Temos um longo ano pela frente. Durante este ano nos encontraremos com muita gente. Veremos pessoas que já conhecemos e outras que nunca vimos ou com as quais nunca nos relacionamos. Veremos multidões. Como vamos olhar para estas pessoas, para estas multidões? Com que olhar as enxergaremos? Como “Comunidade Jovem / Igreja Viva” (tema da IECLB para 2012), qual será o nosso olhar missionário em 2013?
Existem vários tipos de olhares: o olhar preconceituoso, o olhar soberbo, o olhar do descaso, o olhar moralista; existe o olhar que exclui, que condena e que impõe medo. Mas também existem os olhares da compaixão, da solidariedade, da humildade, da inclusão.
O versículo bíblico acima fala do olhar de Jesus. Como Jesus via as multidões? Com o olhar da compaixão: “Viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles”. Ver com compaixão. Ver com o coração. Esse foi sempre o olhar de Jesus. Jesus olhou com compaixão não somente esta multidão, mas também muitas outras pessoas. Assim está relatado nos evangelhos. Jesus olhou com compaixão o jovem rico, o Zaqueu, o paralítico de Cafarnaum, a mulher samaritana, a mulher siro-fenícia, a mulher de Betânia, o Nicodemos, o cego Bartimeu, os dez leprosos e tantos outros.
O que é olhar com compaixão? A palavra “compaixão” lembra a palavra “compadecer”. Compadecer é “padecer com”, “sofrer com”. Ao olhar para as outras pessoas, ao olhar para as multidões, precisamos, em primeiro lugar, olhar para os sofrimentos que elas carregam e não para os defeitos que elas têm. Ao olhar para as outras pessoas precisamos, em primeiro lugar, prestar atenção nas suas feridas, nos seus traumas, nos seus medos, nas suas revoltas, nos seus sofrimentos, nas suas tragédias, nas cargas que elas carregam. O olhar compassivo é o olhar da solidariedade. Foi assim que Jesus fez. Antes de ensinar, de curar, de chamar ao arrependimento e de admoestar, Jesus viu com compaixão. No olhar de Jesus, a compaixão sempre esteve acima de qualquer outro pensamento, sentimento ou atitude. O primeiro olhar missionário de Jesus sempre foi o olhar compassivo.
Nós, muitas vezes, queremos fazer o caminho contrário. Ou melhor, nem fazemos o caminho. Fechamos o caminho com nossos preconceitos, com nossos julgamentos, com nossas condenações e com nossas imposições. E aí não existe caminho. O caminho que nos leva ao encontro das pessoas e das multidões permanece fechado se não houver compaixão. Se não houver compaixão não haverá missão.
Queremos abrir caminhos que nos levam em direção do próximo e das multidões? Então vamos enxergar com compaixão. Se a nossa primeira atitude for olhar para os defeitos dos outros, para as diferenças dos outros em relação a nós, para as manias e jeitos diferentes dos outros, então não vamos nos aproximar de ninguém. Porque ninguém é perfeito. Aí valem as palavras de Jesus: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” (João 8.7).
Quando impomos os nossos jeitos, as nossas convicções e as nossas verdades, fortalecemos a cultura do conflito, da divisão, da discriminação e da violência. Mas quando o nosso primeiro olhar é o olhar compassivo, estamos abrindo caminhos para a cultura da paz. A paz nasce do nosso olhar cheio de compaixão. A guerra nasce do nosso olhar que julga e que condena sem conhecer e sem assumir as dores e os traumas dos outros.
“SER, PARTICIPAR, TESTEMUNHAR – EU VIVO COMUNIDADE”. Esta é a proposta do tema da IECLB para 2013. Então vamos ter como primeiro olhar, ao encontrar pessoas e multidões, o olhar da compaixão. Foi assim que a “comunidade de Jesus”, ou seja, a Igreja Cristã, no decorrer de sua história, abriu caminhos para a edificação de comunidades acolhedoras e inclusivas que, assim, se tornaram sinais da presença do reino de Deus neste mundo.