo Espírito Santo a Belém

 

 

Fontes:

http://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-4-ano-3/voto-nulo-e-novas-eleicoes

GRAF, Geraldo. RAMLOW, Leonardo. Nossa Igreja, Nossa Identidade. São Leopoldo. Sinodal.

Mensagens da CNBB; Estudos do NESP-BH 

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Âmbito: IECLB / Sinodo: Espírito Santo a Belém
Área: Ecumene
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Mensagem
ID: 48696
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