Ao amigo, o melhor!

15/04/2020

Antônio era um velho mendigo que perambulava pelas ruas da capital. Ao seu lado, seguia o fiel escudeiro, um vira lata que atendia pelo nome de Marrom. Antônio não pedia dinheiro. Aceitava um pão ou um lanche. Quando suas roupas estavam acabadas, logo era socorrido por alguma alma caridosa. Mudava sua apresentação e era alvo de chacotas dos companheiros: Bonitão! Antônio era conhecido como um homem bom, que perdera a razão, a família, os amigos e até a própria identidade. Não gostava de bebida alcoólica, estava sempre tranquilo, mesmo de barriga vazia. Dizia sempre que Deus lhe daria um pouco na hora certa. E, sempre na hora de Deus, alguém lhe dava uma porção de alimentos. Então, ele agradecia e rogava a Deus pela pessoa que o ajudava. Tudo que ganhava, passava uma parte ao Marrom, que paciente comia e ficava a esperar por mais um pouco. Não tinha onde dormir. Onde anoiteciam, lá dormiam. Quando chovia, procuravam abrigo embaixo da ponte. E, ali ele ficava a meditar, com um olhar perdido no horizonte. Quando eu seguia ao trabalho, observava aquela figura enigmática que me deixava pensativo. Eu não entendia aquele velho parado no tempo, sem expectativa alguma. Certo dia, tomei coragem e fui bater um papo com o Antônio. Puxei conversa pelo Marrom, perguntando pela idade dele. O velho disse que não sabia, pois se encontraram pelas ruas. De fato, disse Antônio, com seus olhos fixos no cão: Nossa amizade começou com um pedaço de pão. Ele parecia estar faminto e eu lhe ofereci um pouco do meu almoço. Ele agradeceu abanando o rabo. Não me largou mais. Ele me ajuda muito e eu retribuo essa ajuda sempre que posso. Como vocês se ajudam? Perguntei. Ele me vigia quando estou dormindo. Se alguém chegar perto, ele late. Quando ele dorme, eu vigio para que nenhum outro cachorro o incomode. Continuando a conversa, perguntei: Antônio! Você tem algum desejo de vida? Sim! Respondeu ele. Tenho vontade de comer um cachorro quente, daqueles que a Zé vende ali na esquina. Só isso? É! No momento é só isso que eu desejo. Pois bem, então vou satisfazer o seu grande desejo. Saí e comprei um cachorro quente para o mendigo. Voltei e lhe entreguei. Ele arregalou os olhos dando um largo sorriso. Antônio agradeceu a dádiva. Em seguida, tirou a salsicha e deu ao Marrom, comendo o pão com os temperos. Não entendi aquele gesto do mendigo, pois imaginava ser a salsicha o melhor pedaço. Perguntei: Por que você deu para o cachorro logo a salsicha? Com a boca cheia, ele respondeu: Para o melhor amigo, o melhor pedaço. Continuou comendo, alegre e satisfeito. Despedi-me do Antônio. Passei a mão na cabeça do cão e saí pensando com meus botões: Com certeza, hoje aprendi uma grande lição.


Autor(a): P. Euclécio Schieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 56073
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2Coríntios 9.7
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