Jubileu de 100 anos do Sínodo Evangélico do Brasil Central
Estimados irmãos e estimadas irmãs!
Deus pelo seu Espírito desperta e sensibiliza pessoas para a sua missão na sociedade e no mundo. Deus desencadeia processos e está na raiz de uma dinâmica que cria comunidades de filhos e filhas que se sabem amados e amadas por ele e em gratidão pela dádiva imerecida de sua graça, procuram servir segundo os dons que foram conferidos por Deus.
Estamos aqui porque Deus nos tocou com a sua Palavra. O seu amor nos alcançou em Jesus Cristo. Pelo seu Espírito ele nos mobilizou e congregou em comunidades que procuram caminhar lado a lado.
Aqui estamos para lembrar o centenário de fundação de uma organização eclesiástica denominada Sínodo Evangélico do Brasil Central, ocorrida nos dias 28-30 de junho de 1912 no Rio de Janeiro. Ao fazê-lo, estamos reconhecendo a sua importância na vida da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil nesta região geográfica do país.
As pessoas marcadas pelo batismo tornam-se filhos e filhas de Deus, tem uma localização geográfica e todas elas vivem em um tempo determinado. Elas são igualmente marcadas por usos e costumes, culturas e práticas no cotidiano de suas existências que envolvem alimentação, vestimenta, habitação, locomoção, comunicação e assim por diante. Dentro destas circunstâncias, em cada lugar e em cada tempo, acontecem vida de fé, vida comunitária e testemunho cristão.
A Palavra de Deus que ouvimos fala de cidades, de localidades (Fenícia, Chipre, Antioquia, Jerusalém), de pessoas com culturas e práticas de vida diferentes entre si (judeus, gregos). Fala do modo pelo qual a mensagem do Evangelho foi anunciado e encontrou corações abertos para recebê-lo. Fala da dispersão e da migração de pessoas.
A palavra bíblica mostra e indica um divisor de águas. Apresenta um momento novo na vida dos seguidores de Jesus. Aponta para uma nova identidade religiosa. O movimento dos seguidores de Jesus Cristo ultrapassa fronteiras geográficas e culturais. Difunde a boa notícia do Evangelho a todas as pessoas indistintamente. Aquilo que até a certa altura era movimento intra-judaico, gradativamente assume características multiculturais, universais. Fora do contexto em que Jesus viveu os seus seguidores são denominados de cristãos. Ou seja, na diáspora, na dispersão, uma identidade nova se firma e se fortalece.
Esta nova perspectiva foi gestada aos poucos. Ela não aconteceu de uma hora para outra. As tensões entre os partidos e as tendências no interior do movimento dos seguidores de Jesus foram superadas aos poucos e a síntese deste processo de uma nova consciência nós vemos em Atos 10.34-43.
Estimados irmãos e estimadas irmãs! Somos comunidades que são fruto de movimentos migratórios, seja num passado mais remoto, seja num passado mais recente.
Pergunto: Quem vive na cidade ou município em que nasceu? Ou então, os pais de vocês? [ Nota-se que 90% das pessoas presentes migraram de um lugar para outro! ]
As necessidades humanas, as dinâmicas sociais, econômicas e políticas fazem com que as fronteiras geográficas sejam transpostas em todos os tempos. A mensagem, que dá sentido à vida, acompanha as pessoas. Os migrantes de ontem e de hoje, os migrantes de todos os tempos levam consigo uma vivência de fé e procuram dar testemunho acerca dela. Ou então descobrem no novo contexto dimensões novas do Evangelho, novos acentos e novas perspectivas.
Sim, irmãos e irmãs, as pessoas vivem em um tempo determinado e em espaços determinados. Elas dão conta de sua vida em localidades diversas.
Chegamos, assim, à lembrança do jubileu dos 100 anos do Sínodo Evangélico do Brasil Central.
Por que sínodo? Esforço de lideranças pastorais para viabilizar uma caminhada conjunta por parte de comunidades para apoio mútuo no testemunho da palavra de Deus.
Por que evangélico? A identidade religiosa cristã estava distribuída basicamente segundo confissões diferentes, a saber, católica, episcopal-anglicana, presbiteriana, congregacional, metodista, batista. Evangélicos porque esta designação acompanhara os primeiros grupos de cristãos acatólicos vindos ao Brasil.
Por que Brasil Central? Porque no início do século XX São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo eram o centro político e econômico do Brasil. Rio de Janeiro, capital da Guanabara, era capital do Brasil e foi lá que se reuniram nos dias 28 a 30 de junho de 1912 as lideranças das comunidades para a fundação do Sínodo.
Originalmente o Sínodo foi chamado de “Synode der deutschen evangelischen Gemeinden Mittelbrasiliens “ (Sínodo das Comunidades Evangélicas Alemãs do Brasil Central). Por que isso? Em sua maioria os pastores eram enviados pela Igreja Evangélica da Alemanha e as atividades pastorais e comunitárias aconteciam majoritariamente na língua alemã.
O nome oficial acabou sendo Sínodo Evangélico do Brasil Central. Depois do evento da Segunda Guerra Mundial ele se reuniu a três outros sínodos, compondo a Federação Sinodal que originou a atual IECLB.
Em 1968 aconteceu a extinção dos antigos sínodos que formavam uma federação sinodal. Por esta época o cenário político brasileiro estava em profunda mudança com a transferência da capital do Brasil do Rio de Janeiro para Brasília. O surgimento de um novo centro político espelhou e espelha também o centro geográfico brasileiro.
Na cena eclesiástica luterana figuravam até 1984 apenas as cidades de Brasília e Ceilândia. A partir de meados da década de 80 há uma alteração neste cenário. O prontuário da IECLB apresenta em 1986 novos municípios com articulação comunitária e pastoral: Paracatu, Cristalina, Unaí, Guarda-Mor, Vazante, João Pinheiro, Formosa, Cabeceiras, Planaltina, Serra Dourada, Pipiripau, Goiânia, Alexânia, Barreiras, Baianópolis, Novo Paraná.
Em 1987 cria-se o Distrito Eclesiástico Brasil Central. A expressão Brasil Central desaparece em 1968 e reaparece novamente 20 anos depois na cena eclesiástica. E 10 anos depois, em 1997, surge, a partir de uma nova reestruturação da Igreja, o Sínodo Brasil Central.
Olhar para o jubileu dos 100 anos de fundação do Sínodo Evangélico do Brasil Central significa olhar para encontros e desencontros, caminhos e descaminhos, acertos e desacertos e, sobretudo, olhar para o modo pelo qual Deus conduziu o seu povo que caminha hoje na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil nesta região do país.
Como instituição simultaneamente divina e humana, construída por pessoas simultaneamente justas e pecadoras, podemos ser gratos a Deus pelos sinais afirmativos de sua presença e testemunho. O Sínodo Evangélico do Brasil Central impulsionou a Obra Gustavo Adolfo e apoiou o trabalho de pregadores itinerantes no noroeste de São Paulo e sul do Mato Grosso. Acompanhou atividades da Confederação Evangélica do Brasil voltadas para o trabalho de crianças e jovens e também a fundação da Sociedade Bíblica do Brasil na cidade do Rio de Janeiro. Na área educacional deu respaldo para a construção de um Internato na cidade de Rio Claro/SP, voltado para jovens isolados e sem acesso à educação.
Na missão de Deus as fronteiras geográficas e culturais não representam um obstáculo intransponível. Deus, pelo seu Espírito, revela a sua vontade e seu amor às pessoas nos contextos mais diversos e em circunstâncias muito diferentes. O importante é ter a postura e a sensibilidade de um Barnabé que está aberto para a novidade e o novo momento em que vive o seu povo.
Que o Espírito de Deus mantenha acesa a chama da fé e da esperança do seu povo que caminha na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil aqui desta região. Que Deus lhe conceda alegria o testemunho e profunda confiança em sua graça e misericórdia. Que esteja atento aos sinais de novos caminhos e de novas possibilidades que Deus coloca a sua frente.
Que a sua paz que supera todo o entendimento guarde corações e mentes em Cristo Jesus, nosso Senhor. Amém.
