2 Corintios 5.10 - Nossa vida: Uma resposta

Prédica

13/11/1949

NOSSA VIDA: UMA RESPOSTA
2 Corintios 5.10 

Todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo. Essa é uma das afirmações da mensagem cristã, para a qual falta ao homem de hoje toda a compreensão. Para ele é um pensamento absurdo que possa haver algo como um julgamento, onde nós teríamos de responder por nós e nossa vida toda. Não se enquadra esse pensamento na concepção que o homem de hoje, em geral, tem de si mesmo e de sua vida. O traço característico dessa concepção é que o homem pretende ser autônomo, pretende ser o seu próprio senhor, responsável a ninguém senão a si mesmo. É uma ilusão; mas, é urna ilusão que vive a maioria dos homens. Vivem como se não houvesse realidade mais importante do que a sua própria pessoa. Em tudo se deixam guiar pela sua própria vontade. Outra lei não existe senão o que eles mesmos querem e desejam. Para manter essa ilusão de ser o seu próprio senhor, autônomo e a ninguém responsável, o homem, propositada, mente, traça os limites, dentro dos quais quer ter a sua vida. Fica-lhe fora de qualquer cogitação que a vida humana pudesse ser algo mais do que esse espaço de tempo que percorremos desde o nascimento até a morte. Já a morte fica fora de suas cogitações. Ela é um fator estranho que não se quer adaptar à ideia da autonomia do homem. Por isso procura-se evitar o pensamento na morte o quanto possível. O importante, o essencial é esta vida que agora vivemos. Para que vivemos, qual o sentido desta vida, para onde vamos — essa pergunta fica excluída. Ninguém sabe dizer com certeza o que vem depois desta vida. Por isso, quem quer viver, que viva agora esta sua vida, que tire dela o que possa tirar, porque ninguém sabe se realmente terá uma outra vida. 

Não nos entreguemos a ilusões: é deste modo que hoje muitos homens encaram a sua vida, e também muitos que têm o nome de cristãos. O único certo para eles é a vida atual, a vida que agora vivemos aqui na nossa terra. Tudo o mais fica na incerteza, Donde vimos e para onde vamos, isso não sabemos, isso fica na escuridão. 

Como é diferente a fé cristã! Todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo. Aqui não há incerteza quanto ao futuro, ao qual vamos de encontro. Ao contrário: todos os vultos do Novo Testamento e os grandes nomes da história da Igreja têm o seu olhar firmemente dirigido para o futuro; eles sabem perfeitamente para onde vão. Aqui os caminhos de todos os homens conduzem para um só fim: para o grande dia do Senhor. E este dia será o dia decisivo para todos os homens, porque é neste dia que se manifestará o que foi toda e qualquer vida humana. Se é verdade que todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, então é verdade que nós não somos os nossos próprios senhores, que não podemos dispor de nossa vida, mas que temos um Senhor, ao qual somos responsáveis. Este Senhor será o nosso juiz, e de sua palavra sobre nós dependerá se tinha valor e sentido a nossa vida ou não. Não o que nós julgamos, e nem tampouco a opinião que outros formam a respeito de nós, são importantes. Importante e decisiva é unicamente a palavra que naquele dia ante o tribunal de Cristo será pronunciada sobre nós. Será o dia das grandes revelações, O que isso significa, bem podemos imaginar, pensando na importância que têm certos livros que hoje aparecem, sejam biografias ou memórias, de grandes estadistas, para elucidar certos acontecimentos históricos. Onde antes havia somente segredos e mistérios, tornando incompreensível um acontecimento histórico, tais revelações contidas nas memórias de homens que tomaram parte naquele acontecimento trazem clara luz. Como então há de ser clara aquela luz, na qual aparecemos naquele dia ante o tribunal de Cristo! Não haverá nenhuma máscara, detrás da qual possamos ainda esconder-nos. Nenhuma mentira, nenhuma ilusão, nenhuma aparência persistirá perante os olhos daquele que é o Rei da verdade. Nada mais e nada menos do que a verdade, a pura e inteira verdade sobre nós e a nossa vida será revelada naquele dia. Não mais pretende ser autônomo, conservar a ilusão de ser o seu próprio senhor, quem uma vez teve uma noção do que significa isto: Todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo. 

Este fato, porém, dá toda a relevância à nossa vida atual. Muitos pensam: o cristianismo torna uma pessoa inapta para a vida neste mundo. Quem sempre pensa na eternidade, para este perde de valor a vida atual. Verdade é o contrário: para aquele que crê na vida eterna, que conta com a realidade de Deus, a vida atual recebe uma importância que para nenhum outro pode ter. Em primeiro lugar: Essa vida é então tirada de nossas mãos; ela não nos pertence mais, Não podemos fazer com ela o que nós queremos. Não podemos vivê-la simplesmente deixando guiar-nos pela nossa vontade e pelos nossos desejos. Mas, muito mais importante: É nesta nossa vida atual que se decide qual a palavra que naquele dia ante o tribunal de Cristo será pronunciada sobre nós. É nesta nossa vida atual que se decide o nosso destino eterno. Que importância maior poderia ter a vida humana neste mundo do que esta de ser ela o lugar de decisões definitivas, eternas? Que peso de responsabilidade recebe aqui a nossa vida! E é uma responsabilidade bem clara, bem concreta. A palavra responsabilidade ou ser responsável vem da palavra responder. Responsável é aquele, do qual é exigida e esperada uma resposta. Homens que têm que responder, porque são perguntados — essa é a nossa situação durante toda a nossa vida. Que temos um Senhor, ao qual pertencemos, isso não sabemos de nós mesmos. Mas isso nos foi dito, por Ele mesmo, Ele nos chamou pelo nosso nome, declarando-nos, a cada um de nós: Tu és meu. Ele nos disse: Eu sou a luz do mundo (João 8.12) ; eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim. (João 14.6) Ele não nos deixou em dúvida quanto ao caminho que devemos ir: Quem permanece em mim, este é meu verdadeiro discípulo; quem permanece em mim, este trará muitos frutos; mas sem mim nada podeis fazer. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros. (João 8.31; 15.5; 13.35) Em uma de suas parábolas Ele nos diz: O que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes. (Mt. 25.40) E o nosso texto de hoje diz: que todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o que tiver feito em sua vida terrestre, ou bem, ou mal. Todas estas palavras nos mostram a relevante importância da nossa vida terrestre e de todas as decisões que nela tomamos. Não que por nossa atitude e nossas ações pudéssemos ganhar a vida eterna, pudéssemos conseguir um mérito perante Deus. Não, disso de maneira alguma se pode tratar. Somos salvos unicamente pela fé em Jesus Cristo. Quem crê em mim, tem a vida eterna. (João 6.47) Mas, se Jesus tão seriamente fala dos frutos que os seus discípulos devem trazer, ou se hoje aqui nos é dito que seremos julgados segundo o que tivermos feito nesta vida, então com tudo isso nos é dito: teríamos compreendido mal a graça e misericórdia de Deus se julgássemos que ela nos poderia deixar como somos, entregues a nós mesmos. Porque a graça de Deus é Jesus Cristo, e pertencer a Ele é viver pela graça de Deus. Nós fomos por Ele chamados; Ele é também o nosso Rei e Senhor. E a esse seu chamamento nós temos que responder. Responder não só em pensamentos, não só em palavras, mas responder com a nossa atitude toda, com a nossa vida inteira, responder se queremos seguir ao seu chamamento, se queremos pertencer a Ele. Que a nossa vida toda seja uma resposta à palavra de Cristo, com a qual Ele nos chamou: Tu és meu! — nisso consiste em concreto a nossa responsabilidade. 

E se mais uma vez pensamos na parábola do juízo final, então vemos: Não são grandes realizações, não são obras extraordinárias que Ele espera e procura em nós como nossa resposta. Ao contrário, para o critério do mundo passa até por insignificante o que ali vem à luz do dia: Eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; andava forasteiro, e me agasalhastes; estava nu, e me vestistes; estava doente, e me visitastes; estava preso, e me viestes ver. (Mt. 25.35 s.) Tudo isso ações sem grande importância, das quais nem se toma nota na história do mundo. Sim, e no entanto, dessas mesmas ações, pela palavra do Senhor, depende o destino eterno dos homens. Porque neles se manifesta o Espírito daquele que veio para procurar e salvar o que estava perdido. As obras, pelas quais seremos julgados, os frutos que Cristo de nós espera, são esta resposta, dada pela nossa vida, ao grande amor com o qual Deus nos tem amado, chamando-nos seus filhos. Essa resposta não pode faltar. Somos responsáveis. E qual terá sido a nossa resposta, isso se manifestará naquele dia, ao qual vamos de encontro: no dia em que todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo. Que, pois, não esqueçamos a palavra de Cristo: Sem mim nada podeis fazer. Permanece! em mim! (João 15.5, 4)

Pastor Ernesto Schlieper

13 de Novembro de 1949 (Penúltimo Domingo do Ano Eclesiástico), Porto Alegre e 15 de Novembro de 1949, São Leopoldo 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS
 


 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Coríntios II / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 10
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19714
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