É uma história antiga, do tempo em que o refrigerante vinha em garrafa. Bons tempos aqueles... A tampinha foi estampada em latão. Em poucos dias já cobria a boca de uma garrafa. Ela viajou por muitas cidades. Passou por diversas mãos... Até que...Chulup! Um menino abriu a garrafa e tomou seu conteúdo. Assim, a tampinha cumpriu sua missão. Agora era “apenas” lixo. Na poeira, foi chutada de um lado ao outro. Certo dia, apareceu um menino que disse: Viva! Essa tapinha aqui eu não tenho em minha coleção. Novamente, sentiu-se útil. Por alguns meses, ela passou de mão em mão, como moeda de troca, de uma coleção para outra. Mas, o tempo também foi passando... Por fim, a coleção foi esquecida numa caixa de sapatos. Depois de anos, o irmão mais novo do colecionador, numa brincadeira de guerra e soldados, fez daquela tampinha uma medalha no seu peito. Ela se sentiu de novo orgulhosa. Mas, o menino cresceu. Passou para outras brincadeiras... E a tampinha foi esquecida - junto de centenas outras - numa lata de banha. É o meu fim... Pensou. Todavia, ainda não... Um vovozinho ajuntou a lata, espalhou as tampinhas à sua volta. E, uma a uma, meteu um prego bem no meio, colocando-as lado-a-lado num curioso capacho na entrada do armazém. No primeiro momento, a dor foi grande. Mas, em seguida, sentiu-se novamente útil. As pessoas que chegavam, esfregando seus sapatos, lá deixavam o barro da rua. E, a tampinha pensou consigo: Como é a vida... Criados inicialmente por uma razão, terminamos a vida bem noutra. Assim é possível sempre redescobrir a vida. Quem sabe até... Entender as palavras do Sábio quando disse: Na vida, tudo tem o seu tempo (Eclesiastes 3.1). Ou ainda, entender Moisés quando orou: Ensina-me a contar os meus dias, Senhor (Salmo 90.12).