As estações da vida | Salmo 40.1-10

4º Domingo na Quaresma

27/03/2022

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

todos nós passamos por períodos de alegrias e de tristezas. Assim como a Criação de Deus, as nossas vidas também possuem estações: há momentos que estamos com calor e vigor, como se um verão invadisse as nossas vidas; em outros momentos, experimentamos um lento esfriamento, uma perda do vigor e uma instabilidade emocional, como no outono; às vezes, experimentamos a frieza, a dureza e o desânimo como um inverno; outras vezes, parece que tudo volta a brotar e a se revigorar como se uma nova primavera tivesse invadido as nossas vidas. No calendário, estamos no outono; mas, em qual estação está a sua vida? Verão? Outono? Inverno? Primavera?

O Rei Davi também experimentava diferentes estações em sua vida e reinado. Se quisermos ver um momento de triunfo e alegria, basta-nos lembrar quando Davi venceu e derrubou o ameaçador gigante Golias (1 Samuel 17.1-58); porém, o reinado de Davi não foi perfeito, mesmo que ele tenha sido chamado de “o homem segundo o coração de Deus.” Então, o que aprendemos sobre o rei Davi?

• Ele reconhecia seus erros: “Então Davi disse a Natã: Pequei contra o Senhor! E Natã respondeu: O Senhor perdoou o seu pecado. Você não morrerá” (2 Samuel 12.13);

• Ele tinha um coração humilde: “Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim” (Salmo 131.1);


• Ele era sincero diante de Deus: “Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado, pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue” (Salmo 51.2-3);

• Ele era um grande compositor e adorador: “Davi e todos os israelitas iam cantando e dançando perante o Senhor, ao som de todo tipo de instrumentos de pinho: harpas, liras, tamborins, chocalhos e címbalos” (2 Samuel 6.5);

Davi é um rei lembrado até hoje com admiração. Diferente de Saul, seu antecessor, Davi não foi consultar uma médium, mas sempre confiava somente no Senhor. Além disso, diferentemente de Saul, Davi não tinha medo de se arrepender de seus erros. No Salmo 51 temos uma oração de arrependimento de Davi por ter tido relações sexuais com Bate-Seba, a esposa de seu soldado e defensor Urias. Bate-Seba engravidou e Davi procurou dar um “jeitinho” para que Urias se deitasse com ela e assumisse a paternidade da criança. Como Urias não aceitou, Davi o colocou na frente de batalha para ser morto, o que, de fato, aconteceu. Então, Davi se casou com a esposa de Urias. Nas estações da vida de Davi, encontramos tempos de glória que podem ser comparados com a primavera e o verão, como também encontramos tempos de outono e inverno onde seu coração endureceu tanto que acabou cometendo atrocidades.

Quando Davi escreveu o Salmo 40, ele estava em uma dessas estações “problemáticas”. Davi tomou consciência dos seus pecados. Por causa disso, sobram aflições em seu coração. Davi não sabe o que esperar do futuro. O mais interessante é que Davi não jogou a sua culpa pessoal em Deus, nem abandonou a Deus, pois sabia que quem pecou não foi o Senhor, mas ele mesmo. Então, em seu pecado e sofrimento, Davi escreveu o Salmo 40 que é um Salmo de Ação de Graças e de Pedido de Socorro. Neste Salmo, descobrimos a maneira maravilhosa de como Deus se revelou a Davi:

1 O DEUS QUE SE INCLINA E NOS LEVANTA (vs. 1-4)

Essa é uma imagem bonita de Deus. Davi afirmou que estava esperando ansiosamente pelo Senhor. Talvez Deus tivesse ficado silencioso com Davi por um tempo. Muitas vezes isso também acontece conosco: oramos, oramos e oramos e parece que Deus não está “nem aí” para os nossos pedidos de oração. Davi esperava ansiosamente pela resposta de Deus aos seus gemidos, aflições e angústias.

Então, algo maravilhoso aconteceu: “ele se inclinou para mim e ouviu o meu grito” (Salmo 40.2 BJ). O Senhor é o Deus que se inclina. Ele não está em sua posição como um poste imóvel e que olha para o ser humano só para encontrar alguma falha e nos condenar à perdição eterna; o Senhor não é alguém que se coloca acima de tudo e de todos; o Senhor não é arrogante, orgulhoso e egoísta; ao contrário, Deus se inclinou para Davi. Quem é Deus? É aquele que se coloca ao lado. Deus se abaixa para ouvir os nossos gemidos, as nossas palavras cheias de angústia e desespero. Deus se inclina para ouvir o nosso grito. Portanto, Deus não é alguém que está longe no céu sem preocupação alguma com os seres humanos. Zeus, o deus dos gregos, era assim; mas não o Deus do Antigo Testamento e, principalmente, do Novo Testamento.

Deus não apenas se inclina ao ser humano perdido para ouvir seu clamor, mas também nos retira do chiqueiro em que nos metemos: “ele me fez subir da cova fatal, do brejo lodoso; colocou meus pés sobre a rocha, firmando os meus passos” (Salmo 40.3 BJ). Deus é capaz de entrar na lama e no brejo para salvar a quem ele ama. Se estamos quase afogados na lama, basta clamarmos ao Senhor para que ele se incline a nosso favor e nos resgate da nossa própria sujeira. Deus é capaz de nos arrancar do brejo e nos levar para a rocha onde nossos passos seguem firmes.

Além disso, a nossa vida ganha um novo sentido tão perfeito ao ponto de sairmos pulando e cantando coisas novas: “Pôs em minha boca um cântico novo, louvor ao nosso Deus; muitos verão e temerão e confiarão no Senhor” (Salmo 40.4 BJ). Quando Deus se inclina ao nosso encontro, resta-nos erguer nossas vozes e adorá-lo de todo o nosso coração, pois ele nos arrancou do brejo do pecado onde estávamos atolados e nos carregou para uma nova vida.

Davi reconheceu que ele não poderia sair do brejo sozinho; Davi também não se apressou em buscar soluções fáceis e rápidas para si mesmo. Não! Ao contrário, Davi esperou pacientemente pelo Senhor. E esperar valeu a pena! Muito! Deus, mesmo sendo o Onipotente, se inclinou a Davi e restaurou a sua vida. Isso já é um grande motivo de Ação de Graças. Davi lembra o que Deus já fez em sua vida e não esquece de agradecer.

Portanto, se estamos vivendo no brejo, na sujeira, naquilo que não agrada a Deus, não adianta continuarmos nadando contra os nossos próprios males. Se fizermos isso, iremos nos afogar ainda mais, com risco de morte. É preciso esperar com paciência no Senhor. Ele se inclina para ouvir seus gemidos, sua angústia, seus medos. Não cesse de orar, pedir, clamar, gritar. Quando a transformação acontecer, você cantará um novo cântico ao Senhor; quando a vida nova chegar, você andará por caminhos firmes e inabaláveis! “Bem-aventurado é aquele que põe no Senhor a sua confiança” (Salmo 40.4 NAA).

2 O DEUS QUE OPERA MARAVILHAS
   E NÃO QUER OS NOSSOS SACRIFÍCIOS (vs. 5-7)

Davi sabia que quando Deus agisse, ele agiria pra valer. O Senhor não está para brincadeira. Deus não brinca com sua obra. Quando Deus diz algo, podemos ter a certeza de que ele fará. Isso é fé, ou seja, isso é confiança em Deus.

Por isso, Davi entoa um grande louvor ao Senhor, dizendo: “São muitas, Senhor, Deus meu, as maravilhas que tens operado e também os teus desígnios para conosco; não há ninguém que possa se igualar a ti. Eu quisera anunciá-los e deles falar, mas são mais do que se pode contar” (Salmo 40.5 NAA). Mesmo que Davi estivesse passando por estações difíceis em sua vida, ele reconhece que Deus continuou sendo bom o tempo todo. A presença de Deus permaneceu com Davi mesmo que ele tenha se afastado e pecado contra o Senhor.

O que Deus esperava de Davi? “Sacrifícios e ofertas não quiseste;” (Salmo 40.6a NAA). Provavelmente, Davi quis eliminar o seu próprio pecado através dos ritos religiosos do seu tempo. Porém, não era isso que o Senhor queria de Davi. O que Deus queria então de Davi? O que Deus quer de nós? O Senhor não espera que façamos ritos vazios e repetidos sem sentido algum. A nossa prática religiosa não interessa a Deus. Ela interessa a nós que precisamos de símbolos que deem sentido e tornem visível a fé que temos. Porém, o que Deus quer então? “– Será que o Senhor tem mais prazer em holocaustos e sacrifícios do que no obedecer à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o ouvir é melhor do que a gordura de carneiros” (1 Samuel 15.22 NAA). Deus não quer a nossa religião; Deus que a nossa obediência. Não agrada ao Senhor as tradições que repetimos há anos sem sabermos o motivo; o que agrada ao Senhor é se hoje estamos ouvindo e obedecendo a sua Palavra.

Por isso, Davi diz: “abriste meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres” (Salmo 40.6b NAA). Para a palavra abriste, temos no hebraico o termo כָּרָה (karah) que significa escavar e furar. Literalmente, isso significa que o coração de Davi estava tão bem fechado que Deus precisou escavar para chegar lá. O coração de Davi estava tão fechado que não havia como a Palavra de Deus entrar nele sem o agir de Deus.

O mesmo acontece conosco: apenas Deus é capaz de sondar, de cavar e chegar aos nossos corações. Se Deus não cavar profundamente para chegar aos nossos corações, não há nada que possamos fazer para ouvirmos verdadeiramente a Palavra do Senhor. A obra de convencimento das verdades das Escrituras é espiritual, não humana. Podemos estar sentados aos domingos na igreja uma vida inteira. Porém, se nunca deixamos o próprio Deus cavar profundamente em nossos corações, então infelizmente nunca ouvimos a sua palavra verdadeiramente. Portanto, deixemos os nossos corações bem abertos para que a Palavra de Deus não entre apenas superficialmente, mas profundamente, causando mudanças e transformações nas estações das nossas vidas.

Independentemente da situação em que nos encontramos, Deus tem interesse em cavar fundo em nossas vidas e produzir mudanças. Davi compreendeu isso. Ele entendeu que precisava de arrependimento e de uma mudança de vida. Davi entendeu que a sua vida não estava correspondendo à vontade de Deus. Como ele entendeu isso? Quando o próprio Deus cavou fundo em seu coração e fez a Palavra chegar aonde deveria tocar.

3 O DEUS QUE NOS CHAMA A PROCLAMARMOS A VERDADE
   E A FUGIRMOS DA MENTIRA (vs. 8-10)

Após Deus cavar fundo em sua vida, Davi pôde dizer a Deus: “agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; a tua lei está dentro do meu coração” (Salmo 40.8 NAA). Tão importante quanto a letra escrita no papel é termos a Lei de Deus escrita e bem guardada em nossos corações. Somente quando a verdade habitar em nós é que seremos capazes de diferenciar o ensino verdadeiro do ensino mentiroso.

Mas, o que é a verdade? A verdade não é um conceito, não é uma ideia, não é uma posse. A verdade não é minha; a verdade não é sua; a verdade está fora de nós. Na verdade, a verdade é uma pessoa: “Jesus respondeu – Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6 NAA). O mundo afirma que há várias verdades, mas a Bíblia diz que a verdade é só Jesus; o mundo afirma que há muitos caminhos para Deus e que todos são válidos, mas a Bíblia afirma que o único caminho para Deus é Jesus; o mundo nos ensina que devemos aproveitar a vida como pudermos, pois ela é curta, mas a Bíblia nos ensina que a vida é Jesus e que nele ela é eterna! Ter a Palavra de Deus em nossos corações significa, acima de qualquer coisa, ter o próprio Senhor Jesus Cristo – o Verbo encarnado – habitando em nossas vidas.

A partir disso, a nossa vida se transforma em uma vida de proclamação: “Proclamarei as boas novas de justiça na grande congregação; jamais cerrei os lábios, tu o sabes, Senhor” (Salmo 40.9 NAA). Não há como crer em Jesus sem falar de Jesus. O verdadeiro cristão testemunha do seu Salvador, pois não crê que a Salvação é somente para ele, mas também para outros. Se dissemos que cremos em Jesus, mas não falamos de Jesus com coragem e ousadia às outras pessoas, então há algo de errado com a nossa fé. E tenha certeza: falar de Jesus trará perseguição, dor, sofrimento, pois o mundo tem sua verdade e não aguenta a Verdade do Filho de Deus. Ser cristão é ser chamado e chamada a proclamar da verdade!

Por isso, Davi diz: “Não ocultei no coração a tua justiça; proclamei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi da grande congregação a tua graça e a tua verdade” (Salmo 40.10 NAA). Aquilo que recebemos de Deus não deve ser escondido, mas deve ser escancarado para que outros vejam as maravilhas que Deus operou em nossas vidas. Precisamos ser tão fiéis ao Senhor ao ponto das outras pessoas olharem para nós e perceberem que há algo de diferente. Se somos verdadeiramente cristãos, os frutos que produzimos precisam corresponder à árvore que somos em Cristo Jesus.

Amados irmãos, amadas irmãs,

quantas pessoas estão passando por estações difíceis em suas vidas; e quantas outras estão em situações tão boas que esqueceram de Deus. Hoje, lembramos que Deus se inclina para nos levantar, que Deus opera maravilhas, abre os nossos ouvidos e que Deus quer que sua verdade – Jesus – seja espalhada pelo mundo.

Se você está em uma estação difícil, venha ao Deus que se inclina a ti; se você está em uma estação alegre, não esqueça daquele que nunca esqueceu de ti. Além disso, chame outros. Muitos virão, temerão e confiarão no Senhor. É nossa tarefa ir ao mundo perdido e trazer pessoas à fé cristã. E que assim, o novo cântico de Deus esteja para sempre em nossas bocas. Amém.


4º DOMINGO NA QUARESMA | VIOLETA | CICLO DA PÁSCOA | ANO C

27 de Março de 2022


P. William Felipe Zacarias


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 40 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 66506
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Eu recomendo que ninguém exponha os seus filhos a lugar algum no qual a Escritura Sagrada não reina.
Martim Lutero
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