Francisco é dono de uma empresa. Ele convida um amigo de confiança, o Wilson, para ajudá-lo. Francisco assume a responsabilidade pela produção, e Wilson pelas compras e vendas. Com o passar do tempo, Wilson começa a usar recursos da empresa em benefício próprio. Os desvios chegam a tal proporção que a empresa foi à falência. Com credores fazendo pressão para receber seu dinheiro, Francisco acabou indo para a prisão. A família, a muito custo, foi se desfazendo dos bens, para que, juntamente com Francisco, pudessem recomeçar a vida. Perderam a casa e os filhos não puderam frequentar boas escolas. Além da humilhação e da decepção, feridas muito profundas foram causadas pela irresponsabilidade do Wilson, o amigo de confiança!
Esta história é fictícia, mas não inverossímil. Ela levanta a pergunta: é possível perdoar um amigo que lesou não apenas a honra do outro, mas o conforto doméstico, a formação, a segurança e o futuro dos filhos do amigo? Lembremos que perdoar não é esquecer, nem restituir completamente a confiança, nem deixar de reconhecer o erro de outro. Num caso como esse, seria possível haver novamente paz entre estes amigos? É possível reconciliar? Sim, é possível. Ensinamos, a partir da sabedoria bíblica, que o ser humano reconciliado com Deus também busca a reconciliação com o próximo.
A palavra reconciliação significa o restabelecimento de acordo, ou paz, entre dois indivíduos que viviam numa relação de inimizade. A Bíblia relata que houve uma ruptura entre Deus e a humanidade no Jardim do Éden (Gênesis 3), quando Adão e Eva se rebelaram contra Deus. Porém, a Bíblia afirma que Deus nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo (2Coríntios 5.18). A sabedoria bíblica nos lembra que Deus deu o primeiro passo em direção ao ser humano a fim de que a rebeldia deste contra o próprio Deus fosse eliminada. Em Cristo, Deus nos reconciliou consigo mesmo. Agora temos paz com Deus (Romanos 5.1).
O perdão recebido de Deus tem consequências concretas nas relações com o próximo. A reconciliação com o próximo é fruto da reconciliação de Deus conosco. Foi isto que Jesus ensinou quando, no “Pai-nosso”, instruiu seus seguidores a pedirem: E perdoa as nossas dívidas assim como perdoamos nossos devedores (Mateus 6.12). O perdão é a porta aberta por Deus para a reconciliação com o próximo.
Concluo lembrando um pequeno texto escrito por Mary Karen Read em seu diário, antes de ser assassinada por um atirador no dia 16 de abril de 2007, junto com mais 30 colegas, professores e funcionários de uma escola no estado da Virgínia/EUA: Quando feridas profundas são feitas contra nós, nunca nos curamos até que perdoamos. O perdão não muda o passado, mas o perdão amplia o futuro.
P. Joel Schlemper
Pastor na Paróquia em Barreiros, São José/SC - Sínodo Centro-Sul Catarinense