A Palavra de Cristo não é prisioneira, mas livre para anunciar o Reino de Deus

Prédica em At 28.30-31 e Jo 18.33-37 para Domingo Cristo Rei autoria P. Me. Alexander Busch

20/11/2021

 

Estimada comunidade, minhas irmãs e irmãos em Cristo,
A grande maioria dos filmes ou livros que circulam entre nós geralmente apresentam um final feliz e vitorioso, no qual o personagem principal prevalece sobre seus inimigos. Algo do tipo: e viveram felizes para sempre.

O livro de Atos, entretanto, nos apresenta um final em suspense, um final que deixa algumas perguntas em aberto. Ouçamos novamente o texto bíblico, estas que são as últimas palavras usadas para concluir o livro de Atos: “Durante dois anos Paulo morou em Roma numa casa alugada e recebia todos os que iam vê-lo. Paulo anunciava o Reino de Deus e ensinava a respeito do Senhor Jesus Cristo, falando com toda a coragem e liberdade” (At 28.30-31). E assim termina o livro de Atos.

As perguntas surgem quando lemos todo o capítulo 28 e percebemos que a casa alugada é na realidade uma prisão domiciliar. Enquanto Paulo aguarda seu julgamento pelas autoridades de Roma, ele tem a permissão de morar por sua própria conta numa casa alugada, vigiada por um guarda de dia e noite. Ou seja, o livro de Atos termina com Paulo dentro da prisão – mesmo sendo prisão domiciliar, Paulo está preso. Além disso, neste mesmo capítulo 28 lemos sobre os conflitos entre Paulo e algumas lideranças judaicas que moravam em Roma. O clima é de acusações e desconfiança. Ou seja, não é um final feliz e vitorioso. No ar existe tensão e certamente podemos nos perguntar, o que vai acontecer com Paulo? Como a sua história continua?

Reconhecendo este final aberto e em suspense, gostaria de sugerir algumas lições valiosas desta conclusão do livro de Atos. Mas para isto é preciso voltar ao início, retornar ao primeiro capítulo do livro de Atos onde Jesus promete, “quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra” (At 1.8). Esta é a promessa de Jesus que abre o livro de Atos – a promessa do poder do Espírito Santo movendo as pessoas para serem testemunhas de Jesus desde Jerusalém até os lugares mais distantes da terra. E ao longo do livro de Atos, esta promessa vai se cumprindo. A palavra de Jesus é levada adiante, de cidade a cidade, de região a região, até alcançar um lugar bastante distante de Jerusalém, a cidade de Roma. Lembramos aqui que, ao mesmo tempo em que a palavra de Jesus foi levada adiante, houve oposição e perseguição. O próprio Paulo, num certo momento de sua vida, perseguia as pessoas que espalhavam a palavra de Jesus. Porém, agora, ao final do livro de Atos, percebemos a promessa se cumprindo – a palavra de Jesus chegando em lugares distantes, a palavra chegando ao coração do Império Romano. E mesmo dentro de uma prisão em Roma, Paulo continua anunciando a palavra de Jesus. Isto significa, que mesmo havendo oposição e resistência, a palavra de Jesus é livre, ela não pode ser silenciada, ela não pode ser impedida de cumprir seus propósitos. Jesus é fiel em cumprir sua palavra e promessa.

E isto é boa notícia – boa notícia também para nós. Pois as imagens da distância e da prisão são bastante sugestivas. Nem mesmo grandes distâncias ou as prisões são impedimento para a Palavra de Jesus continuar agindo e gerando nova vida. A palavra de Jesus tem poder para chegar nos lugares mais distantes do coração humano. A palavra de Jesus tem poder para entrar nas nossas prisões internas para libertar, transformar pensamentos, converter sentimentos, motivar novas ações, gerar nova vida. Pela palavra de Jesus, Deus continua realizando sua boa obra até que ela esteja completa. Nesta palavra você e eu podemos confiar.

E é com esta confiança que Paulo, numa prisão domiciliar em Roma, aguardando seu julgamento, anuncia a palavra. O texto nos diz especificamente que Paulo anuncia o Reino de Deus e ensina a respeito do Senhor Jesus – justamente o motivo que levou Paulo à prisão. Paulo está preso por causa da mensagem que ele leva adiante. Pois a mensagem do Reino de Deus questiona os reinos humanos deste mundo. A notícia do Reino de Deus contesta especialmente as estruturas e relacionamentos humanos onde existem injustiças e sofrimento causado contra o próximo. E Jesus foi condenado à cruz por se posicionar ao lado de pessoas marginalizadas, em solidariedade às mulheres e crianças, ao lado das pessoas com deficiência, em solidariedade com pessoas em dor e sofrimento. As autoridades romanas e judaicas buscaram silenciar a voz do judeu Jesus, cuja ensino e ações colocavam em xeque relacionamentos abusivos e estruturas injustas. Tentaram impedir que Jesus e sua palavra fossem levadas adiante. Mas, como nós bem o sabemos, Jesus foi levantado dentre os mortos e Jesus envia sua comunidade, incluindo Paulo e nós, para anunciar o Reino de Deus e ensinar a respeito de Jesus.

Como IECLB nossa oração é fazer isto com humildade e esperança, sem impor a fé sobre as outras pessoas, mas vivendo o batismo e colocando dons à serviço do próximo. Cabem aqui as palavras da Constituição da IECLB que dizem, “em obediência ao mandamento do nosso Senhor, a IECLB, através de suas comunidades, tem por missão: estimular a vivência do evangelho a nível pessoal, nas famílias e na comunidade; e promover a paz, a justiça e o amor na sociedade” (texto ligeiramente adaptado do texto Nossa Fé, Nossa Vida, pg. 4). Assim o fazemos porque entendemos, a partir de Jesus, que seu reino não é deste mundo. O reino de Deus proclamado por Jesus é um reino de qualidade e valores diferentes dos reinos deste mundo. Um reino que não é deste mundo, mas que se faz presente neste mundo – questionando as injustiças e o sofrimento causado contra o próximo. E assim como Jesus se entrega na cruz, em solidariedade ao sofrimento e dor que existem neste mundo causado pelo pecado, Jesus também chama sua comunidade a caminhar ao lado das pessoas para estimular relacionamentos saudáveis e justos, para promover cura e reconciliação, para anunciar o Reino de Deus e ensinar a respeito do Senhor Jesus.

Assim podemos agora entender o final aberto e em suspense do livro de Atos. O livro de Atos termina com a prisão de Paulo e o clima de tensão entre ele e as autoridades romanas e judaicas. Mas a história do livro de Atos continua sendo escrita. A história continua sendo escrita pelas novas gerações, pelas pessoas que acolhem e levam adiante a palavra de Jesus, incluindo você e eu. A palavra de Jesus continua sendo anunciada entre nós e levada adiante. Mesmo Paulo tendo morrido, a palavra de Jesus não está presa. Aliás, o livro de Atos no capitulo 20 (25,38) nos dá a entender que Paulo não teria mais muito tempo de vida. E a tradição diz que ele morreu como testemunha (mártir) de Jesus pelas mãos das autoridades romanas. Portanto, apesar da morte de Paulo, a palavra de Jesus é livre e poderosa para romper prisões – até mesmo a prisão da morte. Jesus Cristo, morto na cruz, ressuscitou e sua palavra continua agindo e gerando nova vida, solidariedade, coragem, liberdade, compromisso, comunhão e amor ao próximo. Jesus continua entre nós sempre de novo cumprindo sua promessa, “quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas”. Pela palavra de Jesus, Deus continua realizando sua boa obra até que ela esteja completa. Nesta palavra você e eu podemos confiar. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 28 / Versículo Inicial: 30 / Versículo Final: 31
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 65258
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Ainda não somos o que devemos ser, mas em tal seremos transformados. Nem tudo já aconteceu e nem tudo já foi feito, mas está em andamento. A vida cristã não é o fim, mas o caminho. Ainda nem tudo está luzindo e brilhando, mas tudo está melhorando.
Martim Lutero
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