Azáfama

08/02/2011

No final do ano passado ouvi a seguinte frase: “nossa, esse ano passou voando!”. Foram jovens, adultos e idosos que a pronunciaram. E a pergunta que todos fazem é: “o que está acontecendo com o tempo? Parece que hoje ele está passando mais rapidamente do que há anos atrás”.


Falamos sobre esta pergunta em nossos grupos de estudo bíblico. E lá para criar curiosidade iniciamos com outra pergunta: “será que esta sensação de que o tempo está passando rápido demais não tem a ver com a nossa azáfama”. E o pessoal logo reagiu: “azáfama, o que é isto? Parece até nome de remédio!”. Explico: azáfama é uma palavra de nosso português. Está no dicionário. Não a usamos nos dias de hoje. Seu significado é: pressa, agitação.

Você certamente sabe o que é viver com pressa e agitação. Isto está tão enraizado em todos nós que se telefonamos para alguém vamos logo perguntando: “e aí fulano/a, como está a correria?”.

Correria, pressa, agitação. O que causa tudo isto? Alguém disse: “é o nosso jeito moderno de viver”. Mas será que é só isto, um estilo de viver de nossos tempos? Será que não estamos sendo pressionados por algo que, sem que percebamos, nos domina e causa todo este jeito de viver quase sem paradas para um descanso saudável?

De um lado o que concorre para isto é o seguinte fator: tudo em nossas vidas gira em torno do dinheiro. Tudo tem um valor estipulado. Nós não conseguimos fazer praticamente mais nada sem dinheiro.

Ora, para termos dinheiro em nossa conta bancária, que é uma necessidade de todos nós, procuramos nos aperfeiçoar para trabalhar em empregos com melhores salários. Estudamos e continuamos estudando. Por tabela nossos filhos são exigidos no estudo como nunca. Nós procuramos prepará-los para a vida, ou seja, que tenham um bom emprego no futuro.

E, falando de filhos, temos notado uma diminuição sensível nos batismos em nossas comunidades. Os casais optam por casar mais tarde, pois tem que se dedicar mais tempo ao estudo. Depois que casam pensam em ter apenas um filho ou filha, pois também eles têm um custo. Escola, transporte, vestimentas, material escolar, tudo isto sai caro!

Vivemos uma situação no mínimo estranha. Como cristãos todos conhecemos o terceiro mandamento: “santificarás o dia de descanso”. Isto significa reservar tempo no domingo para participar no culto. O descanso se dá desta forma, ouvindo a palavra de Deus que nos dá condições para vivermos melhor a próxima semana, mês que vem, etc... Mas, se vamos ao culto, esperamos que o pastor ou a pastora seja breve. Culto com apenas uma hora já está bom demais, pois depois temos vários outros compromissos. Isto se não tivermos que atender umas duas ou três vezes o celular durante o culto.

Se pensarmos que viver com correria, pressa e agitação são um mal de nossos tempos, confiram Lucas 10. 38-42. Ali está a conhecida história de Marta e Maria. Ela fala dos tempos de Jesus há dois mil anos atrás. Naquele tempo o mundo era outro. Extremamente devagar se o compararmos com o nosso. Mesmo assim, ao receber o Senhor em sua casa, Marta permanece do jeito que sempre foi: agitada e ocupada com muitas tarefas. Ela não agiu assim para mostrar para Jesus: “viu, olha para mim e veja quanto eu trabalho e me esforço”. Mas Maria, por outro lado, encontrou tempo para permanecer aos pés de Jesus.

No decorrer da história a atitude de Maria é elogiada por Jesus Cristo. Marta, porém, recebe dele uma orientação: “Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas”. (Lucas 10. 41).

Conclusões apressadas sobre este texto, evidentemente, podem ser feitas. Uma delas é achar que Jesus Cristo está incentivando a preguiça ao elogiar a atitude de Maria. Ligada a esta é termos pena da Marta. Pobre Marta, tão trabalhadeira e ainda leva uma “chamada” de Jesus. Outra que surge com freqüência é que temos que ser Marta e Maria ao mesmo tempo. Eu já acho que não: temos que viver e trabalhar sabendo agir como a Maria. Não podemos nos dar ao luxo de continuar sendo inquietos e preocupados. Viver assim sempre vai suplantar o “quedar-se aos pés do Senhor”.

O Senhor não está aqui incentivando para que vivamos na preguiça e nos aproveitemos do trabalho dos outros. O ensinamento aqui é que temos que aprender a agir como Maria em nosso dia a dia. Inquietação e preocupação impedem isso. Viver assim tanto pode denunciar uma breve incapacidade de se organizar para ter um dia mais proveitoso e sem tantos compromissos. Ou um estado doentio em que não conseguimos mais distinguir o que é importante do que não é. Somos tomados pela ansiedade e preocupação. E para estes casos é preciso sensatez e buscar ajuda. Não basta apenas sabermos que somos assim, temos que tomar medidas para mudar o nosso jeito de ser.

Jesus propõe uma forma de agir para dar mais equilíbrio à nossa vida. Saber parar para meditar, orar. Relembrando do terceiro mandamento acrescento: e também participar do culto e de alguma atividade em nossa Comunidade colaboram em muito para este equilíbrio. E para que isto aconteça é preciso criar hábitos saudáveis. Mas é preciso ser insistente no criar estes hábitos. É como escovar os dentes. Levamos tempo até aprender a importância deste hábito diário. E o fazemos quer chova ou faça sol. Quer estejamos ocupado ou não. Quer estejamos de bom humor ou não. Não deixamos simplesmente nada interferir nesta questão, pois sabemos que se não o fizermos nós e apenas nós seremos prejudicados.

Finalizando: quem aprende a se aquietar como já dissemos, tem melhores condições de enxergar a vida a seu redor. Neste sentido chamo a atenção para o contexto em que a passagem de Marta e Maria se encontra. Antes desta passagem vem a parábola do Samaritano (Lucas 10. 25-37). Alguém excessivamente ocupado, preocupado e agitado, não terá tempo para notar o próximo, logo ali, que precisa de auxílio.

Já que falamos de contexto, após os versículos de Marta e Maria vem a Oração Dominical (ou do Pai Nosso). Também isto passará sem ser percebido ou sem ser considerado como importante, pois a azáfama toma conta da pessoa e interfere em suas ações.

Jesus Cristo com sua Palavra quis libertar Marta de sua inquietação e preocupação. Também a nós Ele quer libertar. Quem é liberto não vai simplesmente se acomodar e dizer: “nossa vida é agitada mesmo, não há nada que possamos fazer”. Será, isto sim, uma pessoa que percebe a realidade a sua volta. Se tornará, cada vez mais, alguém que sabe da importância de se quedar aos pés de Jesus! E então, com criatividade, buscará equilíbrio para seu viver.

P. Renato Gerber, Pastor da IECLB
no bairro Pires, Limeira/SP

 


Autor(a): Renato Gerber
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8777
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