Advento, tempo de espera. Não apenas de um dia, mas daquilo que os dias, todos os dias, de forma silenciosa, transportam: a Vida, o mistério apaixonante da Vida que em Jesus de Nazaré principiou.
Advento, tempo de redescobrir a novidade escondida em palavras tão frágeis como nascimento, criança, rebento.
Advento, tempo de escutar a esperança dos profetas e profetisas de todos os tempos.
Advento, tempo de preparar, mais do que consumir. Tempo de repartir a vida, mais do que distribuir embrulhos.
Advento, tempo de procura, de inconformismo, até de imaginação para que o amor, o bem, a beleza possam ser realidades e não apenas desejos para escrever num cartão.
Advento, tempo de dar tempo a coisas, talvez, esquecidas: acender uma vela; sorrir a um anjo; dizer o quanto precisamos dos outros, sem vergonha de parecermos piegas.
Advento, tempo de se perguntar: há quantos anos, há quantos longos meses desisti de renascer?
Advento, tempo de rezarmos à maneira de um regato que, em vez de correr, escorre limpidamente.
Advento, tempo de abrir janelas na noite do sofrimento, da solidão, das dificuldades e sentir-se prometido às estrelas, não ao escuro.
Advento, tempo para contemplar o infinito na história, o inesperado no rotineiro, o divino no humano, porque o rosto de um Homem nos devolveu o rosto de Deus.
José Tolentino Mendonça (Padre e poeta português)