(Palácio Piratini, Porto Alegre, 20/07/2007)
Walter Altmann
Pastor Presidente da IECLB 1 Coríntios 15.19
Digníssimas autoridades,
amigos e amigas do Dep. Julio Redecker e de sua família,
sobretudo estimada família enlutada (esposa Salete, filhos Lucas, Mariana e Vctória; pais Fritoldo e Vera),
demais familiares,
irmãos e irmãs na fé e na esperança!
O apóstolo Paulo proclama aos coríntios:
Se a nossa esperança em Cristo
só vale para esta vida,
nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo.
Que essa palavra do apóstolo nos inspire neste momento. Um trágico e devastador acidente aéreo nos reuniu para nos despedirmos do Deputado Julio Redecker. A família perde um filho-esposo-pai amoroso e dedicado, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil perde um de seus membros que encarava a atuação na vida pública brasileira como vocação, o Rio Grande do Sul e o país perdem um político que pautou sua atuação por um elevado padrão moral e ético. A dolorosa despedida nos enseja mais do que lembrança, gratidão e última homenagem. Ela nos é oportunidade de reflexão, uma reflexão sobre o sentido da vida, sobre seus limites e seu alvo.
Há ocasiões em que a dor se associa à indignação, ou mesmo à revolta. É o que testemunhamos nestes dias. O trágico desfecho do vôo 3054 nos faz indagar quanto houve de fatalidade, quanto de falha humana ou equipamentos, quanto de negligência ou irresponsabilidade. A apuração dos dados poderá nos aproximar dessa verdade. Oxalá seja conduzida de molde a nos levar ao conhecimento do que realmente causou a tragédia. É certo que convém não nos precipitarmos, sobretudo não em juízos, mas já agora o povo brasileiro sofre sob a torturante sensação de que esse acidente não precisaria ter acontecido e, portanto, a Nação não precisaria prantear a perda de tantas vidas preciosas.
Em momentos de sofrimento como este nos sobrevêm também numerosas e angustiantes perguntas. Dúvidas profundas podem até mesmo abalar a nossa fé. O princípio do consolo se encontra na percepção de que o gracioso Deus não proíbe nosso contundente clamor: por quê?, por quê? Ao contrário, em sua misericórdia Deus ouve e acolhe nosso clamor qual mãe amorosa que conforta e ampara seu filho ou sua filha.
Entretanto, Deus também nos convida a que reflitamos sobre esta outra questão que é decisiva: para que vivemos? Para quê? Deus nos confiou uma bela natureza para que dela cuidássemos. Deus nos fez seres que se relacionam uns com os outros, para que vivêssemos em comunidade solidária e fraterna. Deus nos dotou do espírito para que pudéssemos nos comunicar com ele, ouvir sua palavra, levar a ele nossas angústias e louvor, em suma: viver com ele. Assim, Deus nos destinou para a eternidade.
O apóstolo Paulo tinha essa convicção. Ela estava baseada em Cristo, em sua vida, morte e ressurreição. Para ele, a ressurreição de Cristo era o penhor de nossa própria ressurreição. A morte não tem a última palavra e, portanto, muito menos têm a última palavra a fatalidade e a negligência, a dor e o sofrimento. Nossa esperança não está limitada a esta vida, não precisa estar limitada a esta vida. Ela aponta para o próprio Deus que ergue quem está desfalecido e restaura nele a vida de quem aqui a perdeu. Em fé e esperança podemos confiar e anunciar: com Deus viveremos. Nesta convicção reside o consolo mais perfeito. Deixemos, pois, que, passo a passo, esse consolo responda a nossas indagações e inunde nosso coração. Amém.