Brasil: Construir pontes em tempos desafiantes

Entrevista com Sílvia Genz, Pastora Presidente da IECLB

01/03/2019

Pastora Silvia Genz - Foto LWB - A. Weyermüller
Pastora Sílvia Genz Presidente, e Pastores Odair Braun (dir.) e Mauro de Souza (esq.), 1º e 2º vice-presidentes da IECLB
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Em 15 de dezembro de 2018, a Rev. Sílvia Genz assumiu o cargo de pastora presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Em uma entrevista à Federação Luterana Mundial (FLM), ela fala sobre seu papel de liderança, os desafios enfrentados por sua igreja e os atuais desenvolvimentos no país.

Na década de 1980, você estava entre as primeiras mulheres a serem ordenadas em sua igreja. Agora você é a primeira presidente feminina da igreja. O que isso significa para você?

Sim, sou a primeira mulher a ser eleita presidente da IECLB. Eu sinto que é um chamado para aprofundar meu ministério na IECLB. Em 1983, comecei como pastora em uma congregação. Sou grata a Deus por poder trabalhar na IECLB, em uma igreja que ordena mulheres e as envia para servir as igrejas locais.

Desde as eleições do ano passado o Brasil está passando por tempos turbulentos. Qual o impacto disso na IECLB?

Temos que observar que o novo governo também é apoiado por muitos dos membros da nossa igreja. Isso está levando a tensões nas congregações entre aqueles que votaram no atual Presidente do país e aqueles que se opõem a ele. Em alguns casos, chegou ao ponto de as famílias não celebrarem mais o Natal juntos ou pastores terem seus contratos interrompidos por causa de sua atitude política.

Essa não é uma situação fácil para uma igreja e para a sua liderança…

Temos que falar e agir com muito cuidado para não polarizar ainda mais os nossos membros. O tema anual da IECLB baseia-se em João 14:27. São as palavras de Jesus “Minha paz eu vos dou”. Nós queremos criar espaços nos quais as pessoas possam trocar ideias sobre como construir pontes entre umas e outras. Divisão, conflito e ódio nas famílias, na comunidade e na sociedade devem ser superados.

Nós queremos criar espaços nos quais as pessoas possam trocar ideias sobre como construir pontes de umas com as outras. Divisão, conflito e ódio nas famílias, na comunidade e na sociedade devem ser superados. — Sílvia Genz, Pastora Presidente, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
Entre os nossos pastores, concordamos que vamos prosseguir com o nosso trabalho como de costume e não participar de todos os debates desencadeados nas mídias sociais. Elas estão frequentemente espalhando rumores e acusações que devem ser verificados primeiro a respeito de sua veracidade.

Como você avalia os desenvolvimentos na sociedade civil brasileira sob o atual governo?

Existem vários problemas com os quais estamos preocupados, como a nova legislação que facilita a compra de armas. Nós nos manifestamos resolutamente contra isso como uma igreja, porque as armas não servem à vida - elas só fortalecem o ódio e a violência na sociedade.
De modo geral estamos vendo que os direitos humanos recebem menos e menos respeito. Por exemplo, o status especial dos povos indígenas no Brasil foi reduzido. Esses grupos geralmente resistem ao desmatamento extensivo na Amazônia. Mas o novo governo quer abolir as restrições ambientais e liberar áreas protegidas na Amazônia para fins comerciais. Além disso, existe a ameaça de se retirar do Acordo Climático de Paris.

Em janeiro, uma barragem rompeu-se numa mina de minério de ferro em Brumadinho, no Estado de Minas Gerais, liberando lodo tóxico que enterrou os assentamentos e centenas de pessoas perderam suas vidas. Uma comunidade da IECLB também foi afetada. Como você está respondendo a esse desastre?

''É fedorento aqui'', é o que o nosso pastor local relatou. A lama estava contaminada com produtos químicos e foi despejada sobre uma grande área, enterrando pessoas, animais e casas. Muitas famílias da região perderam parentes. Estamos orando por eles em particular.
Um funeral ecumênico foi realizado no dia 9 de fevereiro. Convidamos pessoas de outras partes do país a escrever cartas de condolências e solidariedade aos enlutados, a fim de acompanhá-los em sua dor. Nilton Giese, nosso pastor em Belo Horizonte, diz que um culto memorial será realizado na Páscoa. A campanha de cartas será mantida até 8 de abril. Quem quiser participar pode enviar sua carta para:

Comunidade Luterana - IECLB - em Belo Horizonte
Rua Dona Salvadora, 37
Bairro Serra
30.220-230 - Belo Horizonte - MG
Brasil

Um ponto de grande preocupação é que existem mais 35 barragens desse tipo na região. Nós não sabemos exatamente o quanto elas são seguras. Como igreja, defendemos que se atenham à legislação e aos regulamentos existentes. Isso se aplica à segurança de barragens e igualmente à indenização das vítimas de tais desastres.

O que as relações com igrejas e organizações parceiras no país e no exterior significam para você - assim como o fato de a IECLB fazer parte de uma comunhão luterana global?

É encorajador ver que outros se interessam tanto pelos desenvolvimentos no Brasil e em nossa igreja. Sabemos que não estamos sozinhos, mas inseridos em uma enorme rede. O diálogo com nossos parceiros nos leva mais longe quando está ao nível dos olhos e baseado no respeito mútuo. Dessa forma, boas ideias podem crescer - tanto conosco no Brasil como com nossos parceiros!


Fonte: Federação Luterana Mundial

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