As pessoas na igreja luterana podem fumar? Como fica questão das bebidas alcoólicas?
Estimado C..
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil não tem um código de posturas e nem um compêndio de regras que os seus fiéis são obrigados a seguir. A Igreja estabelece o princípio da liberdade com responsabilidade segundo o qual as pessoas procuram viver a sua fé diante de Deus, diante do próximo e diante da natureza sem nenhuma tutela eclesiástica. A Igreja é o espaço em que acontece orientação para a vida, partilha de experiências, diálogo sobre situações e problemas do cotidiano e apoio em momentos de crise, dúvidas e dificuldades. Em nenhum momento os fiéis ficam desresponsabilizados pelas suas decisões e atitudes na vida. O que determina um gesto e/ou uma atitude são os valores do Evangelho e a forma como cada fiel interpreta estes valores para o seu dia-a-dia, para a sua vida pessoal e familiar.
Lutero afirma em seu livreto da Da liberdade cristã que
Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não sujeito a ninguém.
Um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos.
Lutero afirma com estas palavras que, de um lado, que as pessoas são livres pela fé e, por outro lado, são servas pelo amor. A partir do princípio da liberdade não é possível estabelecer normas absolutas, pois os tempos e as circunstâncias humanas mudam a todo tempo. A moral e a ética assumem características distintas de tempos em tempos, muito embora obedeçam a princípios gerais.
Segundo as Sagradas Escrituras, todas as pessoas são criadas à imagem e semelhança de Deus. Deus quer vida plena e abundante para todas as pessoas, ou seja, a vida de todas as pessoas tem um valor inestimável para Deus. Cabe aos filhos e às filhas de Deus traduzir para o cotidiano da existência este valor na forma de cuidado, proteção e preservação, apesar de toda a precariedade e fragilidade com que a vida se apresenta.
A partir disso é possível dizer que na igreja existem pessoas que fumam e outras que não fumam. (Já foram muito mais. O número de fumantes caiu vertiginosamente. Os informes acerca dos prejuízos à saúde ajudaram muitos a abandonar o fumo. Não tanto por moralismo, mas por convencimento íntimo). Da mesma forma há pessoas que consomem bebidas alcoólicas ( a exemplo do que provavelmente fez Jesus Cristo) e outras não o fazem, seja por prescrição médica ou simples inapetência.
Pode-se enumerar outras atitudes e gestos prejudiciais à vida. Por exemplo, há membros que andam de automóvel e poluem a atmosfera, prejudicando a si e aos outros. Há os que abandonam conscientemente o automóvel (ainda são poucos, mas a exemplo do abandono do tabaco, serão cada vez mais). Há membros que consomem verduras e legumes com agrotóxicos e produtos à base de transgenia. Há membros que procuram comer somente produtos agro-ecológicos. Há pessoas que consomem enlatados e outros alimentos industrializados. Há outros que procuram evitar, ao máximo, estes produtos.
Veja, C., a fumaça dos automóveis e dos caminhões, a poluição sonora, os aromatizantes e conservantes presentes nos alimentos industrializados, os agrotóxicos (pesticidas e herbicidas) presentes nas verduras e nos legumes, a água contaminada, a carne de animais criados à base de hormônios, as bebidas/refrigerantes com compostos artificiais, o stress, a agitação e a estafa diária, enfim, existem tantas coisas que afetam e causam dano às pessoas física e emocionalmente. Nesta longa e interminável lista entram o fumo e também as bebidas alcoólicas que, em muitas situações, podem evidenciar uma doença profunda e imperceptível das pessoas - uma falta de sentido, uma dependência psicológica de uma droga a ser superada, etc. O Evangelho vem ao encontro das pessoas e as apóia na busca de um novo sentido. Tudo isso dentro da precariedade e fragilidade humanas.
Neste contexto, viver a liberdade com responsabilidade significa uma grande arte para qual as pessoas contam com a orientação do Espírito de Deus. Em meio às encruzilhadas da vida elas podem invocar a Deus e pedir que ele as guie para tomar as decisões que contribuem para a manutenção da bela criação de Deus.
Veja: Discernimento ético e também outras manifestaçõe sobre diversos temas