A prática da fé

01/10/2004


Enquanto redijo esta Palavra, estão sendo veiculadas, através dos meios de comunicação no País e também fora do Brasil, notícias sobre a violência contra moradores de rua nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e agressões de todo tipo em muitas outras cidades brasileiras, também no Sul. O avanço da criminalidade e do terrorismo tem manifestado a sua ferocidade nestas últimas semanas deixando incontáveis vítimas, entre elas centenas de crianças, na Rússia, e em outras áreas do mundo. Muitos campos, muitas prisões, calçadas, casas, além das muitas ruas e estradas pelo mundo afora, estão "manchadas de sangue". Qual será a contribuição das igrejas cristãs, em favor da construção de uma nova história de relações interpessoais, promovendo deste modo a desconstrução das causas que geram tamanha violência e tanto derramamento de sangue? A fé em Jesus Cristo testemunha, em palavras e ações, o Deus misericordioso e humano. Vale a pena assegurar e insistir que a celebração da fé não nos isenta de uma reflexão profunda e crítica. A aventura da fé no Deus Jesus com os olhos abertos ao que se passa em nossa volta. O mundo moderno cobra das igrejas cristãs e também das não-cristãs uma revisão de suas próprias fronteiras. Uma nova atitude ética social é a exigência do momento. No final do mês de outubro, lembramos o Dia da Reforma. A igreja luterana acentua a prioridade da graça de Deus acima de todo o fazer humano. Seria, no entanto, um grande mal entendido se o dom da graça de Deus fizesse de nós pessoas preguiçosas e insensíveis, diante da crueldade absurda cometida contra as criaturas de Deus. "O amor de Deus nos constrange", diz o apóstolo Paulo. Por isto somos motivados à ação, à prática da fé. Igreja agradecida e agraciada é instituição que não se acomoda, ela é aberta às necessidades humanas. A vocação da igreja é ser missionária, colocando sinais do reino de Deus, através do anúncio do Evangelho e da denúncia profética contra todos os poderes que cheiram à desumanidade. O que importa mesmo não é, prioritariamente, a teoria, mas a prática da fé. Por causa da ação de Deus, em favor de um novo mundo, a igreja não pode se ater aos recintos do templo e da paróquia local. Jesus, numa das suas parábolas, lembra que é preciso ser rico em relação a Deus e ao próximo. É loucura preocupar-se somente com a ampliação dos seus próprios "silos", à semelhança do agricultor bem sucedido, em Lucas 12. O evangelho gera mudanças profundas e nos liberta do egoísmo, a fim de sermos ricos em bondade e fraternidade, ricos também no fortalecimento dos laços ecumênicos, cooperando nas tarefas que nos são comuns. É desse jeito que juntos construímos a história da humanidade, promovendo um novo mundo, onde a paz e a justiça se abraçarão. As potências mundiais organizam os seus exércitos e os arsenais da guerra anti-terror, quase sempre sem sucesso. À medida que as políticas da segurança particular, nacional ou internacional forem objetos de tanta preocupação, a fé e o amor, fruto da fé, precisam receber uma nova qualidade, na prática do dia a dia.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

O Caminho - 10/2004


Autor(a): Sínodo Norte Catarinense
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7783
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