A noite está findando...

09/12/2016

 
 …fulgente o dia vem.
Erguei a voz, louvando
a estrela de Belém!
No escuro, em agonia,
quem teve de chorar,
verá com alegria:
a luz lhe há de brilhar!

Jochen Klepper  (Hinos do Povo de Deus Nº 3)

 
Jochen Klepper: Vida e Testemunho

Este é a primeira estrofe do conhecido hino de Advento cuja letra o escritor e teólogo alemão Jochen Klepper (1903-1942) escreveu em 1937. O texto contrasta com sua situação de vida neste tempo antes da 2º guerra mundial que já sofria debaixo da ditadura nazista.

Klepper foi logo em 1933, ano da ascensão de Hitler ao poder, demitido da estação de radio, “Funk-Stunde Berlin”, em função do casamento com Johanna Stein, de origem judaica, e das filhas dela de um primeiro casamento, Brigitte e Renate.

Ao longo dos anos seguintes a família Klepper viu o cerco se fechar cada vez mais ao seu redor. Em 1937 Klepper foi expulso da “Câmara Alemã dos Escritores” o que equivalia a uma proibição do exercício de sua profissão.

A esposa e as filhas corriam cada vez mais risco de deportação para os campos de concentração. Em 1939 a filha Brigitte conseguiu emigrar para Inglaterra. O casal cogitou a emigração de toda família mas desiste.

De 1940 a 1941 Klepper foi alistado ao exército para proteger sua esposa da deportação. Em 1941 ele é expulso do exército por negar o divórcio de Johanna.

No final de 1942 fracassa a tentativa de emigração da filha Renate.

Diante de informações confidenciais do Ministério do Interior sobre o divórcio forçado, e a consequente deportação da esposa e da filha, os três, sem mais forças para lutar, não enxergavam outra saída a não ser o suicídio, consumado na noite entre 10 e 11 de dezembro de 1942.

Klepper escreveu no último dia: “Morreremos – também isto confiamos a Deus. Esta noite, todos juntos, poremos fim a nossa vida. Nas últimas horas vemos sobre nós o Cristo - abençoando, lutando por nós. Com essa visão encerra-se a nossa vida. Deus é maior do que o nosso coração – essa palavra nos acompanhará na morte.”

Impressiona o testemunho de vida do Jochen Klepper que no limite das suas forças manteve-se fiel ao amor a família que ele compreendia como uma dádiva de Deus.

Da distância histórica sempre podemos questionar porque a família não deixou a Alemanha enquanto ainda era possível. Mas faz parte da vida cometer equívocos na avaliação da conjuntura de um dado momento histórico.

Convence a fé profunda e o amor decidido de Klepper que resultou, entre outros no batismo da esposa e da filha Renata em 1939.

Mesmo no limiar da morte, desprovido de forças, cercado por um tempo de profunda escuridão e hostilidade a vida, ele não abandona a sua fé em Cristo e confia na sua misericórdia e seu perdão!


Advento 2016

Podemos achar que estes tempos conturbados nada tem a ver com o nosso tempo 80 anos depois. Até um certo ponto isto é verdade: Não estamos passando por uma guerra devastadora, e também não vivemos embaixo de uma ditadura nefasta como o nazismo.

Mas o mundo ao nosso redor dá sinais de mudanças profundas. É claro que interpretações sobre acontecimentos atuais sempre são limitados. Enfim, não temos uma bola de cristal, para prever o futuro.

Dentro destas limitações constatamos um mundo em grande mudança. Um indício forte são as enormes massas de fugitivos que já constituem um movimento migratório de massa.

Outro indício são os grandes questionamentos sobre os efeitos da globalização da economia. Este causa muita angústia às pessoas e uma certa nostalgia de querer voltar aos “velhos bons tempos”.

Aproveitam-se destes sentimentos os populistas de direita, atuantes na saída da Grã-Bretanha da União Europeia, atuantes em vários países europeias na rejeição tosca, xenófoba a imigração, e visíveis na eleição surpreendente de Donald Trump como Presidente dos EUA.

É constitutivo do populismo prometer uma coisa e realizar outra oposta.

No Brasil os sinais do tempo nos atingem na grave crise política e econômica que assola nosso povo. Também se manifesta na onda de intolerância que caracteriza as diferentes posições acerca da cris

Na outra ponta observamos admirados grandes movimentações em defesa da vida. É muito amplo nas sociedades na Europa o apoio aos imigrantes que chegam em busco de refúgio.

São milhares e milhares de pessoas que disponibilizam tempo, esforço, dinheiro e até suas próprias casas, movidos por solidariedade e compaixão.

Aqui no Brasil ficamos admirados com o avanço no combate a corrupção nas diversas ações da justiça, com destaque a Lava-Jato. É surpreendente como em pouco tempo ficou desmascarado, que a mudança de governo talvez fosse inevitável, mas que não representou ainda nenhum salto qualitativo no que diz respeito a ética e lisura na gestão pública.

Olhando o conjunto disto tudo poderíamos tirar a conclusão que a noite do mundo não está findando mas somente começando.

A nossa tarefa como cristãos neste mundo é precisamente levar a sério o evangelho do Advento que mesmo na maior escuridão este mundo está nas mãos de Deus cuja luz já podemos sentir. Não podemos nos deixar vencer pelo medo e pessimismo, mas sim podemos viver esta esperança pelo Reino de Deus que começa tão pequeno no berço humilde mas é irresistível até sua conclusão.

É como diz Jochen Klepper na última estrofe do hino de Advento:

Embora habite em treva,
Deus faz a luz brilhar.
No juízo a alma eleva
em vez de a aniquilar.
Quem fez dos céus o
brilho, não nos há
de deixar:
Em seu bendito Filho
sua obra há de findar.

 
P. Guilherme Nordmann


Autor(a): P. Guilherme Nordmann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Santos (SP)
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 40565
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