Sempre se diz que quem tem amizade, fala a verdade, não mente, corrige, e tem toda a abertura para chegar do jeito que for, que a amizade resiste a tudo isso.
Temo que não. A amizade precisa ser cuidada, com zelo, com carinho, com dignidade. Amizade, que não é tratada com respeito, começa a estragar, começa a deixar de ser amizade.
Há algumas amizades que nos seguem a vida inteira. Nada de visitas constantes, nada de telefonemas prolongados, mas em determinados momentos, quando se reencontra, de forma casual ou programada, a conversa flui, os segredos são partilhados, a vida é contagiada com a graça da intimidade. Outras amizades não resistem a longos períodos sem notícias, contatos.
Lembro de mulheres que acompanharam Jesus, nos relatos do Novo Testamento. O acompanhamento a Jesus tornou-as próximas, talvez, entre si. Mas elas eram amigas de Jesus. Por serem amigas de Jesus, o acompanhavam. Ele as procurava. Elas o serviam. Ele as curava, consolava. Elas o fortaleciam, preparavam-no para a morte. Ele as salvou. Elas levaram adiante a mensagem da ressurreição para outras pessoas.
A amizade não tornou Jesus igual às mulheres, nem as tornou igual a Ele. Ele era diferente de cada uma, e com certeza, cada uma era diferente entre si.
Quando a amizade quer tornar a pessoa com quem nos relacionamos, alguém diferente do que é, deixa de ser amizade para se tornar vínculo empregatício, vínculo de propriedade. A amizade percebe como é a pessoa com quem nos relacionamos e vai aceitando seu jeito de ser, sua forma de viver. Ao mesmo tempo, a amizade vai curar feridas que são feitas até mesmo na família, a amizade vai consolar perdas e vai perdoar atitudes que trazem perda...
É interessante perceber que a amizade não é automática. Nós nos relacionamos bem com nossas amizades, mas nem por isso as amizades destas são extensivas a nós. Isso mostra quanto selecionamos e somos selecionadas em nossas amizades. Os amigos e as amigas de Jesus nem sempre permaneceram sendo amigos e amigas. Houve acusações e desavenças entre essas pessoas.
Em comunidade, nosso jeito de ser, às vezes, exclui outras pessoas. Nossos gestos, nossas palavras nem sempre são aceitas automaticamente. Por isso mesmo, vida em comunidade é aprendizado de convivência. Não somos pele da mesma pele, carne da mesma carne. Somos diferentes. Comunidade é exercício de convivência. Mas, por isso mesmo, é lugar de se colher boas amizades. Nunca uma igual à outra. Sempre diferentes. Mas que levam a Boa-Nova da ressurreição adiante. Graças a Deus!
Pa. Margarete Emma Engelbrecht