A justificação por graça e fé é a característica fundamental da confessionalidade luterana. A descoberta de que Deus nos aceita assim como somos motivou Marin Lutero a questionar toda e qualquer autoridade religiosa de sua época, inclusive o Papa. A grande descoberta e libertação de Lutero foi esta: a de reconhecer que Deus age com justiça sempre e não tolera o pecado, mas ele nos salva e nos aceita, graciosa e amorosamente, por causa da vida, morte e ressurreição de seu filho Jesus Cristo.
Lutero expressou sua justificação através da ação salvífica de Cristo em uma oração muito simples e profunda na qual ele ora, dizendo: “Senhor Jesus Cristo, tu és minha justiça, eu sou teu pecado. Tu tomaste sobre ti o que é meu e me deste o que é teu. Por esta troca te agradeço e te louvo.”
O texto de Romanos 3.19-28 é um dos que fundamentam a teologia de Lutero, junto com Romanos 1.17, entre outros. Lemos nos versículos 23 e 24: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.”
E, no versículo 28, Paulo conclui que a pessoa é justificada “pela fé, independentemente das obras da lei”.
A graça de Deus nos salva pela fé; e o amor de Deus, também pela fé e pela ação do Espírito Santo, nos motiva, nos convida, nos desafia, nos chama, nos conduz e nos orienta para testemunharmos essa salvação nos diferentes momentos e espaços de nossa vida.
Quando pensei sobre essas questões aparentemente teóricas e distantes do nosso cotidiano, me perguntei: Como traduzir a justificação por graça e fé e a ação amorosa de Deus em nosso favor para a vida prática, para o dia-a-dia? Talvez a primeira resposta a essa pergunta seja o próprio testemunho de vida de Lutero. Ele arriscou sua vida muitas vezes por causa da transformação radical que a graça e o amor de Deus lhe proporcionaram.
Mas Lutero viveu há 500 anos. O que a graça e o amor de Deus nos têm a dizer hoje?
Hoje, a graça de Deus nos concede o dom de estarmos vivos, de acordarmos a cada manhã para mais um dia de vida; e o amor de Deus nos motiva a viver este dia servindo a Deus e ao próximo através de gestos, palavras e atitudes.
Hoje, a graça de Deus nos livra do peso e da necessidade de sermos competentes para competir no mercado de trabalho; e o amor de Deus nos convida a sermos profissionais responsáveis para trabalhar com afinco, coragem e criatividade pela preservação e promoção da vida.
Hoje, a graça de Deus nos liberta do desejo de possuir tudo o que a sociedade de consumo nos quer enfiar goela abaixo; e o amor de Deus nos desafia a confiar na sua graça diariamente, mirando-nos no exemplo das flores e dos passarinhos.
Hoje a graça de Deus nos acompanha quando nos sentimos sós e desamparados na multidão e no turbilhão do século XXI; e o amor de Deus nos chama a olhar para o lado, abraçar e consolar alguém, ser paciente, sensível e compreensível com as pessoas próximas a nós.
Hoje a graça de Deus nos perdoa quando o egoísmo, o individualismo e a ganância se apoderam de nós; e o amor de Deus nos conduz ao arrependimento, à conversão, à mudança de mentalidade para que busquemos sempre, em primeiro lugar, o seu reino, a sua paz, a sua justiça.
Hoje a graça de Deus nos conforta quando a violência cotidiana nos assusta e nos assombra; e o amor de Deus nos orienta a sermos pacificadores e pacificadoras quando nos relacionamos com as pessoas em casa, no trabalho, no mercado, no trem, no ônibus, ao telefone.
Hoje a graça de Deus nos sustenta enquanto Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, há sessenta anos; e o amor de Deus nos conclama a seguir evangelizando, promovendo comunhão, celebrando e servindo como membros que somos do corpo de Cristo, no Brasil e no mundo.
Que Deus, por sua graça e seu amor, siga nos orientando e nos conduzindo para o seu reino. E que ele siga nos fortalecendo, como Igreja de Jesus Cristo no Brasil, a sermos testemunhas da sua graça e do seu amor. Amém.