Estimada comunidade,
Neste mês de março estamos completando 1 ano de pandemia da covid 19. E ainda temos um longo tempo a percorrer até que a vacina esteja disponível a todas as pessoas freando entre nós a propagação descontrolada do vírus. Neste um ano sentimos muitas ausências: ausência de festas de município e encontros com grandes aglomerações, ausência de escolas cheias de crianças e jovens estudantes, ausência de cultos festivos reunindo toda a comunidade, ausência de visitas frequentes entre vizinhos e amigos, ausência de abraços e mãos se cumprimentando livre de preocupações, ausência de pessoas amadas que partiram, entre tantas outras privações que a pandemia gerou entre nós.
A palavra do profeta Isaías foi dita num tempo de ausências e privações quando o povo de Deus foi deportado para uma terra estrangeira. O poderoso exército da Babilônia havia invadido e conquistado a terra de Israel, destruindo a cidade e o templo de Jerusalém, conduzindo sobreviventes da cidade e do campo ao exílio no estrangeiro, na terra da Babilônia.
Nesta terra nova e estranha o povo de Deus, derrotado, foi confrontado com o poder e a riqueza da Babilônia, incluindo o seu panteão de deuses. Na Babilônia, os astros do céu, o sol, a lua e as estrelas eram adorados como deuses com poderes sobrenaturais e extraordinários. E neste cenário, o povo de Deus se perguntava, “Com tanta riquezas e conquistas, será que os deuses da Babilônia são mais poderosos do que o Deus de Israel? Será que ainda vale a pena confiar no Deus de nossos antepassados?”. Estas indagações pesavam no coração do povo de Israel. Deus lhes parecia distante, indiferente, e ausente em meio ao sofrimento e privações.
É dentro desta realidade de lamento e desconfiança que o profeta lhes dirige a palavra, falando em nome de Deus, “Povo de Israel, por que você se queixa, dizendo: O Senhor não se importa conosco, o nosso Deus não se interessa pela nossa situação? Será que vocês não sabem? Será que nunca ouviram falar disso? O Senhor é o Deus Eterno, ele criou o mundo inteiro.”
Percebemos aqui Deus dizendo através de seu mensageiro Isaías: Deus não tem ouvidos fechados ao lamento e não olha indiferente ao sofrimento de seu povo. Assim como no tempo da escravidão do Egito, agora também neste tempo de exílio em terra estranha, Deus ouve o clamor de seu povo. Deus conhece as suas aflições. E Deus ainda relembra o povo que, como criador do mundo inteiro, os deuses da Babilônia, os astros do céu, o sol, a lua e as estrelas não são deuses. Não se iludam, é a mensagem de Isaías. Não pensem que os astros no céu possuem poderes sobrenaturais e extraordinários. O Deus da criação continua sendo o Deus de poder e autoridade, presente mesmo neste tempo de ausências e privações.
E o profeta continua a falar em nome de Deus dizendo, “Aos cansados o Senhor dá novas forças e enche de energia os fracos . . . os que confiam no SENHOR recebem sempre novas forças”. Isaías proclama a fidelidade de Deus. Mesmo que o povo esteja entre a fé e a desconfiança, Deus ainda é fiel e de graça se aproxima para restaurar seu povo, para levantar as pessoas fracas e cansadas. Sua palavra é boa notícia que quer fortalecer a fé de quem está desanimado e abatido. A promessa é certa, quem tem sua fé restaurada por Deus – estas pessoas renovam suas forças e voam nas alturas como águias.
Porque somente Deus criador tem poder e autoridade para se fazer presente onde existe ausência de vida, desespero e cansaço. Não é esta a fé em Cristo que professamos, especialmente neste tempo da quaresma? Povo de Deus, por que você se queixa, dizendo: O Senhor não se importa conosco, o nosso Deus não se interessa pela nossa situação? Será que vocês não sabem? Será que nunca ouviram falar disso? Na cruz de Jesus, Deus está presente como Deus que se faz pequeno e solidário com as aflições do seu povo. Na cruz de Jesus, Deus está presente como Deus que confronta as injustiças e violência humanas, oferecendo, ao invés, reconciliação e comunhão. Na cruz de Jesus, Deus está presente como Deus que gera comunidade, por exemplo, Jesus pedindo para que sua mãe Maria e seu discípulo João se acolhessem mutuamente. É Deus presente na cruz de Jesus nos chamando para cuidar uns dos outros, também e especialmente neste tempo de privações e sofrimento.
Porque mesmo onde existe ausência de vida, desconfiança e cansaço, Deus se faz presente para restaurar a fé, para restaurar a comunidade. As pessoas que esperam no SENHOR renovam suas forças. Voam nas alturas como águias, correm e não perdem as forças, andam e não se cansam. Amém.
