A simplicidade, empatia e resiliência na missão de articular e animar pessoas

Com trajetória plural, Pa. Dra. Marcia Blasi inicia os trabalhos na Federação Luterana Mundial

05/04/2021

 

A Pa. Dra. Marcia Blasi passa a atuar, a partir de abril, na condução do Programa de Justiça de Gênero e Empoderamento das Mulheres da Federação Luterana Mundial (FLM). Assim como nas demais recentes nomeações, a dinâmica de trabalho vai funcionar de forma remota, com atuação a partir do país de residência e junto a alguma instituição ou igreja local ligada à FLM.

Marcia Blasi é Doutora em Teologia pelo Programa de Pós-Graduação em Teologia da Faculdades EST, São Leopoldo/RS (2017), Mestra em Teologia pelo Graduate Theological Union, Berkeley-CA/EUA (2001) e Bacharela em Teologia pela Escola Superior de Teologia (1997). Sua trajetória profissional inclui o ministério ordenado pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), a docência no bacharelado em Teologia, e as coordenações do Programa de Gênero e Religião e do Bacharelado em Teologia da Faculdades EST. Destaca-se, também, sua participação como assessora no Conselho da FLM e a contínua contribuição com a Rede de Mulheres e Justiça de Gênero América Latina e Caribe e América do Norte.

Como executiva do Programa de Justiça de Gênero e Empoderamento de Mulheres da FLM, Blasi permanece vinculada a Faculdades EST e continua a apoiar o Programa de Gênero e Religião e o Instituto Sustentabilidade América Latina e Caribe.

Na entrevista abaixo, Blasi fala sobre as perspectivas de trabalho, os desafios regionais e globais e suas contribuições para as discussões sobre o tema da Justiça de Gênero e Empoderamento das Mulheres. Confira!

Considerando o impacto global do programa e as discussões de justiça de gênero e empoderamento das mulheres nos diferentes continentes, quais são os desafios que surgem a partir desse contexto e como você avalia as possibilidades de avanço das discussões acerca do tema?

O tema da justiça de gênero e o consequente empoderamento de mulheres é um tema global. Relações injustas, assimétricas e violentas estão em toda a parte, em todas as sociedades, em todas as construções epistemológicas, em todas as teologias. Buscar uma forma justa de relação entre as pessoas é um mandato bíblico-teológico e é um pilar fundamental na busca por direitos humanos. Os avanços conquistados ao longo de décadas, especialmente através das organizações de mulheres, têm sido derrubados por propostas populistas, misóginas e até mesmo fascistas. A pandemia da Covid-19, por exemplo, revelou o quanto ainda precisamos trabalhar para que mulheres tenham segurança no próprio lar, no trabalho, na rua, no transporte público, nas igrejas.

A política de Justiça de Gênero aprovada pela assembleia da FLM é um poderoso instrumento. Encontramos nela fundamento teológico consistente e metodologias capazes de alavancar processos e programas nas igrejas-membro da Federação. Parte do meu trabalho será despertar, incentivar, fomentar seu estudo, apropriação e implementação, tanto teórica quando pastoral e prática. Obviamente, a Política de Justiça de Gênero é recebida de forma diferente em determinados países e contextos.

A partir da sua participação e colaboração com a caminhada de Justiça de Gênero junto à Rede de Mulheres da América Latina e Caribe e América do Norte, quais as perspectivas de trabalho e impactos para a região LAC?

O continente latino-americano é caracterizado por culturas machistas e patriarcais. Todos os indicativos estatísticos apontam para a triste realidade de exclusão, violência e feminicídio. No entanto, séculos de dominação e opressão também foram enfrentados com muita resiliência, resistência, organização, criatividade e desejo de mudança. A rede latino-americana é forte e coordenada com amor e compromisso. Entendo que, juntas, amparadas pela Palavra de Deus, transformações são possíveis. Lideranças das igrejas luteranas latino-americanas têm se esmerado em refletir e acompanhar positivamente as discussões e ações em torno do tema justiça de gênero e o empoderamento das mulheres. Em nosso contexto, mulheres são as que mais participam das igrejas e suas atividades, são as que mais ajudam a manter e divulgar a fé em suas famílias, mas ainda sofrem discriminação quando ocupam cargos de decisão. Nosso trabalho é buscar caminhos para que mulheres e homens caminhem em conjunto, em solidariedade e sororidade, construindo relações justas. Um mundo melhor para as mulheres é um mundo melhor para todas as pessoas.

Destacando sua trajetória de liderança local, regional e mundial como mulher, teóloga feminista e professora, que contribuições você espera trazer para as discussões de gênero e empoderamento a partir desta nova caminhada na FLM?

Tenho convicção de que Deus nos chama e acompanha a assumir grandes desafios. Gosto de pensar que Deus me presenteou com o dom da empatia, da resiliência, da simplicidade e com capacidade de articular e animar pessoas. Tenho feito isso em minha vida ministerial e docente. Meu ministério como pastora ordenada, como estudante de pós-graduação, como professora de teologia, como coordenadora de um Programa de Gênero e Religião e, ainda, como assessora ao Conselho da FLM me conduziu a muitas e belíssimas experiências ao redor do mundo. Pude estar com lideranças de igrejas, com grupos de mulheres camponesas, em universidades, com teólogas e teólogos. Todas essas experiências, somadas aos anos de leituras, estudos e reflexões ajudaram a forjar meu pensamento e minha forma de trabalhar.

Sinto na própria alma e corpo o que significa injustiça de gênero, em todos os aspectos da vida. A ideia de superioridade de um gênero (masculino) sobre o outro (feminino) é diabólica e precisa acabar. Não haverá vida plena – aquela pela qual Jesus viveu, se não houver justiça entre as pessoas.

A Política de Justiça de Gênero da FLM, é um importantíssimo ponto de partida. Meu trabalho inicial será ouvir, ouvir, ouvir... e a partir disso, junto com outras pessoas, planejar atividades, encontros, pesquisas e reflexões para o empoderamento de mulheres tanto nas igrejas quanto nas sociedades. A participação de homens nesse processo é fundamental, pois cada pessoa é chamada para o processo de desconstrução e construção que o Evangelho nos chama.

Sou muito grata a FLM por proporcionar a formação teológica de mulheres e me alegro em poder contribuir num processo que já vem de muito tempo e é fruto da dedicação de muitas pessoas.

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Ainda não somos o que devemos ser, mas em tal seremos transformados. Nem tudo já aconteceu e nem tudo já foi feito, mas está em andamento. A vida cristã não é o fim, mas o caminho. Ainda nem tudo está luzindo e brilhando, mas tudo está melhorando.
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