Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai – que nos ama e nos cuida com amor de mãe, e a comunhão do Espírito Santo permaneçam no meio de nós. Amém.
Estimados rádio ouvintes:
Ainda não estamos em condições de visitar ninguém por conta do coronavírus. A quantidade diária de novos doentes e de mortos é assustadora. Mas hoje o texto para nossa reflexão vem de uma visita que um dos chefes da religião judaica faz a Jesus. Isso está escrito no Ev. João 3.
Nicodemos chega na casa, no lugar onde Jesus está e, certamente, é convidado a entrar, a sentar. Nicodemos era uma pessoa conservadora, ele discordava em várias coisas de Jesus.
Mas antes da conversa principal, eles devem ter conversado sobre coisas pequenas. Só então Nicodemos começa a entrar no assunto que o trouxe até ali. E ele começa devagar, respeitoso, afirmando algo positivo acerca de Jesus: “Nós sabemos que o Senhor é um mestre enviado por Deus...” (3.2). Nicodemos não começa agredindo ou questionando a Jesus. O diálogo entre pessoas que tem opiniões diferentes deve sempre ser respeitoso.
Acho que você pode imaginar essa conversa entre os dois sentados ali frente à frente e então chega o momento em que Jesus entra na parte do diálogo que nos interessa de forma especial aqui – os vv. 14-21.
Ler o texto do Evangelho.
Jesus faz referência a um episódio do Antigo Testamento em que Moisés levanta uma serpente de bronze no deserto, enrolada numa vara. A pessoa que olhasse para ela ficava curada. Para os povos vizinhos de Israel, a serpente era um ser divino. Ao rastejar seu ventre sobre a terra ela tornava o campo fértil. Mas no deserto, a serpente é utilizada por Deus, primeiro para castigar a rebeldia do seu povo contra Deus. E aí, a serpente passa a ser instrumento do castigo de Deus. Muitas pessoas foram picadas e morreram. Em seu desespero, o povo então se arrepende de sua rebeldia e Deus transforma a serpente – esse símbolo da morte - num elemento de cura.
Mas, Jesus usa essa história do povo de Israel para dizer a Nicodemos que, a partir da encarnação de Deus no Filho do Homem, Deus não quer curar apenas o seu povo como havia feito no deserto, mas Deus que curar e salvar o mundo todo pela presença de seu próprio Filho nesse mundo. A partir de Jesus o povo de Deus terá uma nova amplitude. E a unidade desse novo povo de Deus – já não se dará apenas pela obediência à Lei judaica. A lei continuará sendo importante, mas o que deve unir o povo de Deus não é a lei, mas sim a fé no Filho de Deus.
A fé em Jesus muda o coração das pessoas. A fé em Jesus vai produzir uma transformação em todas as dimensões da vida: mental, corporal, social. O próprio diálogo entre Jesus e Nicodemos já é um sinal dessa nova realidade que Jesus deseja, um sinal de que os relacionamentos diferentes são possíveis, um sinal de reconhecimento de que cada pessoa pode ter uma parte da verdade diferente.
E Jesus continua dizendo a Nicodemos, que assim como no Antigo Testamento Deus manifestou o seu poder através da exaltação de uma serpente, da mesma forma o Filho do Homem será levantado para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. A cruz de Jesus será o novo símbolo da manifestação do poder de Deus. A cruz será o lugar de encontro da pessoa com Deus. A cruz também era um símbolo de morte. Ela é o símbolo do sofrimento que as pessoas produzem com suas condenações, com sua intolerância, com a falta de amor. Mas Deus transforma esse símbolo de sofrimento e de morte, num símbolo de salvação. A cruz passa a ser símbolo de vitória de Deus sobre o sofrimento e a morte. E Deus oferece essa vitória sobre o sofrimento e da morte para todas as pessoas que crerem no Filho de Deus.
Portanto, é a forma como as pessoas reagem diante da oferta da cruz de Jesus é que vai definir a sua eternidade. Jesus diz a Nicodemos que o lugar do juízo final não será mais no final da história. Agora o juízo acontece na história – acontece a partir da forma como cremos e vivemos a nossa fé. Cada pessoa vai definir a sua eternidade diante do Filho do Homem e quem não crê já está julgado. O julgamento não é mais executado por Deus, mas pela própria pessoa, que não crê e não se deixa transformar pelo Filho unigênito de Deus. Quem não se deixa envolver pelo amor e pela missão de Deus, anunciada em Jesus Cristo, essa pessoa se auto-condena.
E nesse momento, Jesus faz uma triste constatação. Deus mandou essa luz ao mundo, mas as pessoas preferiram a escuridão porque fazem o que é mau (João 3.19). Deus aponta o caminho da salvação, ele mesmo abre a porta do céu, mas a maioria das pessoas não aceita a oferta de salvação. E um sinal de que estão rejeitando essa oferta de salvação de Deus é quando as pessoas preferem fazer o que é mau: espalhar intrigas, ódio, intolerância, divisões, coisas que só produzem sofrimento e até morte em outras pessoas.
O Evangelho de hoje diz que jesus se entristece com essa constatação. Mas ele não relativiza a necessidade que a fé em Jesus deve transformar a vida de cada pessoa. Quem diz confiar em Deus, e não faz a vontade de Deus – essa pessoa está se auto-condenando (Joao 3.18). Pois, a oferta de salvação e de nova vida oferecida pela fé em Jesus, não é algo somente para depois da morte. A nova vida – a salvação – deve ser vivida já aqui nessa vida.
Portanto, a fé faz que nos aproximemos de Jesus. A fé nos mostra que Deus é capaz de transformar os sinais de morte em sinais de esperança. A fé é capaz de transformar símbolos de sofrimento e de morte em símbolos de nova vida e de amor. Deus é capaz de abrir novas possibilidades diante de qualquer situação de sofrimento. E tudo isso Ele faz de graça. É um presente de Deus para todo o mundo.
Mas, Jesus mesmo constata que muitas pessoas não querem esse presente de Deus, ou então são pessoas que dizem querer o presente, mas não o compromisso de viver a vontade de Deus anunciada por Jesus. E aí, Jesus diz: Essas pessoas já se auto-condenaram. É na postura diante da mensagem do Evangelho que cada pessoa decide a sua eternidade. A Salvação é por Graça de Deus, mas essa Graça de Deus impulsiona o nosso compromisso e a nossa fidelidade a Jesus.
Portanto, na conversa com Nicodemos, Jesus diz que os seus seguidores devem ser pessoas de fé em Deus e que a fé muda as nossas vidas por conta de Deus. O povo de Jesus não são pessoas que apenas obedecem a Deus em algumas coisas, mas são pessoas que colocam toda a sua vida a fazer a vontade de Deus. Essa conversa Jesus quer ter também como cada um(a) de nós.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai – que nos ama e nos cuida com amor de mãe, e a comunhão do Espírito Santo permaneçam no meio de nós. Amém.
Pastor Nilton Giese
Christuskirche – IECLB – Curitiba/PR