Carta pastoral sobre a Guerra - 2003

27/03/2003

Prezados irmãos e irmãs em Cristo,

A Presidência da IECLB, encorajada pelo Conselho da Igreja e pelos Pastores Sinodais, dirige-se às comunidades da IECLB para expressar sua profunda contrariedade com a guerra contra o Iraque, iniciada pelos Estados Unidos da América e países aliados. Expressa sua tristeza com os sinais evidentes de destruição e morte decorrentes dessa guerra arbitrária, insensata e desumana. Manifesta ainda sua solidariedade a todas as vítimas das ações bélicas em curso.

Como testemunhas de Jesus Cristo, o Príncipe da Paz, somos comprometidos com a causa da paz no mundo e no nosso país. Jesus chamou de felizes as pessoas que promovem a paz (Mateus 5.9). Nosso compromisso com a paz é conseqüência do fato de que em Cristo somos justificados e temos paz com Deus (Romanos 3.21ss). Desta justificação nasce uma nova vida e nova maneira de ser e de se relacionar com as pessoas e o mundo de Deus.
São condenáveis todas as formas de violência, fruto do pecado humano, como regimes ditatoriais e ações de terrorismo. Da mesma forma, a lógica da guerra é igualmente pecaminosa. Ademais, não reconhecemos a guerra como meio nem legítimo nem eficaz, muito menos moral, para atingir a paz e vencer o terrorismo. Ao contrário, seu resultado é um ódio cada vez maior.

Rejeitamos, portanto, a opção pela guerra como instrumento legítimo de política externa nas relações internacionais, sobretudo quando tal decisão é tomada, de forma unilateral, por nações ricas e poderosas. É inaceitável o argumento da guerra preventiva, conceito que deveria ser abolido definitivamente das relações internacionais. Infelizmente, não foram esgotadas nem de longe as vias diplomáticas possíveis, no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a fim de se evitar a opção bélica. Apoiamos a posição do Governo brasileiro em favor da resolução de conflitos internacionais por meios pacíficos e diplomáticos no âmbito da ONU.

Quanto aos aspectos religiosos e teológicos, ficamos também chocados com o abuso constante na invocação do nome de Deus, com o objetivo claro de legitimar o uso das armas. Rejeitamos toda e qualquer noção de guerra santa. Deus é um “Deus de amor e de paz” (2 Coríntios 13.11). Preocupam-nos, igualmente, as conseqüências da atual guerra para as relações inter-religiosas, sobretudo, entre cristianismo e islamismo.

Além de afetar profundamente as relações diplomáticas, em âmbito global, a guerra tem inaceitáveis conseqüências humanitárias e ecológicas. Entre elas, podem ser mencionadas, como já somos testemunhas, a inaceitável morte de civis e militares, em número imprevisível, o aumento significativo de refugiados e despossuídos, bem como grave destruição urbana e ambiental.

Nos associamos, por isso, às igrejas cristãs do nosso país, e de todos os continentes, que se opõem veementemente à opção pela guerra e se colocam decididamente como testemunhas da paz. Apoiamos as diferentes iniciativas, na nossa igreja e em nosso país, que afirmam a causa da paz, como, por exemplo, as badaladas dos sinos nas comunidades cristãs, as vigílias e as celebrações ecumênicas pela paz.

Por fim, o Conselho da Igreja decidiu de agora em diante estabelecer regularmente assuntos e motivos para intercessão em todos os cultos na IECLB, inclusive com uma formulação comum a toda a igreja. Assim, neste momento, solicitamos a todas as comunidades da IECLB para que, em todos os seus cultos oficiais, enquanto perdurar a guerra, incluam uma intercessão em favor da paz, e que na mesma conste a seguinte petição: “Clamamos a ti, Deus da paz, pelas vítimas desta injusta guerra”.

Na paz de Cristo,

Dr. Walter Altmann
Pastor Presidente
 


Autor(a): Walter Altmann
Âmbito: IECLB / Instância Nacional: Presidência
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Manifestação oficial
ID: 12551
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