Ação de Graças - Alegrai-vos sempre no Senhor

21/06/2015

Render graças a Deus é um costume muito antigo do povo de Deus. Moisés, no livro de Deuteronômio (8.7-19) alerta para a finalidade da gratidão a Deus: não esquecer do Senhor.

Nas comunidades luteranas, celebra-se culto em Ação de Graças a Deus pelas colheitas. As pessoas, além de agradecer a Deus, trazem o melhor das colheitas para o templo, trocam sementes, ovos, mudas de plantas e animais domésticos, para serem novamente plantados e criados nas propriedades. Neste ano temos ouvido muitas lamúrias sobre a colheita do café. A reclamação é de que a produção está sendo menor.

É bom louvar a Deus pelos frutos da terra, pelos animais que nasceram, pelo emprego e salário que dá sustento para a família, pela saúde, pela vida, ou seja, por todas as bênçãos recebidas das mais diversas formas.

O louvor, a gratidão a Deus nos coloca na condição de pessoas agradecidas por todas as circunstâncias que Ele, Deus, nos permite vivenciar. Vale lembrar que Deus se revela inclusive no sofrimento e nas adversidades da vida. Para muitos o louvor a Deus é esporádico. Num momento Deus é bom e noutro deixa de ser e é visto com suspeitas. A razão disso é que o conceito do que é bênção e o que não é, é determinado por conceitos e percepções vagas e sem fundamento bíblico para a maioria dos cristãos.

Daí, a alegria e gratidão deixam de ser uma virtude e passam a ser uma eventualidade “sentida” esporadicamente. O pastor da Igreja Presbiteriana, Ricardo Barbosa nos lembra que: “Quando vivemos a vida da fé por espasmos, procurando neuroticamente identificar o que é divino e o que não é, experimentando ocasionalmente os benefícios da graça e suspeitando de Deus nos demais eventos, sem reconhecer a bondade soberana de Deus sobre toda a vida, terminamos por não experimentar a virtude da alegria que depende, sobretudo, da capacidade de reconhecer a presença e o cuidado de Deus em todos os momentos e segmentos da vida e da história”.

Certa vez uma senhora, que frequentava uma denominação neopentecostal muito radical me disse: “O crente, ou seja, aquele que é fiel a Deus, dá o seu dízimo direitinho, só pode receber bênçãos, saúde e prosperidade de Deus. Deus dá tudo o que ele quer em troca da sua fidelidade. Deus jamais deixará passar por dificuldades”.

Eu respondi que na bíblia há textos que nos chamam a louvar a Deus também nos momentos de adversidade. Um destes textos encontramos no livro do profeta Habacuque 3.17-18 onde lemos: Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimentos, as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. A senhora olhou para mim com um semblante cheio de espanto e disse: Preciso falar com o pastor da minha igreja. Ele nunca falou nada sobre este texto.

A bíblia não estabelece condições ou restrições para a gratidão a Deus. Como filhos de Deus somos chamados a desenvolver uma relação afetiva e incondicional com Deus. Nesta relação do cristão com Deus precisa ser regatado o caminho do amor e da amizade desinteressada por Deus. Surge, então, a gratidão como expressão de uma espiritualidade verdadeiramente cristã e fundamentada na bíblia.

Aquele que ama a Deus de fato e de verdade, o ama sem esperar nada em troca. Ao contrário do que ouvimos diariamente nos discursos da teologia da prosperidade. Amar e ser grato a Deus com ou sem dinheiro. Louvar a Deus na alegria e na tristeza. Na verdade, a gratidão é a forma como vemos e reconhecemos o cuidado e a bondade de Deus sobre o mundo que ele criou.

O maior exemplo de alegria e gratidão a Deus podemos encontrar na pessoa de Jesus Cristo. Jesus foi o “homem das dores”, experimentou os sofrimentos do mundo, mas jamais se viu separado do amor do Pai. A sua comunhão com o Pai nunca foi quebrada, apesar das dificuldades e dos sofrimentos. A nossa comunhão incondicional com Deus é a fonte da verdadeira gratidão e alegria e que nos fará ser sempre gratos a Deus.

A gratidão que experimentamos vem do Senhor, que apesar das mazelas do mundo, permanece cuidando, abençoando e nos salvando. A gratidão e a alegria pertencem ao reino de Deus e isto requer de nós uma opção pela luz, mesmo quando há muitas trevas. Uma opção pela vida, mesmo quando as forças da morte são fortes e assustadoras. Uma opção pela verdade mesmo quando a mentira parece reinar. Todos os dias podemos fazer a opção em dar graças a Deus, ou então, em não dar graças a Deus. A escolha pela gratidão é a nossa participação na ação redentora de Deus na história da humanidade. Agradecer é um sinal do reino de Deus entre nós. É um testemunho de que ele age e nos abençoa.

Quem não agradece, dificilmente vai perceber o agir de Deus na sua vida. Vai fazer de Deus aquele que deve estar pronto a fazer tudo o que a sua vontade deseja. Jesus nos ensina, na oração do Pai Nosso, a pedirmos todos os dias o “pão nosso de cada dia nos dá hoje”. Isso significa ser grato a Deus todos os dias da vida. Por isso, mesmo que a colheita do café seja menor, isso não justifica que o nosso louvor e gratidão a Deus deva diminuir.

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É isto que significa reconhecer Deus de forma apropriada: apreendê-lo não pelo seu poder ou por sua sabedoria, mas pela bondade e pelo amor. Então, a fé e a confiança podem subsistir e, então, a pessoa é verdadeiramente renascida em Deus.
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