Alegria - João 16.22

Prédica

01/11/1970

ALEGRIA

João 16.22

Juiz de Fora – 1º. de novembro, 1970
 

Jesus diz: Vós agora estais tristes; mas eu vos verei de novo e vosso coração se alegrará; e ninguém poderá tirar a vossa alegria. 

Nosso mundo é um mundo de coisas que, um dia. chegarão ao fim. Tudo passa sobre a terra. Para compreender isso, tomemos um exemplo bem pessoal: um dia chegará, chegará uma hora da manhã, da tarde, da noite ou da madrugada, em que eu vou morrer. Vou ter de morrer! E, para mim, isso vai significar, nada mais nada menos que o fim do mundo. Não haverá mais sol nem cores e tudo isso que foi, para mim, a vida, terá acabado. Como se nunca tivesse existido. Minhas chances e possibilidades, minhas ações boas ou más, minhas alegrias e minhas tristezas - tudo isso será arquivado, engavetado, posto de lado como coisa encerrada. Alguns anúncios de falecimento, alguns colegas para carregar o caixão. E, então, um outro pastor vai assumir a comunidade que foi a minha última. Outras pessoas ocuparão o lugar que ocupei em alguns corações. E só. Nada mais. 

Quer dizer: qualquer pessoa, importante ou desconhecida, rica ou pobre, feliz ou infeliz, sadia ou doente, boa ou má, está limitada pelo seu tempo, seu lugar, sua energia, e suas oportunidades. Está limitada. Isto é: existe para nós uma fronteira intransponível. Na Patagônia ninguém me conhece. Ninguém sabe ou quer saber, se estou vivo ou morto. Aliás, mesmo com pessoas muito importantes, acontece a mesma coisa. Claro, de vez em quando acontece a comemoração de um centenário. Durante alguns dias, pode-se ler alguma coisa nos jornais. Duas semanas depois, todo mundo já esqueceu o assunto. Ninguém pode dar a eternidade a ninguém, nem a si próprio. 

E assim é com tudo: nossos interesses e nossas relações, felizmente os equívocos e mal-entendidos e o peso que carregamos na vida, tudo isso vai alcançar um ponto em que se transformará numa coisa sem importância. Aquilo que desejamos ardentemente será posto de lado. O que construímos, ficará velho e será demolido. Nossas realizações serão substituídas pelas realizações de outros. Felizmente! Porque também o sofrimento, qualquer sofrimento, um dia vai terminar. 

Como seria bom, se nos lembrássemos disso, de vez em quando! O problema é que quase nunca nos lembramos de que todos os problemas também têm o seu fim! As coisas sempre nos parecem permanentes, irreversíveis, intermináveis: nossa felicidade e nossa dor, nossos êxitos e nossos fracassos. Nossas propriedades e nossas perdas. Nossas boas intenções ( essas nunca acabam, não é?) e — desgraçadamente — nossas paixões. Nós vivemos como, se fôssemos ficar para sempre. Achamos que a pessoa amada vai existir para sempre. E — o que é um mal — achamos que o inimigo vai viver sempre... No entanto, meus irmãos, o maior inimigo do homem, qual é? São as coisas permanentes, imutáveis, irreversíveis. Quando alguma coisa se torna perpétua, ela passa a possuir-nos. Somos prisioneiros dessa coisa, em vez de ser gente livre. No entanto, nada é perpétuo, nada é irreversível, nada é permanente ou imutável. Se nós nos lembrássemos disso, de vez em quando, é claro que continuaríamos a rir e chorar, a ficar com raiva e amar; a vida seria uma coisa séria com humor.

A gente pode olhar coisas sérias com humor? Quando vamos ao cemitério, que é que tem de humor nisso? Não é assim que, quando vamos ao cemitério, nos assalta um sentimento tanto quanto doloroso da transitoriedade de todas as coisas? Diante de um túmulo não nos ocorre que tudo e todos são passageiros? A lembrança que temos de uma pessoa que morreu, não é sempre pálida — e cada vez mais pálida — à medida que passa o tempo? Isso é triste. Onde fica o humor? 

Se folhearmos nossa Bíblia, vamos encontrar uma série de passagens que falam disso. Davi confessa numa oração: Sou forasteiro à tua presença, Senhor, peregrino como todos os meus pais o foram. E se lamenta: O homem, nascido de mulher, vive breve tempo, cheio de inquietação. Nasce como a flor e murcha; foge como a sombra, e não permanece. Seus dias estão contados. Tu, Senhor, puseste limites ao homem, além dos quais não passará. Tiago escreve em sua epístola: Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. 

Onde está o humor? Humor tem algo a ver com alegria e esperança. E a alegria e a esperança só podem existir, em nossa vida, quando pensamos claramente no fim. Não adianta disfarçar ou mascarar. Igreja não é lugar de disfarces ou máscaras. Pensemos no fim de tudo. É ali que está o começo da alegria e da esperança. 

As palavras de Jesus foram ditas no fim de uma convivência, de uma amizade, de um caminho. São palavras de despedida. Vós agora estais tristes! Quer dizer: Jesus conhece e compreende nossa tristeza! Por quê? Porque sua vida, sua ação consistiram e consistem em vencer nossa miséria e conduzir-nos à liberdade! Toda a vida de Jesus foi uma dramática luta contra os poderes que querem destruir-nos. Foi uma luta contra a morte! O ponto alto desse começo de uma nova vida, começo de novo mundo. Por isso Jesus diz: Agora estais tristes, mas vosso coração vai alegrar-se. 

Eu vos verei de novo (o problema de rever os entes queridos). 

Temos a promessa, não a descrição. Serás transformado naquilo que amas! 

Ninguém poderá tirar a nossa alegria!

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 22
Título da publicação: Ressurreição - Centro Ecumênico de Informações / Editora: Tempo e Presença Editora Ltda. / Ano: 1973 / Volume: Suplemento Número 4
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 22270
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