A misericórdia - Lucas 12.48b

Prédica

11/03/1973

A MISERICÓRDIA

Lucas 12.48b 

SV IC ME , 11-3-73 (Dia de sua morte) 

A quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão. 

Ouvimos uma palavra de Jesus que é muito fácil de gravar. É simples, direta, imediata. A gente até tem vontade de dizer: é claro. Pode-se esperar muito de quem tem muito. 

Mas também existe alguma coisa de inquietante, nessa frase. Nós sentimos que essas palavras se transformam numa pergunta. De repente, nos notamos que estamos sendo perguntados. E a gente se lembra de muitas falhas. Lembra que assumiu um compromisso financeiro muito pequeno, no programa de mordomia. Pequeno porque a gente sabe que podia dar mais. A gente sabe que não ia fazer falta. Mas por preguiça, por desinteresse, por falta de vontade de pensar, a gente repetiu a quantia do ano passado. 

A gente se lembra de alguém que maltratou. Lembra tudo aquilo que poderia e deveria ter feito por outros (a começar pela própria família). 

No entanto, é preciso perguntar: Em que é que Jesus estava pensando, quando disse que muito será exigido daquele que recebeu muito? Nós temos uma resposta para essa pergunta. Porque essa frase de Jesus vem no final de uma conversa dele com seus discípulos. E a conversa era sobre o fim do mundo e a volta de Jesus. Nosso Senhor faz uma comparação. Ele conta a parábola do proprietário que viaja e confia a administração de seus bens a diversas pessoas. Ao retornar, o proprietário recompensa os eficientes e fieis e castiga os maus. 

Portanto, a quem muito foi dado, não significa o que possuímos (nossa esperteza, nosso dinheiro, nossas capacidades, nossa casa). Não se trata apenas de lembrar que devemos ser agradecidos por tudo isso, que não devemos ser egoístas, que devemos pensar nos outros. É claro que faz muito bem lembrar tudo isso também, às vezes. 

Mas, nessa passagem, Jesus está falando de si mesmo e de sua causa. Jesus lembra que nos confiou a administração de seus bens, de suas dádivas, neste mundo. 

Nós somos os servos, a quem o Senhor deu e confiou muito. Nós, quem? Todos os que fomos batizados em seu nome. Pelo batismo, fomos todos chamados um dia. A gente pode rejeitar, desprezar, recusar o chamado. Mas o fato é que o chamado aconteceu! 

E em que consiste nossa administração? Que é que Jesus nos confiou? 

1) Sua palavra, os sacramentos, a Igreja (resposta talvez rápida demais, embora verdadeira). 

2) A parábola nos ensina que o proprietário, o Senhor, confiou gente, pessoas, aos administradores. 

O maior bem a maior riqueza que Jesus nos deixou e nos deu são seres humanos. 

Os que estão sempre conosco. 

E os outros também! 

A maneira de tratá-los é que vai mostrar se somos bons ou maus administradores da palavra de Jesus.

Isso não significa apenas simpatia e amabilidade. Amabilidade Pode ser bem pouco cristã. 

Isso não significa apenas transigência a toda prova. Transigência constante pode apenas significar falta de vergonha na cara! 

A maneira de tratar os outros é urna questão de amor ao próximo. Assim como nós exigimos justiça para nós, sejamos justos com os outros? 

Gostar do outro — de qualquer outro — assim como a gente gosta da própria pele... Ser justo com os outros na mesma medida que usamos para nós... 

Todo mundo nota logo que isso é tarefa para o resto da vida. Nós nunca vamos ficar prontos com esse trabalho, com esse esforço.

Em cada dia, nós vamos ter de experimentar. Em cada dia, nós vamos cometer nossos enganos. Mas Jesus não espera administradores perfeitos, Jesus quer administradores fiéis. 

Qual a diferença entre o perfeito e o fiel? 

A mania de falar em salvação. Ou: O cristianismo é a melhor religião. A Igreja já fez isso e aquilo e mais outras tantas coisas. 

Não: os críticos, os que duvidam, os que buscam, os que perguntam, nossos filhos, querem saber bem outra coisa. 

Cristo é nossa vida? 

E a resposta é a própria vida. 

O que fizestes a qualquer um de seus pequeninos irmãos, a mim é que o fizestes! 

A palavra que ouvimos: A quem muito foi dado muito lhe será exigido; e a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão. 

Não é ameaça. É luz para o nosso caminho. 

Na seriedade dessa palavra a gente descobre toda a misericórdia do Cristo. 

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[Prédica publicada também em: Irreverência, compromisso e liberdade. O testemunho ecumênico do pastor Breno Arno Schumann (1939-1973). Escola Superior de Teologia e Koinonia. Presença Ecumênica e Serviço, 2004,p. 114-116.]

Quando eu era criança, pensava como criança... Quando Breno falava em suas aulas era o professor, hoje as reflexões de Breno tomaram dimensões do Ressurreto, era o Cristo quem falava. 

(Antônio José Gabriel — aluno do Curso de Ciência das Religiões da U.F.J.F.)
 


Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 48
Título da publicação: Ressurreição - Centro Ecumênico de Informações / Editora: Tempo e Presença Editora Ltda. / Ano: 1973 / Volume: Suplemento Número 4
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 22276
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