Atos 2.1-9 - O poder da Igreja

Prédica

29/05/1955

O PODER DA IGREJA

Atos 2.1-9
 

O que significa este dia que hoje comemoramos, o dia de Pentecostes, para nós? Ouvindo esta história que acabamos de ler, a história de como se cumpriu o dia de Pentecostes, poderia sobrevir-nos uma grande saudade, o sentimento do quanto nos falta, do quanto estamos distantes da fé viva e poderosa dos primeiros discípulos, e perguntamo-nos então, o que poderíamos nós fazer, para que se torne realidade também para nós, o que é dito da primeira cristandade: que o Espirito Santo venha também a nós e nos dê a grande certeza da fé e verdadeiro amor e nos livre de todo o temor. E poderíamos daí concluir que isto deveríamos nós fazer, e seria em verdade comemorar Pentecostes: que neste dia em todos os lugares e em todas as igrejas nos uníssemos em oração e súplicas para implorar a Deus, para que Ele nos mande também a nós hoje o seu Santo Espírito, para que ele renove a nossa Igreja e reaviva a nossa fé, para que reine vida entre nós, e não a morte!

E queira Deus que assim fizéssemos todos nós, que orássemos e pedíssemos, todos que em toda parte, como nós, se reúnem neste dia em nome de Jesus: Vem, Santo Espírito de Deus, e preenche os nossos corações com a chama sagrada da fé! E que não cessássemos de implorar e pedir! E se ao menos dois ou três dentre nós se comprometessem: daqui em diante, todos os dias eu quero rogar a Deus pela nossa Igreja, que Ele lhe dê novo vigor, nova vida — então certamente já por isso não teria sido em vão este nosso culto de Pentecostes. Mas isto não seria ainda comemorar Pentecostes. A esta oração somos chamados em cada dia de nossa vida.

Pentecostes é mais. Pentecostes é uma das três grandes festas da cristandade. E todas elas — Natal e Páscoa e Pentecostes — não nos falam em primeiro lugar do que nós homens devemos fazer, mas falam-nos dos grandes feitos de Deus. Isto é Pentecostes: o que Deus tem feito; e o que Ele fez, é tão grande, tão incomparável que nós, a comunidade, em todos os tempos e lugares, só podemos agradecer-lhe e louvar o seu nome. Não do que nos falta, mas do que nos foi dado fala Pentecostes, e por isso, mais do que nossa saudade, Pentecostes chama a nossa gratidão e alegria: Deus deu o Espírito Santo, e agora ele está aqui no mundo, entre e com os homens, e realiza a sua obra, mesmo se muitos julgam nada sentirem nem perceberem dele.

Deus deu o Espírito Santo. Isto nos anuncia a história de Pentecostes. Os apóstolos estão reunidos, não para fazerem isso ou aquilo, mas esperando pelo que Deus haveria de fazer. E Deus o faz, Ele, só Ele: dá o seu Santo Espírito. E toda a multidão presente, estes partos, medos e elamitas, e como sempre se tenham chamado, eles não fazem oração e súplicas, mas assistem a este fato do qual se tornam testemunhas, que Deus dá o seu Santo Espírito, e isso os deixa perplexos e confundidos. Mas esta história de Pentecostes é somente o começo, ao qual segue tudo o mais que está escrito no Livro dos Apóstolos. De nada mais fala este livro senão do que sucedeu no mundo depois que Deus deu o seu Santo Espírito: como se formou uma comunidade, e depois outras, muitas em todos os lugares, como se cumpriu a palavra de Cristo: Vós sereis minhas testemunhas até aos confins do mundo (At. 1,8), e como nestas comunidades vivia um amor fraternal, como até então não se havia encontrado no mundo, e acendia-se entre os homens a chama da fé, quando lhes era pregado o Evangelho de Jesus Cristo, e nesta fé se tornaram alegres e consolados, e acontecia que ao morrerem viam o céu aberto. E todos eles eram homens como nós, mas consolados e alegres e fortes pelo Espírito Santo.

E se quisermos compreender isto, devemos lembrar-nos do Catecismo Menor que uma vez estudamos, e no qual se encontram verdades tão grandes, que durante a vida toda não chegamos a estudar e compreendê-las suficientemente. Como diz Martin Luther no 3() artigo? Creio que por minha própria força ou razão não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a Ele. E agora ele não continua: por isso eu devo rogar e pedir a Deus que Ele me dê o seu Santo Espírito, mas é assim que ele continua: Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho. Ele, portanto, já o fez! Ele me iluminou com os seus dons! Ele me santificou e conservou na verdadeira fé! Sempre: Ele o fez! E o que Ele faz em mim e em ti, Ele o faz diariamente em toda a cristandade. Por isso, festejar Pentecostes só pode consistir, antes de tudo, em louvar e agradecer a Deus pelo que Ele tem feito por nós, dando à cristandade o seu Santo Espírito.

Só por isso há no mundo a Igreja e nela é pregado o Evangelho. E onde sempre for pregado o Evangelho, seja numa bela catedral ou na mais rude capela na colônia ou na mais simples choupana do campo, ou seja ao ar livre nas novas colônias — onde for pregado o Evangelho de Cristo, lá está a Igreja e com ela o Espírito Santo, Quando nós fomos levados ao batismo, ou quando pela primeira vez nos juntaram as mãos e nos ensinaram a orar — e abençoado seja para sempre quem o fez — lá estava a Igreja em nossa vida e com a igreja o Espírito Santo. Ou quem teria ensinado aos outros a levar-nos ao batismo e a dizer-nos que temos um Deus, ao qual podemos pedir com toda a confiança, assim como filhos queridos pedem ao seu pai amado? E todas as vezes que nos reunimos na casa de Deus e ouvimos a palavra de Deus, como antes de nós foi ouvida pelos nossos pais, e cantamos os nossos corais, expressão da fé e da gratidão daqueles que ouviram a palavra de Deus, aí está a Igreja e na Igreja o Espírito Santo de Deus. Ou como então haveria de suceder que esta palavra da Bíblia por através de quase dois milênios se conservou viva e poderosa, podendo ainda hoje, como no primeiro dia de Pentecostes, atingir os corações dos homens e vencê-los? Como haveria de suceder que os hinos da Igreja, por através de séculos, hoje ainda não somente são cantados, mas têm a sua força de consolar e fortalecer, enquanto que outros hinos têm uma vida curta e em breve são esquecidos? ,2 porque aqui nesta palavra e nos hinos que são a resposta da Igreja a esta palavra, não se trata apenas de palavras humanas. Mas o Espírito Santo de Deus falou e fala pela palavra daqueles que escreveram este livro e estes hinos.

Oh! Como seríamos pobres homens, se Deus não tivesse dado o seu Santo Espírito neste mundo! E com ele a Igreja, e nela a fé: a certeza que Deus ama a este mundo, e por isso enviou o seu Filho, e Ele deu a sua vida por este mundo, mas Deus o ressuscitou, e Ele, novamente e para sempre, se solidariza com o mundo, enviando o seu Santo Espírito, no qual Ele mesmo está conosco todos os dias e em todas as situações! Como seríamos pobres, se Deus não nos tivesse dado e nos desse sempre de novo esta fonte de todo consolo e toda a alegria! Temos suficientes razões e todo o motivo de festejar Pentecostes alegres e com gratidão, vendo a riqueza das dádivas que Deus nos tem dado.
Por isso não diga ninguém — seria falta de gratidão — que o Espírito Santo nos abandonou ou perdeu o seu poder entre nós a Igreja e com ela o Espírito Santo. E Deus que não se de Cristo permanece, hoje como em todos os séculos: Eu estou convosco todos os dias! (Mt. 28,20) Verdade é que o homem pode fechar o seu coração ao Espírito Santo de Deus, e esta é a nossa grande aflição que tantos o fazem. Mas a Igreja permanece, e nela o Espírito Santo. E se em cada templo ou capela se reunissem ainda apenas três pessoas para ouvir a palavra de Deus, e se fossem somente três que ainda tomam a sério o seu batismo e permanecem no que prometeram na sua confirmação, ainda estaria entre nós a Igreja e com ela o Espírito Santo. E Deus que não se faz depender dos números, nem pelo número se deixa impressionar, Deus pode fazer com que por causa destes três seja salvo um povo todo.

E aqui então tem o seu lugar a nossa oração, a oração diária, constante e ardente, para que Deus deixe habitar o seu Espírito entre nós, que Ele vença os nossos corações, que Ele nos faça testemunhas, cheias de fé e de amor, dos grandes feitos de Deus. Não oramos que Deus comece a sua obra. O começo está feito: Pentecostes é realidade. Não estaríamos aqui reunidos senão por obra do Espírito Santo. Deus somente espera que os homens venham e vejam o que lhes foi dado em Pentecostes e experimentem como é benigno o Senhor.

Os apóstolos, após a Ascensão, tinham que esperar, até que se cumprisse a promissão do Senhor. E veio então o dia de Pentecostes. E desde então Deus espera por nós.

Dr. Ernesto Th. Schlieper

29 de Maio de 1955 (Pentecostes), Porto Alegre 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS

 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes

Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19594
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Martim Lutero
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