A Reforma e a Graça de Deus

Jubileu da Reforma: agora são outros 500

26/10/2017

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Em uma prédica de 1º de fevereiro de 1534, Lutero perguntava: “Como eu recebo um Deus gracioso?”. E completava: “Eu sempre pensava: Oh, quando você será piedoso o suficiente para receber um Deus gracioso?”. O reformador se refere à época em que acreditava ser Deus um juiz implacável, não um Pai/Mãe de amor e graça.

A graça engloba diversos sentidos. Primeiramente, designa a atitude benevolente de um superior a um inferior, inclinando-se favoravelmente a ele. Assim se diz que Ester, mesmo proibida, aproximou-se de Assuero e foi benevolentemente recebida por ele, uma vez que ela achou graça diante do rei (Et 8.5). Também Maria achou graça perante Deus (Lc 1.30).

Graça também pode indicar gratuidade. Amamos não porque o outro nos ama. É benevolência gratuita. Dessa forma, Deus não ama por causa dos méritos ou da bondade humana. Trata-se de um modo de ser. Por isso se diz que Deus ama até os ingratos e maus (Lc 6.35).

O sentido da graça abrange também beleza e encanto. Diz respeito à amabilidade e à graciosidade interior. Por esse motivo conta-se que as palavras proferidas por Jesus tinham graça e as pessoas ficavam admiradas (Lc 4.22). Assim, enxergamos, por exemplo, o sorriso gracioso que só a pessoa amada tem ou a gracinha que só as crianças possuem. A graça como beleza e encanto se baseia na espontaneidade e na falta de rigidez.

Dom gratuito e favor também são entendidos como graça. Presente ou algo recebido gratuitamente é gracioso. O resultado é o agradecimento. A graça se torna, então, ação de graças. Sentir-se agraciado leva à gratidão.

Podemos dizer, então, que graça é o voltar-se benevolente de Deus ao ser humano e a toda criação. Nisso, o próprio ser humano, numa atitude de humildade, volta-se em total abertura para Deus. Esse encontro-diálogo entre divino e humano produz nas pessoas beleza e encanto. Essas qualidades são entendidas como dons gratuitos de Deus. Como consequência, as pessoas sentem-se agraciadas e rendem graças ao Doador de todos esses bens.

Todavia, o ser humano não reage de forma mecânica à graça: pode fechar-se a ela. É a experiência da desgraça. Se a graça é o encontro, o diálogo e a abertura entre o divino e o humano, a desgraça é o desencontro, a recusa em dialogar e o fechamento. A realidade, e nisso a própria vida, constitui-se de graça e desgraça. Assim, Lutero dizia que o ser humano é justo e pecador simultaneamente e a Igreja uma santa meretriz.

A graça de Deus sempre esteve e está presente em todas as épocas e gerações, pronta a ser vivenciada. Lutero, dado o contexto em que estava inserido, enfatizou a graça como gratuidade, como ação divina que justifica diante de Deus, pois o pecador, perante Deus, não pode ser justificado por obras e é condenado pela Lei. Contudo, pode achar graça através da justiça que é concedida por Cristo.

Portanto, cabe a nós, hoje, falar da experiência da graça de Deus a partir de nossa realidade. É nesse sentido que não podemos apenas falar sobre a graça, mas precisamos deixar a graça falar. Foi o que fez Lutero. É o que devemos fazer.


*Roberto Carlos Conceição Porto nasceu em São Bernardo do Campo em 04 de abril de 1994. É teólogo pela Universidade Metodista de São Paulo (2015) e atualmente mestrando na mesma instituição. Tem trabalhado como professor de alemão particular (nível A1-B1) junto a mestrandos e doutorandos.


Autor(a): Roberto Carlos Conceição Porto
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: ABCD (Santo André-SP)
Área: História / Nível: 500 Anos Jubileu
Natureza do Texto: Artigo
ID: 44456
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