Autismo: uma experiência

Subsídio para reflexão

12/08/2015

Autismo: uma experiência

Subsídio para reflexão

Ler Mc 4.35-41

Lembro daquela tarde, fevereiro de 2014. Aguardávamos ansiosos, eu e minha esposa Denise, o Médico Neurologista terminar... a leitura do parecer que a Psicóloga havia feito sobre o nosso filho mais novo. Davi, naquele momento, tinha um ano e sete meses de idade. Após a leitura silenciosa, com uma voz terna, ele nos disse: “o filho de vocês tem autismo, autismo moderado. Mas está em processo de tornar-se grave”. Senti o coração bater mais rápido. E agora? Como vão ser as coisas? Lembro que voltamos da consulta em silêncio, tentando entender o que isso significaria em nossas vidas.

Davi era um menino diferente, sabíamos disto. Ele não falava. Não interagia conosco e nem com o seu irmão, Samuel, dois anos mais velho. Tinha um olhar perdido e não mirava os nossos olhos. Era capaz de ficar sentado na frente da televisão uma manhã inteira, sozinho, fazendo movimentos repetitivos com o tronco, para frente e para trás. Dificilmente atendia quando chamávamos o seu nome ou quando tentávamos propor alguma brincadeira. Simplesmente distante. A sua ocupação era enfileirar, compulsivamente, blocos de montar, da cor azul, tamanho grande. Ele também tinha rituais, percorria diariamente um trajeto dentro da casa, encostando a mão sempre nos mesmos objetos. E toda vez que era interrompido, numa atividade, num ritual, no seu distanciamento, enfim, se agredia com tapas ou batia com a cabeça no chão. Sim, Davi se encaixava no diagnóstico de TEA - Transtorno do Espectro Autista.

Depois daquela consulta a nossa vida mudou. As primeiras semanas foram de apreensão e culpa. Uma verdadeira tempestade (Mc 4. 37). Será que teríamos um filho dependente, agressivo, sem capacidade de demonstrar afeto, de falar, de se interessar pelo mundo? À noite, orávamos junto, minha esposa e eu, compartilhando com Deus nossas inquietações, tristezas e esperanças. O que vai ser do nosso filho? Que caminho tomar? Propusemo-nos a estudar o tema, a ler artigos, a compartilhar experiências com outras famílias, a participar de palestras e cursos. Ao mesmo tempo, começamos a buscar ajuda. Denise saiu do seu emprego e eu recebi tempo da paróquia onde trabalhava. As salas de espera dos consultórios médicos eram agora parte da nossa rotina. Acompanhamentos semanais com diversos profissionais, a maioria, especialistas que não atendiam pelo nosso plano de saúde. Também iniciamos uma série de exames e avaliações, muitos mesmos, pois autismo só se torna diagnóstico quando todos os outros possíveis fatores são descartados. Passamos a estar na estrada.

E à medida que os dias transcorriam, percebíamos que o Davi se estressava com tantas terapias e viagens. Também nós estávamos cansados e já sem recursos para arcar com tantas despesas. Assim, tivemos de fazer escolhas e iniciamos uma nova fase. Pedimos à Igreja envio para um grande centro urbano, onde pudéssemos encontrar atendimento sem necessidade de longos deslocamentos e decidimos reduzir a quantidade de profissionais que acompanhavam o nosso filho. Isso nos deu mais tempo para dedicar a ele. Começávamos a entender que a família tinha de ser protagonista no processo de resgate e que o amor era importante instrumento terapêutico. Imaginem a nossa alegria quando o Davi incluiu, pela primeira vez, um bloco de outra cor na sua atividade de enfileirar! Ou quando, pela primeira vez, adicionou outros objetos no ritual do percurso que ele fazia todos os dias. Aos poucos ele retornava e nós vibrávamos com cada conquista dele. Tanto que em agosto, ele foi liberado para, enfim, ir à escola.


Pastor Dr. Marcos Augusto Armange São José dos Pinhais - PR

(O texto foi publicado no jornal “O Caminho” do mês de agosto/15 e na página do Facebook da Comunidade Ev. De Confissão Luterana Concórdia em São José dos Pinhas/PR)


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Autor(a): Marcos Augusto Armange
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Diaconia / Subnível: Missão - Diaconia - Pessoa com Deficiência
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 34426
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