“Era uma vez um rei de coração muito bom e de cabeça muito tola. O seu coração era bom porque o que ele mais desejava era que todos os que moravam no seu reino, crianças, jovens, homens, mulheres e idosos, vivesse sempre alegres. E a sua cabeça era tola porque acreditava que ele, rei, tinha o poder de fazer e realizar os desejos do coração por meio de decretos. Assim, para que todos os seus súditos vivessem alegres, sua cabeça tola baixou o seguinte decreto:
Artigo Primeiro: Fica decretado que todas as pessoas do meu reino sejam alegres;
Artigo Segundo: Fica decretado que todas as tristezas são proibidas.”
Assim como na história acima, a nossa sociedade é regida pelo decreto da alegria. Nela a busca pela alegria plena é incessante. Temos que viver em eterna festa, já que ela é o local de alegria por excelência. Para garantir a eterna festa, nos dias de folga, somos instigados (as) a participar de eventos e espaços repletos de muita comida, bebida, música e dança. Além disso, para cada mês do ano encontramos uma data comemorativa em nosso calendário. Saímos de uma festividade e já entramos em outra, por exemplo, acabamos de passar pelas festividades do final de ano (Natal e Ano Novo) e já somos lembrados (as) que o carnaval vem aí!
Na sociedade da alegria, a tristeza e as coisas causadoras da mesma são proibidas. Para evitar as tristezas, temos que evitar vínculos profundos, pois a ruptura deles entristece o nosso viver. Temos que esquecer os momentos especiais e as pessoas queridas que partiram, deixando aquela doída e triste saudade. Temos que deixar de ouvir músicas, ver filmes, ler notícias tristes, ler livros e poesias que nos emocionam, que nos fazem chorar e que deixam os nossos corações apertados e entristecidos.
Porém a vida da humanidade e a fé cristã estão construídas sob a mistura das alegrias e das tristezas. Afinal, foi numa noite fria, de tristeza, em meio aos animais, num berço de palhas e na fragilidade de uma criança que Deus veio ao nosso encontro (Cf. Mt 1.18-25).Diante do ato amoroso de Deus, que veio conosco habitar, a noite fria e triste se transformou numa noite feliz. O Deus conosco, enfrentou a tristeza, a solidão do deserto, o sofrimento e a morte na cruz por nós (Cf.Lc 23.33-56). Mas, a escuridão da morte foi transformada por Deus em alegria e esperança de vida nova, através da ressurreição (Cf. Mc 16.1ss).Sem a tristeza da cruz não haveria a alegria da ressurreição e sem a alegria da ressurreição a tristeza da cruz seria insuportável. Dessa maneira, “sem as tristezas, as alegrias são máscaras vazias, e sem as alegrias, as tristezas são abismos escuros. É por isso que os olhos, lugar dos sorrisos, são regados por uma fonte de lágrimas. São as lágrimas que fazem florescer a alegria.”
ALVES, Rubem. O Decreto da Alegria. São Paulo: Paulus, 2008. p. 02.
ALVES, 2008. p. 23.