Água em vinho!

20/01/2021

 

Seguindo a tradição judaica, com 8 dias Jesus foi circuncidado, integrando-se assim ao Povo de Deus. Com 12 anos, em Jerusalém fez a Profissão de Fé, assumindo suas responsabilidades como cidadão judeu. Em ambos momentos, houve festa na Família Sagrada. Volta e meia, reunidos seguiam para festejar a Páscoa em Jerusalém. Por fim, Cristo escolheu justamente a Páscoa para se entregar na cruz e ressuscitar. Já a descida do Espírito ocorreu noutra festa, da Colheita. Em seu ministério, Jesus jamais rejeitou convite para estar à mesa com seus anfitriões, seja Marta, Maria e Lázaro, ou Zaqueu, Mateus e Simeão. No momento de sua despedida, ele mesmo convidou e preparou a Última Ceia, onde – através do sacramento - deixou claríssimo o Evangelho, entregando-se em nosso lugar. Onde quer que Jesus estivesse, seja no monte ou na sinagoga, em casa ou na estrada, no campo ou junto ao mar, pregando um sermão ou num jantar festivo, ele aproveitava para anunciar o Reino de Deus.

O terceiro momento de Epifania (revelação) do nosso Senhor acontece em Caná da Galileia. O que Jesus fazia ali? Era festa de casamento de algum parente dele. Maria e os seus amigos também estavam lá. No meio da festa, Jesus realiza, segundo o evangelista João, seu primeiro milagre, transformando água em vinho. Jesus promove uma bebida alcoólica? Impossível! Tal milagre incomoda os legalistas que proíbem todo e qualquer acesso às bebidas. De carreto, muitos proíbem ainda a dança e a festa. As três situações estavam presentes em Caná, com Jesus totalmente envolvido. Convém destacar que um dos frutos do Espírito é o domínio próprio (Gálatas 5.23). O problema não está na bebida e sim na embriaguez. O problema não está no sexo, sim na libertinagem. O problema jamais esteve no dinheiro, antes na ganância. O problema jamais esteve no exercício da autoridade, mas no autoritarismo.

Assim João narra o milagre: “Houve um casamento no povoado de Caná na Galileia, onde Maria estava presente. Jesus e os seus discípulos também tinham sido convidados. A mãe lhe disse: Filho! O vinho acabou. Ele respondeu: Não é preciso que a mãe me diga o que eu devo fazer. Ainda não chegou a minha hora. Então, Maria disse aos servos: Façam o que ele mandar. Havia ali seis vasos enormes. Em cada um cabiam entre oitenta e cento e vinte litros de água. Os judeus usavam os vasos nas suas cerimônias de purificação. Jesus disse aos servos: Encham-nos de água. Eles obedeceram, enchendo-os até a boca. Em seguida, Jesus mandou: Agora retirem um pouco desta água e levem ao dirigente da festa. Assim, eles obedeceram. Então, o dirigente da festa provou a água, que tinha virado vinho. Ele não sabia de onde tinha vindo aquele vinho. Somente os empregados sabiam. Ele chamou o noivo e disse: Todos costumam servir primeiro o vinho bom. Depois que os convidados já beberam muito, servem o vinho inferior. Mas, você guardou até agora o melhor vinho. Esse foi o primeiro milagre de Jesus em Caná da Galileia. Assim, revelou a sua natureza divina. Os discípulos creram nele” (João 2.1-11).

O que aconteceu? Uma festa dá muito trabalho. Antes, durante e depois. Da lista de convidados, há aqueles que não vem e não avisam. Há aqueles que chegam sem avisar. O espaço precisa ser organizado, tanto para celebrar, quanto para se divertir. É necessário comida e bebida na medida, sem que falte ou ocorra desperdício. Não é que a festa estava animada, mas faltou vinho. Diante da crise e dos problemas, fugir ou enfrentar? Lavar as mãos e reclamar ou buscar uma solução. Entre o debochar e o ajudar se revela o caráter das pessoas. Maria perceptiva e solícita colocou-se à disposição. Ela conhecia bem Jesus, ao qual pede ajuda para resolver a encrenca. Diferente de muitos sacerdotes e religiosos, Jesus não faz questão de parecer como “milagreiro”. Nunca quis e jamais buscou fama sobre si. Não se aproveitou do momento para embalar seu ministério. De maneira sóbria e discreta, resolveu ajudar sem mostrar a mão. Aliás, sempre foi a sua regra: “Dê com uma mão sem que a outra se mostre” (Mateus 6.3).

Jesus faz um milagre partindo do elemento mais básico à vida, a água. Da simplicidade é que procede a solução. Logo adiante ele mesmo se identifica como a “Água Viva” (João 4.10-14). Àqueles que se propõe em buscar solução em Jesus, jamais sairão sem uma resposta. A fé é essencial à vida. A fé permite força, criatividade e direção diante da crise. Quem já experimentou, sabe a verdade. Quem ainda não o fez, poderá ver um milagre de Jesus em sua própria vida. Basta apelar. Em busca da solução, Jesus envolve os servidores da festa. Ele poderia ter resolvido a pendenga por si mesmo. Ele é o filho de Deus. Mas, não. Disse aos moços: Peguem vasos, encham e levem ao organizador da festa. No meio desse procedimento, a água se tornou vinho. Aliás, não somente um vinho qualquer, mas uma bebida “superior”. Jesus sempre deixou claro que deseja aos seus amigos “vida abundante” (João 10.10). Quem sabe, na eternidade, na mesa do Senhor, provaremos o gosto deste vinho de Caná. Por fim, a festa continua.

O que podemos aprender do fato? Quando estamos no limite das nossas capacidades, quando aparentemente se extinguiram as possibilidades, aparece a mão de Deus. Naquilo que eu não posso mais, Jesus toma conta. Da água, o vinho. Da crise, a bênção. Da fraqueza, a força ou também o céu. Enfim, a festa e a vida tiveram continuidade. O organizador ficou surpreso com o vinho. Os servos sentiram orgulhosos em ajudar. Os discípulos ficaram maravilhados com a capacidade de Jesus. Uma mãe ficou feliz e agradecida com seu filho. É Epifania. Jesus se revela dando continuidade ao seu ministério.

Convém lembrar ainda alguns cuidados ensinados pelo texto. Primeiro, Jesus não é a favor, nem contra as bebidas alcoólicas. Ele sempre foi e será exemplo de equilíbrio. Segundo, Jesus fez e faz milagres. Ele curou, tirou demônio, multiplicou e transformou. Todavia, jamais quis ser um “milagreiro e curandeiro”. Jesus veio para pregar o Reino de Deus. Ele nos leva ao Pai. Ele é Salvador e Senhor. Então, muito cuidado com igrejas e pastores que insistem nos seus “supostos” poderes. Tolice! Cuidado com aqueles que gostam de movimentar massa popular para louvar e espiritualizar. Sim! Isso é importante. Todavia, a essência está na Palavra, na pessoa de Jesus. Sigam sempre ao Mestre. Só ele leva ao Pai. Amém!


Autor(a): P. Euclécio Schieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 60902
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Ninguém sabe o que significa confiar em Deus somente, a não ser aquele que põe as mãos à obra.
Martim Lutero
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