As mulheres na história da paixão de Cristo
De quem vocês lembram quando mencionamos a história da paixão de Cristo?
Que papel desempenharam as mulheres? O que podemos aprender com elas?
Multidões tinham seguido a Jesus durante a sua atuação. Todos esperavam algo dele: milagres, curas, libertação do odiado jugo romano, a reorganização de assuntos pessoais, parecer até sobre divisão de herança.
Mas, à medida em que Jesus anunciava o Evangelho, muitas pessoas se decepcionaram ao não verem cumpridas as suas expectativas. Alguns acham suas exigências duras demais, como podemos ver em João 6.60: “Muitos seguidores de Jesus ouviram isso e reclamaram: O que ele ensina é muito difícil! Quem pode aceitar esses ensinamentos?”
Outros o abandonam logo de saída: “Por causa disso muitos seguidores de Jesus o abandonaram e não o acompanhavam mais” (João 6.66). As opiniões sobre Jesus se dividem, conforme testemunha claramente o evangelista João: “Na multidão havia muita gente comentando sobre ele. Alguns diziam: Ele é bom. — Não é não; ele engana o povo!, afirmavam outros” (João 7.12).
Chega um momento em que Jesus pensa que até seus seguidores mais próximos iriam abandoná-lo. “Então ele perguntou aos doze discípulos: Será que vocês também querem ir embora?” (João 6.67).
Depois de ser recebido em Jerusalém no domingo anterior à Páscoa temos a impressão que o filme sobre a vida de Jesus é acelerado e muitas coisas decisivas se sucedem em velocidade impressionante. Judas o trai e entrega por 30 moedas de prata; Pedro nega sequer conhecer a Jesus por três vezes. E quando Jesus é preso, o evangelista Mateus escreve: “Então todos os seus discípulos o abandonaram e fugiram” (Mateus 26.56).
Os acontecimentos de quinta-feira à noite até a crucificação e morte na cruz na sexta-feira à tarde são de sofrimento indescritível na vida de Jesus. Uma de suas dores, além da dor física imposta pelos torturadores, é o sentimento de total solidão e abandono. A tal ponto que Jesus chega a orar na cruz: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” (Mateus 27.46).
Na realidade, nem todos fugiram. Aos pés da cruz permanecem algumas pessoas, diga-se claramente, algumas mulheres. Vejamos como os evangelistas descrevem esta cena:
Mateus 27.55-56; Marcos 15.40-41; João 19.25; Lucas 23.48-49
Apenas o evangelista Lucas, depois de afirmar que as multidões se retiram, informa que “Todos os amigos de Jesus e as mulheres que o tinham seguido desde a Galileia ficaram de longe, olhando tudo aquilo” (Lucas 23.49). Lucas não informa quais eram as mulheres.
Conclusão: As mulheres permanecem com Jesus até o fim.
Na história de sua morte, Jesus fica sozinho, é abandonado por todos. Apenas algumas mulheres permanecem ao seu lado, entre elas, citada por todos os textos: Maria Madalena.
Depois de morto, podemos imaginar que os discípulos providenciariam um sepultamento digno para o seu mestre. Mas não é isso que aconteceu.
Os quatro evangelistas narram com bastante detalhes e concordância que ao final daquela sexta-feira Jesus foi sepultado por um homem chamado José, “que também era discípulo de Jesus” (Mateus 27.57), natural de Arimatéia e “ilustre membro do sinédrio, que também esperava o reino de Deus” (Marcos 15.43) e por Lucas é descrito como membro do Sinédrio e como “homem bom e justo” (Lucas 23.50).
José de Arimatéia, de acordo com João, recebeu a ajuda de Nicodemos. “Os dois homens pegaram o corpo de Jesus e o enrolaram em lençóis nos quais haviam espalhado uns trinta e cinco quilos de uma mistura de aloés e mirra.
Era assim que os judeus preparavam os corpos dos mortos para serem sepultados. No lugar onde Jesus tinha sido crucificado havia um jardim com um túmulo novo onde ninguém ainda tinha sido colocado. Puseram ali o corpo de Jesus porque o túmulo ficava perto e também porque o sábado dos judeus ia começar logo” (João 19.40-42).
E as mulheres, onde estão enquanto isso acontece?
Mateus 27.61; Marcos 15.47; Lucas 23.55s.
Conclusão: As mulheres acompanham o sepultamento de Jesus. Lucas o descreve claramente: “As mulheres que haviam seguido Jesus desde a Galileia foram com José e viram o túmulo e como Jesus tinha sido colocado ali” (Lucas 23.55).
O sábado era dia de descanso para os judeus. Lucas informa que as mulheres também se retiraram e descansaram no sábado, segundo o mandamento (Lucas 23.56).
Como terá sido este sábado na vida dos discípulos e destas mulheres? Este dia de descanso deve ter sido um dia indescritível para eles e incompreensível para todos nós.
Então chega o domingo de manhã e logo encontramos as mulheres em ação. Os quatro evangelistas narram o que aconteceu no domingo de manhã cedo. Vale a pena reler os relatos dos evangelhos acerca da ressurreição de Jesus.
Mateus 28.1-10; Marcos 16.1-8-10; Lucas 24.1-12; João 20.1-18
Em alguns detalhes há diferenças entre os relatos. Conforme Marcos as primeiras testemunhas foram Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé. Conforme Mateus eram Maria Madalena e “a outra Maria”. Segundo Lucas eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, e “as demais mulheres” e conforme João, Maria Madalena.
Algumas constatações:
* As primeiras testemunhas da ressurreição foram apenas mulheres.
* O grupo de mulheres muda de acordo com os evangelhos.
* Apenas uma mulher aparece em todos os relatos: Maria Madalena.
Conclusão: As mulheres são as primeiras verem o Cristo ressuscitado.
E para concluir, vejamos o que acontece depois.
Mateus 28.5-8; Marcos 16.9-11; Lucas 24.8; João 20.17-18
Ainda que haja diferenças nos relatos sobre quem deu a incumbência de anunciar a ressurreição de Jesus (o anjo em Mateus, um jovem em Marcos, o próprio Jesus a Maria Madalena conforme Marcos e João, dois homens conforme Lucas), as mulheres foram as primeiras mensageiras ressureição de Jesus.
Não bastasse a indiferença, ou seria omissão dos discípulos, dois evangelistas ainda informam que eles não acreditaram na mensagem das mulheres (Marcos 16.11 e Lucas 24.11) e precisaram conferir os acontecimentos relatados, sendo que Jesus aparece a eles depois.
Conclusão: As mulheres são as primeiras mensageiras da ressurreição
Tanto faz o nome. Maria, Joana, Salomé, Maria Madalena. As mulheres, aquelas que no momento do “sucesso” nas pregações de Jesus pareciam tão distantes, aquelas que quase não encontramos nas páginas dos evangelhos, aquelas a quem Cristo não tinha falado sobre a sua ressurreição e para as quais, portanto, tudo tinha acabado na cruz e todas as esperanças se tinham irremediavelmente perdido, permaneceram fiéis, reafirmaram o seu amor ao Senhor, o seguiram até o fim e foram as protagonistas da mais bela história de amor.
Conclusão: O que seria dos homens, seguidores de Jesus, sem o desempenho das mulheres? Será preciso dizer mais para mostrar o valor das mulheres no seio da Igreja e no serviço do Reino de Deus?
P. Germanio Bender – Paróquia Martin Luther – Joinville.