Um membro da IECLB, pode ele pertencer a uma loja maçônica? A pergunta é levantada com freqüência e crescente insistência. Sabe-se que a filiação dupla não é raridade, exigindo da direção da IECLB uma palavra orientadora.
O Conselho Diretor da IECLB, já há mais tempo, vem se ocupando com a matéria. Julgou conveniente desencadear um processo de consultas e estudos e abster-se de um posicionamento rápido. Solicitou pareceres aos Distritos e a várias comissões, visando não só à obtenção de subsídios como também à co-responsabilização na formação do juízo.
Em sua reunião de março do corrente ano, o Conselho Diretor voltou ao assunto, concluindo o seguinte:
1 – Sob muitos aspectos, a maçonaria merece profundo respeito. Persegue objetivos humanitários, defende a liberdade de opinião e princípios éticos de óbvia afinidade a valores cristãos. Em sua história, embora nem sempre, tem propugnado o modelo de uma sociedade tolerante, sem exclusivismo, calcada no que ensina a razão humana. Tem-se destacado por suas atividades filantrópicas.
2 – Em virtude de sua natureza racionalista, freqüentes têm sido, no passado, os conflitos com a Igreja, particularmente a Igreja Católica-Romana. Houve um certo favoritismo da maçonaria pela religião protestante, ainda que jamais ocorresse a identificação com a mesma ou com uma de suas correntes. A maçonaria é um movimento próprio, com nítidas características religiosas sem que pretendesse ser Igreja ou constituir-se como facção ao lado dela.
3 – Quanto à doutrina, há várias expressões, sendo difícil apurar em definitivo o mundo conceptual da maçonaria. Entretanto, são flagrantes as diferenças com relação ao credo cristão. Dizem respeito tanto ao conceito de Deus quanto de Jesus Cristo e da salvação do ser humano. Sob a perspectiva luterana, a maçonaria deve ser qualificada como “legalista” por excluir a graça divina como o fator decisivo da salvação. Tanto o “solus Christus”, quanto o “sola gratia” não tem correspondência na concepção maçônica.
4 – Na discussão com maçons estas diferenças, além de outras, não deveriam ser niveladas. Mas deveria ser afastada a polêmica que tende a excluir antes de compreender. Não cabe à Igreja violentar as consciências. O que a maçonaria é e pretende, está sujeito a diversas interpretações, inclusive particulares. Permanece dever da Igreja levar o Evangelho às pessoas e habilitá-las para a auto-avaliação da sua consciência, sem exercer controle indevido.
Não há, pois, como negar as diferenças. Elas precisam ser trabalhadas. Particularmente em casos de pastores maçons merece exame até que ponto sofre prejuízo seu compromisso com a pregação pura do Evangelho. Mas medidas disciplinares não resolvem a questão. É pela palavra que a verdade se impõe, promovendo um processo de aprendizagem que enriquece e não divide a comunidade de Jesus Cristo.
Porto Alegre, dezembro de 1991