Mateus 13.1-9; 18-23
Prezada Comunidade:
A igreja de Cristo está em crise. Na maioria das igrejas protestantes históricas o número de participantes nos cultos, o número de batismos, confirmações e casamentos tem diminuído. Mas isso não é de hoje e nem uma crise de uma denominação apenas.
O Evangelho de Mateus nos fala de uma dessas crises já nas primeiras comunidades cristãs, há dois mil anos atrás. O início do Evangelho de Mateus fala do seguimento de 4 discípulos em um só dia, do entusiasmo das pessoas diante do Sermão do Monte e dos 10 milagres posteriores. A mensagem de Jesus chamava a atenção das pessoas, mas a participação e o crescimento das comunidades parecia fogo de palha. Parece que a igreja cristã não tinha futuro.
A parábola do semeador quer dar uma resposta a essa pergunta: Porque a mensagem de Jesus não produz fruto na vida da maioria das pessoas?
Jesus, então, conta a parábola do semeador, mas o seu pequeno grupo de ouvintes e seguidores não entende o que Jesus quer dizer. Por isso, ele mesmo precisa explicar o seu significado. Vamos ouvir Mateus 13.18-23:
(ler Mateus 13.18-23)
O que Jesus diz aqui é que a semente é a Palavra de Deus e os lugares onde a semente cai – representam os vários tipos de ouvintes na Comunidade, na Igreja.
Para uns, a mensagem de Jesus não lhes diz nada. Não lhes interessa porque a mensagem de Jesus não está de acordo com os seus desejos e interesses. Eles simplesmente não estão interessados na formação de uma comunidade de pessoas livres, iguais e que trata as pessoas como irmãos e irmãs.
Um outro grupo até aceita a mensagem de Jesus com alegria, mas seu entusiasmo é muito superficial. Elas não conseguem suportar as dificuldades da vida.
Um terceiro grupo dá mais importância para as respostas imediatas de Deus. As bençãos que eles esperam de Deus são coisas como comida, bem-estar, casa, riqueza. Essa sua ambição não lhes deixa ouvir a mensagem de Jesus, que acaba sufocando debaixo dos desejos individuais.
Mas também têm aquelas pessoas onde a semente dá bom fruto. Não é todo mundo igual. Uns conseguem dar 100, outros 60, outros 30. Mas Jesus é compreensivo e valoriza qualquer tipo de resultado.
Quem de nós, ministros e ministras, já não ouviu algo parecido como isso:
“Pastor/a, eu gosto muito de ouvir suas pregações. O senhor/a senhora prega muito bem sobre o amor e a solidariedade, mas as desigualdades continuam crescendo em todo o mundo. A sociedade está cada vez mais dividida. No passado estava dividida numa luta de classes entre ricos e pobres. Hoje os conflitos tem tantos nomes, como por exemplo: racismo, ultranacionalismo, sexismo, rivalidades esportivas e religiosas, xenofobia, homofobia. Parece que não está adiantando muito falar de Deus nesse mundo de hoje.”
Essa pessoa não deixa de ter sua razão. Cada dia se cultivam menos as virtudes como o cuidado, a compaixão e a generosidade. E quanto menos as pessoas praticarem a vontade de Deus, mais o mal se tornará visível. Se não praticarmos a compreensão e o perdão em nossas famílias, por exemplo, o que vai acontecer? Mais visível serão os conflitos e a irritação estará sempre à flor da pele. É que não temos escolha: Ou servimos a Deus ou seremos usados pelo Mal.
Já contei aqui a história atribuída a Albert Einstein quando era criança.
Certo dia o professor desafiou seus estudantes perguntando se Deus havia feito tudo o que existe no mundo. Os estudantes responderam em coro dizendo que sim. Então o professor continuou dizendo que Deus também fez o mal. Se o ser humano é mau, a culpa é de Deus que criou o mal.
Foi ai que o jovem Einstein pediu a palavra e perguntou:
- Professor, o frio existe?
Ao que o professor respondeu
- Mas que pergunta é essa? É Claro que o frio existe. Você não sente frio?
O jovem Einstein então disse:
- Nas aulas de física nós aprendemos que o frio só existe pela ausência de calor. Assim como a escuridão só existe pela ausência de luz. Assim também o mal não existe por si só. O mal é o resultado da ausência do bem. Quando as pessoas deixam de praticar o bem, o mal se torna mais visível e mais forte.
Nesse contexto, nós podemos colocar também a parábola do semeador. Nessa parábola Jesus nos chama a semear, a manter o pensamento positivo. Mesmo que 75% das sementes não produzam frutos, é preciso continuar lançando a boa semente. Mesmo que a maior parte do nosso esforço seja em vão - e que tenhamos muitas razões para desanimar e sentir vontade de abandonar o barco, - mesmo assim, Deus nos diz: a semente lançada não voltará vazia.
Essa parábola anima-nos a não desanimar com o contexto e nos lembra também que não devemos centralizar tudo na ação humana. A parábola nos anima a ter fé na participação e na ação de Deus. O importante aqui é compreender que somos apenas parte de um processo. A nossa parte é lançar as sementes. O processo de crescimento e de produção de frutos – essa será obra de Deus. Martim Lutero dizia que a tarefa do pregador/a é levar a boa semente da Palavra de Deus até o ouvido da pessoa. A parte que leva a boa semente do ouvido até o coração, essa parte será feita por Deus.
Por isso, nos momentos em que o mal parece estar crescendo, quando as pessoas se tornarem cada vez mais intolerantes e irritadas, nesses momentos Jesus nos diz: Esse é o momento certo para semear. É agora que a boa semente é necessária. Nos momentos de crise – semeia com abundância, não se deixe intimidar ou desanimar, semeia com fartura, estende bem o braço, abre a tua mão com generosidade.
Os nossos relacionamentos vão melhorar - se eu e você nos dedicarmos a semear coisas boas e quando nós mesmos formos a boa terra que Deus necessita para que a sua boa semente produza frutos. É nos momentos de escuridão que devemos ser luz. É nos tempos de injustiças que somos chamados a defender os mais fracos, que facilmente são discriminados. Deus precisa que seus filhos e filhas sejamos terra boa, onde a boa semente pode produzir frutos. A hora de Deus virá e com ela a benção de uma colheita que vai nos surpreender, acima de todas as nossas expectativas.
Por isso, no campo do mundo tu és um/a semeador(a). Não podes fugir da responsabilidade de semear. Por isso, não digas que o solo é áspero, que não chove frequentemente, que o sol queima, ou que a semente não serve. Não é tua função julgar a terra e o tempo, tua missão é semear.
A semente é abundante! Um pensamento, um sorriso, uma palavra de alento, um aperto de mão, um conselho, um pouco d´água – tudo isso são sementes que germinam facilmente. Mas tenha cuidado: não semeies de qualquer jeito como quem cumpre uma obrigação desagradável! Semeia com interesse, com amor, com atenção, como quem encontrou nisso o sentido da vida!
E ao semear, não penses: Quanto receberei? Quanto tempo demorará a colheita? Recorda que não semeias para enriquecer, aguardando o ganho multiplicado; semeias para agradecer. E quem é agradecido a Deus não consegue ficar inativo, não consegue viver sem amar.
Semeia! Tua semente não cairá no vazio. E assim, sem esperar recompensa, receberás recompensa; sem esperar riquezas, enriquecerás; sem pensar em colheita, teus bens se multiplicarão. E tudo porque semeias num Reino onde dar é receber, onde perder a vida é encontrá-la, onde desgastar-se servindo é crescer. Semeia sempre, em todo o terreno, em todo o tempo, a boa semente com amor, com interesse, como se estivesse semeando o próprio coração.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo esteja sempre em nossas vidas. Amém.