Canto do fundo do coração - Atos dos Apóstolos 16,23-34

Prédica proferida na Capela de Cristo no Domingo Kantate, 06/05/2012

06/05/2012

Atos dos Apóstolos 16,23-34
23 Depois de baterem muito neles, as autoridades jogaram os dois na cadeia e deram ordem ao carcereiro para guardá-los com toda a segurança.
24 Depois de receber essa ordem, o carcereiro os jogou numa cela que ficava no fundo da cadeia e prendeu os pés deles entre dois blocos de madeira.
25 Mais ou menos à meia-noite, Paulo e Silas estavam orando e cantando hinos a Deus, e os outros presos escutavam.
26 De repente, o chão tremeu tanto, que abalou os alicerces da cadeia. Naquele instante todas as portas se abriram, e as correntes que prendiam os presos se arrebentaram.
27 Aí o carcereiro acordou. Quando viu que os portões da cadeia estavam abertos, pensou que os prisioneiros tinham fugido. Então puxou a espada e ia se matar,
28 mas Paulo gritou bem alto: Não faça isso! Todos nós estamos aqui!
29 Aí o carcereiro pediu que lhe trouxessem uma luz, entrou depressa na cela e se ajoelhou, tremendo, aos pés de Paulo e Silas.
30 Depois levou os dois para fora e perguntou: - Senhores, o que devo fazer para ser salvo?
31 Eles responderam: Creia no Senhor Jesus e você será salvo - você e as pessoas da sua casa.
32 Então eles anunciaram a palavra do Senhor ao carcereiro e a todas as pessoas da casa dele.
33 Naquela mesma hora da noite, o carcereiro começou a cuidar deles, lavando os ferimentos da surra que haviam levado. Logo depois ele e todas as pessoas da sua casa foram batizados.
34 Em seguida ele levou Paulo e Silas para a sua casa e lhes deu comida. O carcereiro e as pessoas da sua casa ficaram cheios de alegria porque agora criam em Deus.

Estimadas irmãs, estimados irmãos!

I. Testemunho perigoso: Paulo e Silas não estão na cadeia por fazerem algo de errado. Eles estão lá porque se empenharam em prol da vida verdadeira: Paulo havia curado uma mulher cuja doença divertia as massas e rendeu dinheiro para família dela. Eles acabam acusados, torturados e presos. Mexeram com o interesse de alguns. Estes estavam lucrando com a desgraça da mulher, então esta tinha que permanecer doente. Estão na cadeia porque testemunharam a sua fé. O Povo ficou nervoso porque passou a acreditar que isto iria afetar as bases do seu sustento. As coisas precisam ficar tortos, errados e doentes porque sempre alguém se beneficia. Paulo e Silas pagam um preço alto por não compartilharem com esta ideia.
Hoje normalmente não vamos para cadeia se testemunharmos nossa fé mas isto talvez conhecemos que as coisas precisam permanecer erradas porque sempre alguém ganha com isto. Existe isto já na família. É comum haver aquela ovelha preta que no fundo nem pode melhorar porque tiraria dos outros a certeza de serem melhores. Vivemos numa sociedade que não persegue seriamente o crime (política de segurança não ganha eleições no Brasil) porque aparentemente se tem medo de perder algo com isto. No mercado religioso temos a exata situação do texto bíblico: Lucra-se muito com a desgraça de alguns coitados doentes psíquicos que toda semana vão para a frente para algum exorcismo para servirem de divertimento para os outros. Mas também existe este mecanismo na igreja do nosso feitio. Sempre alguém leva a culpa porque as coias não vão para frente da forma esperada: O pastor, a diretoria, os membros descomprometidos, até a crise econômica. Parece mais cômodo não assumir cada um a sua parte mas permanecer em marasmo e indiferença.
Paulo e Silas puseram a cara para bater e pagaram um preço alto para isto. Normalmente preferimos ficar calados com medo das consequências, mas aqui podemos olhar o que acontece quando alguém sai da conivência e concentra-se na sua fé.

II. O saber profundo: A prisão é de segurança máxima. Immobilizados, judiados em situação sem chance, Paulo e Silas começam a cantar hinos de louvor. A primeira vista parece ser um pouco kitch. Será que foi isto mesmo? Será que isto faz sentido? As perguntas vem, é importante que é possível sair o canto mesmo nesta situação. É possível porque eles carregam mesmo nesta situação desesperada o saber profundo no coração que esta não é toda a realidade. A prisão não aboliu o amor de Deus, não invalidou as experiências de fé que tiveram. É a memória da salvação que faz com que o canto deles não engasgue. Isto não acontece de forma automática. Existe? Talvez conhecemos momentos onde o canto se abre caminho apesar das aparências contrárias. Acontece comigo as vezes debaixo do chuveiro. Acontece com a minha sogra lavando roupa no tanque as 6 da manhã. Acontece com você?
É comum na situação de aflição surgir a desunião. Paulo, porque você tinha que curar esta mulher. Você é um irresponsável! Silas poderia assim falar para Paulo e em vez de louvor teríamos briga e lamentos. É comum acontecer isto. É a forma mais segura de se afundar de vez. Acontece muito na vida pessoal. Lembro da mulher que perdeu o marido. É não se levanta mais, passa dia e noite brigando porque ele a deixou. Ela acha que o amor desapareceu da vida dela. Se ela não se cuidar ela vai para perto dele daqui a pouco. O ditado diz: “Quando na casa não tem pão todo mundo grita e ninguém tem razão.” Isto vale sobretudo também para vida em comunidade. Quando as coisas não vão bem ouvem se acusações mútuas, no fim é tudo culpa da diretoria e de resto do Pastor.

III. Novas perspectivas: Aqui podemos aprender como se faz diferente: A memória da salvação une e resulta em louvor. Isto tem consequências. Estas aqui na história são muito bombásticas. Eles saem da prisão espetacularmente, são absolvidos, e criam uma nova comunidade com o carcereiro. É tão contundente que isto assusta um pouco. Provavelmente não temos experiências tão bombásticas para apresentar. Alguém pode achar que isto é do reino da fantasia e não se aplica a nossa realidade.
Mas isto seria um chute muito curto. O louvor em conjunto já faz com que se assume uma nova perspectiva onde não mais a limitação da situação e da minha pessoa estão no centro das atenções mas as possibilidades que Deus reserva para a vida. Quando arriscamos olhar juntos para além da realidade crua e cinzenta isto tem consequências. Esta comunidade aqui é prova que isto é possível. Bastante já se ouviu que isto aqui é impossível, inviável que até muito membro passou a acreditar nisto. Me lembra de alguém que recomendou domingo de manhã na porta desta Capela a um casal que havia descido de um carrão importado de seguirem para uma outra igreja grande e vistosa, tanta desânimo tinha com este lugar.... Nos concentramos no louvor de Deus e na gratidão pela vida e as coisas começaram a mudar. Podemos escrever mais capítulos nesta história. É pela fé que estamos aqui e é pela fé que vamos permanecer.
Amem.

P. Guilherme Nordmann - w.nordmann@gmail.com


Autor(a): P. Guilherme Nordmann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Vila Campo Grande - São Paulo-SP
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 23 / Versículo Final: 34
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 16454
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