Verê/PR - Um público de 150 pessoas participou do Seminário 40 anos do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA) – Comida Boa na Mesa, realizado entre os dias 16 e 19 de maio, em Verê (PR). Além de integrantes das equipes dos cinco núcleos do CAPA, da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e representação do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), estiveram presentes agricultoras, agricultores, representantes de comunidades quilombolas, de comunidades indígenas, movimentos sociais, de universidades e de entidades parceiras, junto com lideranças da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), a quem o CAPA está vinculado.
“São 40 anos, de muita resistência, persistência e esperança em prol da Agroecologia. E apesar da atual conjuntura de desmontes e retrocessos das políticas públicas, festejamos a história, a luta e os sonhos, também das organizações parceiras, das agricultoras e agricultores familiares, das assentadas e assentados da reforma agrária, dos quilombolas, dos indígenas e das consumidoras e consumidores”, afirmaram coordenadoras e coordenadores dos cinco núcleos do CAPA. Localizados em Erexim, Pelotas e Santa Cruz Sul, no RS, e em Marechal Cândido Rondon e Verê, no PR.
A mística de abertura, no dia 16, foi organizada e apresentada por estudantes da Escola do Campo Pio X, de São Jorge d Oeste, denunciando o cenário da perda de direitos e o fim de políticas públicas da agricultura familiar, anunciando uma mensagem de resistência e de esperança, com a ciranda tema da campanha do CAPA, Comida Boa na Mesa.
Nos dias 17 e 18, os temas apresentados foram Diaconia Transformadora e Agroecologia, pela secretária executiva da FLD, pastora Cibele Kuss; Comida Boa na Mesa e Agroecologia, pela professora da Universidade de Passo Fundo, Cláudia Petry; Agroecologia, saúde pública e planetária, pela psicopedagoga e psicanalista, Carin Primavesi Silveira; e Sementes crioulas e transgênicos, com o vice-reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul, Antônio Inácio Andriolli. No dia 18, data do aniversário do CAPA, foi realizada uma celebração, com o Pastor Presidente da IECLB, pastor Nestor Friedrich, a pastora sinodal Roili Borchardt, os pastores sinodais Lauri Becker e Bruno Bublitz, e os ministros Ademar Giese, Mário Maass, Felipe Pereira, com participação de um grupo musical da paróquia de Pato Branco/IECLB.
As palestras e a celebração podem ser assistidas em vídeos publicados no facebook dos núcleos Verê (CAPA Núcleo Verê), Erexim (CAPA Erexim) e Pelotas (CAPA - Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia), e da FLD (Fundação Luterana de Diaconia).
O seminário também incluiu espaços para a discussão de temas relacionados à produção de alimentos saudáveis e ao atual contexto político e social, e momentos para o fortalecimento de parcerias necessárias para o longo curso de lutas, pela retomada de direitos, que está à frente.
Parceiras presentes no seminário - Coopervereda, Coopervive, Acempre, Cooperativa União, Cooperativa Ecovale, Coocamp, Comunidade Quilombola Monjolo, Comunidade Quilombola Algodão, Comunidade Indígena Ocoy, Grupo de Agroecologia Gaia, Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Agroecológico Latino-americano e Caribe (Maela), Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), Assesoar, Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA - UPF), Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA Sudoeste), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR - Dois Vizinhos e Pato Branco), Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Unidade Mista de Pesquisa e Transferência de Tecnologia (UMIPTT - Embrapa), Escola Estadual do Campo Pio X, Escola Família Agrícola Vale do Sol, Presidência e Secretaria Geral da IECLB, Sínodos Sul Rio-grandense, Centro Campanha Sul, Uruguai, Rio Paraná, Conselho Nacional da Juventude Evangélica/IECLB (Conaje), Pastoral Popular Luterana (PPL).
O encontro aprovou o Manifesto dos 40 anos do CAPA, que pode ser lido abaixo.
MANIFESTO DO CAPA
Comida Boa na Mesa – 40 anos da Agroecologia em defesa da vida. Esse foi o tema que motivou o encontro das equipes dos cinco núcleos do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA), da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), de agricultoras, agricultores, de representantes de comunidades quilombolas, de comunidades indígenas, de lideranças da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), de universidades, escolas do campo e entidades parceiras, entre os dias 16 e 19 de maio, de 2018, em Verê, no Paraná.
Neste encontro reflexivo e festivo, celebramos os 40 anos do CAPA no serviço de apoio ao protagonismo de famílias agricultoras, de famílias assentadas da reforma agrária, de comunidades quilombolas e de comunidades indígenas na produção de alimentos saudáveis, em contraponto ao modelo de agricultura baseada no uso intensivo de agrotóxicos e outros insumos industriais e da mecanização agrícola, causadora do empobrecimento da maioria da população rural.
Considerando que a Agroecologia tem como princípio a garantia de direitos de todas as pessoas e seres, denunciamos:
- a desigualdade social, profundamente acentuada pelo golpe parlamentar, midiático e judiciário de 2016, com a retirada de direitos, o desmonte de políticas públicas, o acirramento do neoliberalismo e a renúncia à soberania nacional;
- a ameaça aos territórios, modos de vida, culturas e histórias dos povos e comunidades tradicionais e povos indígenas, causada pela expansão do agronegócio, geradora da perseguição e do assassinato de defensoras e defensores de direitos;
- o desmonte da legislação que regula os agrotóxicos, aumentando ainda mais sua utilização criminosa;
- o sequestro de sementes, por empresas transnacionais, violando o direito humano de acesso à alimentação saudável;
- o avanço dos transgênicos, colocando em risco o patrimônio genético da terra e a saúde.
Como sinal de esperança, anunciamos a Agroecologia como projeto de sociedade transformadora de vidas, que viabiliza relações sociais justas, harmonia com a natureza e oferta de alimentos saudáveis para todos os seres.
Reafirmamos o nosso compromisso na continuidade da construção da Agroecologia e de políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar na sociedade brasileira como uma utopia possível, em direção a uma sociedade responsável e solidária, com justiça de gênero, com ampla participação das juventudes e comida de verdade no campo e na cidade.
Reafirmamos nossa crença na possibilidade de uma agricultura não mergulhada em agrotóxicos. Reafirmamos nossa luta e resistência contra práticas que transformam os campos em grandes monoculturas, sem vida, sem cultura e sem história.
Agroecologia é Comida Boa na Mesa.