Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
(Mário Quintana)
"Quando chegaram ao lugar chamado Calvário,
ali o crucificaram, bem como aos malfeitores,
um à direita, outro à esquerda.
Contudo, Jesus dizia:
Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem".
(Lucas 23.33-34)
Temos sede em nossa alma, nos abandonar em Ti, ó Cristo!
(Taizé - Temos Sede)
A fé em Ti
não maquia o mundo.
Não pinta sorrisos de paz num rosto de dor.
A fé em Ti
Não estende o lençol branco do linho
sobre as chagas abertas do povo e da terra.
Não abafa o som amargo do pranto que nasce em Ramá
e que ecoa nas favelas, becos, centros e vielas de nossas cidades.
A fé em Ti não devolve a Raquéis, Noemis, Marias e Terezas
a vida roubada de seus filhos em guerrilhas urbanas ou em guerras declaradas.
A fé em Ti
não arranca do mundo (por decreto ou por sonho)
os grilhões de morte, as armas de fogo, a mão que se fecha para o ataque.
A fé em Ti
não é um teatro que no palco do mundo
faz cerrar sua cortina no ATO da dor
para reabri-la, entre aplausos de êxtase, no ATO esperança.
Mas a fé em Ti, querido Deus,
Permite enxergarmos-contemplarmos o mundo com outros olhos.
A fé em Ti
tem a marca da teimosa-esperança que com o fio do amor
tece num mundo de dor a rede da vida.
A nossa fé em Ti é como uma doce garça de brancas asas
que pousa insistente e majestosa nos rios poluídos de nossas cidades.
É como um filho pequeno que em espera de amor pleno
semeia mais amor
ao beijar com afeto a barriga de sua mãe grávida de vida.
A nossa fé em Ti é graça Tua
que faz nascer canções de paz dentro de nós.
A fé em Ti
nos leva a transformarmos fuzis em arados, arames farpados em panelas.
E a sovarmos juntos o pão da vida.
A nossa fé em Ti
Aguça nossos olhos e ouvidos, nosso corações, mãos, pés, o corpo inteiro,
Para a esperança que espera, que trabalha, que serve, que sonha
Mesmo contra toda a esperança.
e
Ainda que por todos os lados os sons da morte aparentemente abafem os brotos de vida,
Ainda que por todos os lados os sons de tiros abafem o choro de vida dos recém-nascidos,
Ainda que se invista em armas e que se despreze a sede de abraço e a fome de pão...
Ainda que sejamos como formiguinhas em meio a dinossauros
Ou como vozes solitárias que clamam nos desertos de concreto...
Seguiremos sempre adiante
Como crianças que devolvem ao mar os peixinhos na praia
e não haverá medo maior do que a esperança...
Porque Tu estás no meio de nós!
Amém!
Pa. Jaqueline Schneider