As nossas mãos

26/05/2006


Imagine uma pessoa que você ama muito e deseja todo o bem. Imagine um amigo ou amiga da infância cujos momentos de convivência você guarda como um precioso tesouro no seu coração. Imagine uma situação onde uma pessoa desconhecida (e tão humana quanto você), de repente, sem interesse algum, simplesmente percebe a sua existência e suas necessidades e lhe dirige um gesto, olhar ou palavra simples que manifestam carinho ou cuidado dentro de um ônibus, na emergência de um hospital, na escola do seu filho ou filha. E você acolhe na profundidade do seu ser este gesto simples e livre de interesses que se faz combustível de esperança alegrando o seu dia e resgatando a sua própria humanidade.

É incrível como pequenos gestos amorosos carregam em si sementes de transformação. É incrível como ações livres de interesses egoístas são capazes de transformar realidades de sofrimento e tristeza em canteiros de esperança. Por meio do nosso agir diário nós somos responsáveis pela realidade que vai sendo construída a nossa volta. É resultado de nossas ações cotidianas (e não do acaso ou de uma vontade onipotente e desconhecida) a qualidade dos relacionamentos que vamos tecendo ao longo de nossa vida.

Por isso, quanto maior o grau de consciência de um ser humano, maior o nível de sua responsabilidade pela justa e boa administração do bem comum e do seu comprometimento pela libertação (vida plena) do próximo. E um mundo justo com relacionamentos que promovem a vida vai sendo construído por meio de nossas atitudes, por meio de nossas escolhas, através de nossas mãos.

As nossas mãos, sim, as nossas mãos, podem se mover tanto para enxugar um rosto de criança molhado pelas lágrimas da fome, do descaso, da violência quanto podem fazer brotar essas lágrimas por meio do perpetuar de um sistema social e educacional que coloca em diferentes lugares e qualifica com diferentes valores a vida de homens e de mulheres. As nossas mãos podem se unir para servir e promover a construção de uma realidade fundamentada no valor universal da vida e do amor ou podem se tornar mãos que cavam a cova dos inocentes quando políticos e empresários desviam o dinheiro que é do povo para engordar o seu ego, o seu saldo bancário, para fazer crescer a sua pequenez. As nossas mãos podem alfabetizar adultos ou podem fabricar armas. Podem arar a terra ou alimentar o tráfico. As nossas mãos podem se abrir para acolher ou podem se fechar para espancar. As nossas mãos podem fazer adormecer um filho ou podem pegar em armas e ser a mão que dispara a bala perdida que mata o filho de alguém. As nossas mãos podem cuidar e amar o mundo e a natureza ou podem violentar continuamente o meio ambiente e a nossa cidade, deixando o nosso lixo em qualquer lugar, poluindo as nossas ruas, derramando o nosso esgoto para dentro do rio Paraíba, presenteando aqueles que ainda não nasceram com a irresponsabilidade de nossas ações cotidianas.

Que a força do amor nos reumanize. Que ao evocamos a lembrança das pessoas que amamos, do rosto de nossos amigos de infância, os gestos sinceros e amorosos de desconhecidos num ônibus lotado, na emergência do hospital, na escola de nosso filho ou filha ou o simples correr do rio Paraíba nos faça parar e olhar para as nossas mãos meditando profundamente sobre a forma como as usaremos daqui por diante. Olhe a sua volta, respire, sinta o ar. Se ele ainda está respirável é dádiva. É presente de amor. Se ele está intragável, pense como você tem usado as suas mãos. Ainda há tempo...basta você fazer a escolha certa sobre como você vai usar as suas mãos no dia de hoje.

Pastora Jaqueline Schneider


Autor(a): Pª Jaqueline Schneider
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8091
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