Sempre se diz que o brasileiro é alguém marcado pela esperança. Ele sempre tem esperança. Basta conversarmos com as pessoas que encontramos e, no final de um lamento ou preocupação, ouviremos aquela famosa frase: Tenhamos esperança, tudo vai melhorar. Analisando os fatos a nosso redor, em nosso dia-a-dia, percebemos que essa não deixa de ser uma grande necessidade..
A esperança tem sido marca registrada não só do brasileiro, mas do ser humano em geral. O mundo vive a esperança, o mundo clama por esperança. Esperança por paz e justiça. Por igualdade de direitos e privilégios. Por deveres e responsabilidades. Podemos dizer que a esperança é o motor acelerado da vida. Sem ela certamente a vida perderia muito de seu brilho e, conseqüentemente, sua alegria.
Ah, se não fosse a esperança! Esperança mesmo diante de fatos e verdades que teimam em se colocar entre a palavra afirmada e a palavra não cumprida. Entre o ideal e o real. Aquilo que deveria ser e aquilo que acaba não sendo.
Entra ano e sai ano, e tudo parece caminhar para a mesma direção. Essa parece ser a conclusão da grande maioria de nós, especialmente diante dos fatos novos que têm ocupado espaço na mídia.
Diante disso de novo se instala a esperança. Na Bíblia - palavra de Deus para nós -, percebemos exemplos que revelam que a esperança foi a grande marca do povo de Deus, que mesmo em meio a frustrações, desilusões, fracassos, perdas, ruínas, injustiças e mentiras sempre soube olhar para Deus e para a vida com esperança. Esta foi a esperança, por exemplo, de Abraão, de Moisés, de Ana, de Daniel, de Neemias, de Davi, dos profetas, de Paulo, de Estêvão, dos discípulos e outros tantos. Pessoas esperançosas no Deus da esperança. Mas como ter esperança?
Conforme o dicionário Aurélio, entre outras coisas, esperança é ter confiança em conseguir aquilo que se deseja. Esperança que anda de mãos dadas com a confiança não em si próprio, não nas pessoas ou naquilo que elas constroem, mas no Deus que tudo pode. Este Deus que vem ao encontro do ser humano através de Cristo Jesus e da ação de seu Espírito Santo.
Na experiência com Deus, o ser humano sempre teve associada a esperança com a confiança, o esperar com o crer. Pode-se dizer que a fé leva a esperar. O esperar promove a fé. Uma complementa a outra. Uma é a razão da outra.
Como cristãos somos desafiados a olhar sempre para frente com confiança e esperança de que nossa vida está nas mãos de Deus e sob a perspectiva da sua vontade. É verdade que isso jamais pode ser sinônimo de comodismo, como que esperando tudo cair do céu - o que erradamente muitos pensam. Precisamos agir, lutar, batalhar por tudo aquilo que está a nosso alcance na certeza de que adiante de nossas impossibilidades está o Deus da graça que acolhe, ajuda e acompanha.
Martinho Lutero afirmou certa feita de que deveríamos orar como se em tudo dependêssemos de Deus e fazer como se Deus nada pudesse.
É nessa direção que o profeta Isaías afirma - algo válido para a vida ainda nos dias atuais! - que ele esperará no Senhor (Isaías 8.17).
É verdade que em meio a uma sociedade marcada pela ansiedade e pelo estresse, o ser humano, na busca da tranqüilidade e da paz, tem colocado muitas vezes sua esperança e confiança em coisas (e também em pessoas!) diferentes daquilo que a palavra de Deus orienta. Também cristãos têm agido assim. As conseqüências têm sido frustrantes, produzindo muitas vezes caminhos sem volta.Tendo como ponto de partida a palavra de Deus, esperamos encontrar aquele que é a verdadeira esperança, Jesus Cristo. O mesmo Jesus que na Páscoa não ficou trancado na sepultura. Venceu-a. Ele que não ficou inerte como um animal acuado diante das ameaças de seu tempo e dos desvios do seu povo. Ultrapassou-as.
A fé - dom de Deus - deve manifestar sinais concretos de que vale a pena lutar, vibrar. Vale a pena viver, apesar das circunstâncias. Possibilitando ver também nas coisas pequenas e simples a alegria da vida. A fé - que produz esperança - desafia a viver nesta perspectiva. Situações podem ser mudadas quando se acredita na ação transformadora de Deus também presente no ser humano. Este Deus que é Senhor da vida e não da morte. Que promete e não frustra. Esta é a verdade que não pode ficar calada. Ela deve ser anunciada. Na medida da confiança deve estar a esperança. Esperamos porque confiamos.
Rogério Vieira
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
na Paróquia São Mateus
em Joinville - SC
Jornal A Notícia - 15/07/2005