Carta da Direção da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB às Autoridades Responsáveis pela Nação Brasileira

16/03/2017

Carta da Direção da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB
às Autoridades Responsáveis pela Nação Brasileira


Disse ainda o Senhor: Certamente vi a aflição do meu povo (...)
e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhes o sofrimento (Êxodo 3.7).

Movida pelo Evangelho de Jesus Cristo, sabendo-se incumbida da tarefa profética, zelando pelo respeito à justiça em favor da paz, a Presidência da IECLB, juntamente com Pastoras e Pastores Sinodais, recorda o que tem sido expresso em cartas pastorais no ano que passou, e admoesta as autoridades.

¨Há um clima de crescente tensão. Em lugar da palavra são colocados gritos, empurrões. Cresce o confronto a qualquer custo. Será que estamos esquecendo o que conquistamos a duras penas? Cansamo-nos da bendita oportunidade de viver a democracia que se constrói com diálogo? Afinal, a democracia não está à venda! É nossa convicção de que somos livres, por graça divina, para cuidar bem desse bem!¨ (Carta Pastoral de Março de 2016).

¨Vivemos momentos de muito confronto. Crescem assustadoramente os gestos de intolerância, agressividade e violência. Nesse contexto, como evitar o confronto pelo simples confronto? Quem ganha ou lucra em uma sociedade polarizada?¨ (Por ocasião do Dia da Reforma, em 31.10.2016).

“Para onde estamos indo? Nosso atual cenário político é tal que não sabemos o que poderá nos surpreender daqui a algumas horas (...) A democracia no Brasil é frágil, e ela está ferida. Historicamente, tivemos uma sistemática fragilização das instituições sob as quais a democracia se sustenta e é promovida, enquanto sistema de Governo. E hoje não é diferente, mas com o agravante de lesar a democracia como forma de cidadania” (Carta Pastoral de 15.11.2016).

Em 2017, lamentavelmente, aumenta o receio de que o Brasil caminha em direção ao abismo. Para exemplificar, focamos o tema da reforma da Previdência. “Há quantas décadas ouvimos que recursos desse caixa são desviados para viabilizar outros projetos. Há quanto tempo ouvimos que é incalculável o montante de contribuições ao INSS que é sonegado. O noticiário é farto em dados que denunciam aposentadorias astronômicas para uma minoria privilegiada. Afinal, como os recursos pagos à Previdência são administrados?” (Carta Pastoral de novembro passado).

Enquanto ecoam, e de forma crescente, esses questionamentos em todo o território brasileiro, vicejam notícias de que assuntos diretamente relacionados à vida da população sofrida e marginalizada, como os que estão implicados na reforma da Previdência, estão sendo avaliados e decididos em meio a negociações e manjares pouco comprometidos com a superação da aflição da população (Amós 6.6). Aprofunda-se o escândalo da corrupção. A legitimidade dos atuais legisladores está abalada na sua essência, mesmo com exceções. Que autoridade lhes resta para revisar e definir questões da amplitude de uma reforma trabalhista e previdenciária, que irá impactar novamente naqueles setores da sociedade já fragilizados? O descolamento da classe política do povo brasileiro é notório. Se sobra alguma relação, ela é cínica e dissimulada. Diante do quadro reinante, a cantilena de Martim Lutero soa como se tivesse sido composta no ano do Jubileu da Reforma, em 2017: “Desde o início do mundo, um príncipe [pessoa instituída de autoridade política] sábio é ave rara, e um príncipe honesto, mais raro ainda”.

Diante do quadro real que a sociedade brasileira assiste, particularmente em vista do tema da reforma da Previdência, a IECLB dirige-se aos e às integrantes do Congresso Nacional, estendendo o apelo ao Executivo e ao Judiciário, e afirma enfaticamente: a reforma da Previdência não pode ser objeto e resultado de acordos e conchavos políticos. Essa reforma deve ser debatida pela sociedade brasileira, que tem direito à transparência e ao acesso aos números e dados da Previdência, bem como à sua gestão. Sem isto e em meio a informações contraditórias e parciais, não é possível confiar nas propostas apresentadas.

A IECLB reafirma a importância do Estado laico. Bem por isso, sem confundir Igreja e Estado, mas sabendo da sua responsabilidade pública derivada do compromisso com o Evangelho de Jesus Cristo, a IECLB admoesta as autoridades diante do quadro brasileiro com a Palavra do Senhor: Executai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos do opressor; não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar (Jeremias 22.3).

Foz do Iguaçu/PR, 16 de março de 2017.

Pastor Dr. Nestor Paulo Friedrich - Pastor Presidente
Pastora Sílvia Beatrice Genz - Pastora 1ª Vice-Presidente
Pastor Inácio Lemke - Pastor 2º Vice-Presidente
Pastora Dimuht Marize Bauchspiess, Pastora Sinodal do Sínodo da Amazônia, com sede em Cacoal/RO
Pastor Dalcido Gaulke, Pastor Sinodal do Sínodo Brasil Central, com sede em Brasília/DF
Pastor Bruno Ari Bublitz, Pastor Sinodal do Sínodo Centro-Campanha-Sul, com sede em Santa Cruz do Sul/RS
Pastor Jacson Homero Eberhardt, Pastor Sinodal do Sínodo Centro-Sul Catarinense, com sede em Florianópolis/SC
Pastor Joaninho Borchardt, Pastor Sinodal do Sínodo Espírito Santo a Belém, com sede em Vitória/ES
Pastor Nilo Orlando Christmann, Pastor Sinodal do Sínodo Mato Grosso, com sede em Cuiabá/MT
Pastora Ma. Tânia Cristina Weimer, Pastora Sinodal do Sínodo Nordeste Gaúcho, com sede em Estância Velha/RS
Pastor Vilson Emilio Thielke, Pastor Sinodal do Sínodo Noroeste Riograndense, com sede em Três de Maio/RS
Pastor Inácio Lemke, Pastor Sinodal do Sínodo Norte Catarinense, com sede em Joinville/SC
Pastor Odair Airton Braun, Pastor Sinodal do Sínodo Paranapanema, com sede em Curitiba/PR
Pastor Ricardo Cassen, Pastor Sinodal do Sínodo Planalto Rio-Grandense, com sede em Carazinho/RS
Pastor Me. Edson Edilio Streck, Pastor Sinodal do Sínodo Rio dos Sinos com sede em São Leopoldo/RS
Pastor Lauri Roberto Becker, Pastor Sinodal do Sínodo Rio Paraná, com sede em Toledo/PR
Pastor Geraldo Graf, Pastor Sinodal do Sínodo Sudeste, com sede em São Paulo/SP
Pastora Roili Borchardt, Pastora Sinodal do Sínodo Sul-Rio-Grandense, com sede em Pelotas/RS
Pastor Jair Luiz Holzschuh, Pastor Sinodal do Sínodo Uruguai, com sede em Chapecó/SC
Pastor Breno Carlos Willrich, Pastor Sinodal do Sínodo Vale do Itajaí, com sede em Blumenau/SC
Pastor Gilciney Tetzner, Pastor Sinodal do Sínodo Vale do Taquari, com sede em Teutônia/RS
 

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