Amados irmãos, amadas irmãs,
imaginem um menino que ganhou um presente do seu avô. Ele abre a caixa ansiosamente e encontra um belo videogame que há muito tempo desejava. Agora, o menino tem duas opções: ele pode simplesmente instalar o videogame e jogar por horas e horas ou pode parar, pelo menos por um momento, olhar para o vovô e dizer: “Obrigado vovô. Eu realmente amei o presente”.
Essa mesma decisão está diante de nós todos os dias. E essa história está diretamente ligada ao texto que ouvimos. Jesus estava indo para Jerusalém, passando pelo meio da Samaria e da Galileia (v. 11). Ou seja, Jesus estava passando pelo interior; são terras de fronteiras, distantes da agitação dos centros das cidades. Mas não significa que eram lugares inabitados; ao contrário, era ali que viviam os leprosos – excluídos da sociedade para que não contaminassem outras pessoas.
Jesus é reconhecido à distância pelos leprosos como Mestre. E eles pedem uma coisa apenas: “tenha compaixão de nós!” (João 17.13). Eles não têm outra alternativa senão apelar pela misericórdia de Deus. E é isso que fazem. Aliás, fazem mais: obedecem a Jesus quando os enviou aos sacerdotes – que iriam atestar se ainda estavam com a doença. “Aconteceu que, indo eles, foram purificados”. (João 17.14). Sem exceção, todos os dez leprosos foram curados. Já não estavam mais doentes.
É a mesma situação do menino e do avô. Mas a cura de uma doença que na época não tinha cura nos leva para uma outra dimensão da gratidão. Qual seria a nossa decisão? Bem, todos os dias Deus nos abençoa com muitos presentes: ar, água, comida, lar, família, proteção, afeto. Temos saúde, amor, paz e felicidade. Em sua boa Criação, Deus não faz distinções entre justos e injustos, mas concede o necessário para a vida a todas as pessoas.
E o que fazemos? Corremos loucamente para usufruir desta vida como se não houvesse amanhã ou paramos um momento para agradecer as tantas bençãos recebidas – que nem sequer somos capazes de contar! Nove decidiram continuar seu caminho; um decidiu voltar e agradecer. Qual é a sua decisão? Diariamente? Bem, eu não gosto de ser pessimista. Por isso, posso dizer que se você decidiu vir ao Culto de Ação de Graças para agradecer a Deus, você já tomou a melhor decisão.
O que é necessário entendermos é que não basta a palavra dita sem prática. O testemunho precisa vir acompanhado da ação. Gratidão não é apenas dizer “obrigado”, mas agir como uma pessoa agradecida. Por isso, a gratidão e a solidariedade são entrelaçadas. O verdadeiro agradecimento não se limita a palavras, mas se estende através das ações que praticamos a quem está ao nosso redor – ao nosso próximo! Uma vida egoísta é uma vida ingrata; uma vida solidária é uma vida cheia de gratidão.
Servimos a Deus por meio do próximo. Essa é a nossa missão! Somos chamados não apenas a desfrutar de maneira egoísta das bênçãos que recebemos; somos chamados/as a abençoar outros/as compartilhando aquilo que temos. Essa é a vida realmente cheia de gratidão: uma vida que cultiva a solidariedade, a fraternidade, a justiça e a paz.
Vivemos em um mundo agitado, é verdade. Na correria, é difícil parar para agradecer. O que queremos é desfrutar de toda a felicidade tanto quanto possível. No relato de Lucas, nove ex-leprosos não retornaram para agradecer a Jesus, mas apenas um. Quantas vezes nós somos como aqueles nove! Só queremos receber as bênçãos de Deus; mas agradecer...
O convite de Deus a nós hoje é um convite ao amor prático. Se não temos uma vida marcada pelo amor de Deus, não teremos como abençoar outras vidas com o amor de Deus! Ninguém pode dar aquilo que não tem! Coração vazio, doação vazia!
Deus já nos doou tudo o que precisamos! O próprio Deus fez uma oferta pelo ser humano! E Deus ofertou o que tinha de melhor! Não enviou um anjo, não enviou um arcanjo... Deus enviou seu próprio Filho Unigênito – único gerado! Deus Pai ofertou seu Filho Jesus Cristo a morrer na cruz pela nossa salvação. Sim! Nossa salvação custou um alto preço. Mas quantos voltam para agradecer? Quantos reconhecem o agir de Deus na História da Salvação? E quantos agradecem não com um mero “obrigado”, mas com ações que realmente fazem a diferença no dia a dia para a construção de uma sociedade melhor?
A minha impressão é que infelizmente a história contada por Lucas se repete diariamente no mundo em que vivemos. Não há tempo para Deus. Ou pior: quer-se relacionar com Deus sem a Igreja – o que é impossível, visto que a Igreja é o próprio Corpo de Cristo!
Amados irmãos, amadas irmãs,
hoje é dia de agradecer. Hoje é dia de celebrar tudo o que já recebemos de Deus. Mas o agradecimento acontece na prática. E é com esse pensamento que essa comunidade que geralmente recebe ofertas decidiu, neste culto, ofertar. Não significa que estamos com recursos de sobra. Mas há quem precise mais que nós neste momento!
No mês de Junho, uma das instituições mais afetadas pelas chuvas e enchentes foi a APAE Sapiranga onde entrou de 0,90 centímetros a um metro de água. Houve muitas perdas. Muita coisa já foi reposta graças às doações da população e de entidades de Sapiranga. Mas ainda há a necessidade de recursos para equipamentos clínicos que foram perdidos.
Jesus teve compaixão dos leprosos. Não excluiu nenhum, mesmo sabendo que apenas um voltaria para agradecer. Esse é o convite que Jesus faz a nós hoje que somos Igreja, seu Corpo: vamos ter compaixão! Vamos ter misericórdia! Vamos ajudar a APAE! O lindo trabalho que ali é realizado não pode parar!
É o momento da decisão! Podemos fazer como os nove leprosos que receberam muitas bênçãos e ignoraram a gratidão na prática da solidariedade; ou podemos ser como aquele único que optou por agradecer. Ele foi salvo por sua fé, disse Jesus (v. 19). Como pessoas de fé, não estamos alienados da realidade de sofrimento à nossa volta. Nossa fé precisa ter pé-no-chão. Qual será sua decisão?
Na Liturgia da Ceia do Senhor, realizaremos o ofertório. Venha! Ajude! Contribua! Faça parte dessa ação! Não faça para receber algo em troca de Deus; ao contrário, faça por tudo o que você já recebeu de Deus.
Não é possível viver a fé em Deus sem empatia pelo próximo. O individualismo não é um valor do Reino de Deus. No reino de Deus, um dos maiores valores é a comunhão. É unindo forças que fazemos a diferença.
Que cada oferta que fizermos hoje seja um ato de gratidão a Deus pelas bênçãos que já nos foram concedidas. Experimentemos pessoalmente quão prazerosa é a alegria de doar e ajudar. Concluo com as palavras do apóstolo Paulo: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.” (2 Coríntios 9.7). Que Deus já esteja abençoando as dádivas e também aos doadores. Amém.
5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – AÇÃO DE GRAÇAS | VERMELHO | CICLO DO TEMPO COMUM | ANO A
02 de Julho de 2023
P. William Felipe Zacarias