DOMINGO DA ETERNIDADE (ou dia dedicado à memória dos mortos)
MENSAGEM DE ESPERANÇA
1 Tessalonicenses 4.13-18 ( Leitura: Salmo 23)
É o desejo expresso do apóstolo Paulo que a passagem que acabamos de ler seja usada para consolar. Ele diz, ao final de nosso texto: «Consolai-vos, pois, uns aos outros, com estas palavras.» Nós queremos respeitar a vontade do apóstolo, pedindo a Deus que prepare os nossos corações tanto para consolarem como para serem consolados. E tenhamos a certeza de que este desejo não é nenhum capricho particular do autor da carta à comunidade cristã de Tessalônica. Deus mesmo nos quer consolar pela mensagem da vida — em meio a um mundo desconsolado, um mundo que cheira a decomposição e morte.
«Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança.» Entendamos bem: Paulo não nos manda ignorar a morte. Não nos convida a fazer de conta de que ela não existe. Isto é o que fazem os outros, os que não têm esperança. Paulo nos diz para não sermos ignorantes a respeito dos que adormeceram, para não nos entristecermos por causa deles.
Nós perguntamos: Será que «com respeito aos que dormem», isto é, com respeito aos que morreram, nós todos não passamos de ignorantes? Quem de nós já olhou para o outro lado da cortina? Quem poderá dizer alguma coisa certa e concreta a respeito do «outro mundo», alguma coisa indubitável mesmo, alguma coisa não sujeita a engano? Não somos todos uns ignorantes, com respeito à existência depois da morte? E a própria vida após a morte: Sabemos realmente, se ela existe? A morte de uma pessoa é um acontecimento tão convincente, é uma prova tão evidente do fim de nosso existir! É só lembrar-nos do último enterro de que participamos. Foi uma pessoa querida, que era parte de nossa vida, era como que parte de nós mesmos. E de repente tudo estava acabado. Amizade, relações, tudo. Os olhos cerrados, os lábios mudos, o sorriso apagado. «Terra à terra, cinza à cinza, pó a pó!» Não acontecerá a mesma coisa conosco, daqui a dez, vinte, quarenta anos? E, quem sabe, antes, muito antes? E não será um fim bem semelhante àquele que nos deixou tão abalados?
Você está vendo: Se seguirmos o trilho de nossos próprios pensamentos, se nos movermos apenas na pista de nossa própria experiência com a morte, então já nos achamos envolvidos pela tristeza, da qual o apóstolo fala. Tristeza do vazio, do escuro, do ignorado. Tristeza de cemitério pagão. Tal tristeza nos poderá abater e paralisar. Pode ser que nem uma neblina densa que nos envolve: Uma mulher perde o marido, no verão da vida, vitima de acidente. Pais vêem morrer um filho, depois de terem lutado por longo tempo pela vida dele .. É uma tristeza sem par que toma conta de nós toma conta mesmo. Não há outra palavra melhor para descrever o que acontece. A tristeza penetra no coração e enche qualquer espaço disponível. Não deixa lugar para mais nada. Fecha as portas para a esperança e para a alegria.
Sim a tristeza se assenhoreia, se apodera de nosso coração. Invade a casa e fecha as portas pelo lado de dentro. Nós bem gostaríamos de despejar o inquilino perturbador, mas ele não sai. A tristeza se gruda a todos os nossos pensamentos, ela tem poder mesmo. A única coisa que ela não conseguirá, é impedir que um senhor mais poderoso do que ela venha para tomar conta de nós, que venha forçar a porta de fora, e ao mesmo tempo de dentro. E isto acontece, quando Cristo, o ressurgido se torna o Senhor de nossa vida. «Por que choras?» — assim ele pergunta a Maria Madalena. E sua pergunta já encerra consolo já que fala o que fora morto, que venceu a tristeza paralisante do cemitério. Fala o Cristo, a última palavra de Deus que, com o Cristo de Deus, que conhece o outro lado da cortina. Que passou a divisa e que conquistou o reino, do qual a morte tinha tomado conta. Assim a nossa ignorância em face da morte, «com respeito aos que dormem», vai sendo abalada pela mensagem da esperança. Por que choras? Vai, criatura de Deus dize, por que choras, frente à mensagem de que Cristo ressuscitou! Vê, se tuas lágrimas ainda têm cabimento! Vê, se ainda consegues manter a tristeza por dentro e a esperança por fora vê, se elas não vão trocar de lugar, quando ouvires com fé a palavra de Cristo!
«Pois se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará juntamente em sua companhia os que dormem.» Você entende que Paulo não deseja satisfazer a nossa curiosidade acerca da existência daqueles que morreram. Não descreve o reino dos mortos («os infernos», como diz o Credo -- isto é, os lugares inferiores, lugares dos mortos). A Bíblia em nenhuma parte satisfaz aquela comichão de curiosidade pelas coisas «do outro mundo.» A Bíblia não é um livro espírita e o «evangelho segundo o espiritismo» é de Allan Kardec não é o evangelho de Jesus. O que o apóstolo quer, é consolar, Consolar cristãos entristecidos e angustiados por um abalo sofrido: pela morte de uma pessoa bem-amada, de um irmão, de uma irmã em Cristo. O que Paulo diz, é tudo o que precisamos saber para não sermos ignorantes com respeito aos que dormem e com respeito à nossa própria morte: Cristo morreu e ressuscitou — e Deus não deixará que os que são de Cristo sejam separados de seu Senhor. Vivendo ou morrendo, eles são de Cristo. Nada os pode separar dele._ Quando Cristo voltar em glória, os falecidos não terão sido esquecidos. Não levarão nenhuma desvantagem em comparação com os que neste dia ainda viverem. Seu lugar será junto a Jesus. Participarão de sua glória, de sua vida, de seu reino. — Onde os cristãos falecidos se encontram agora? Junto a Cristo! — Em que estado se encontram, entre a morte e a ressurreição? Estão junto a Cristo! — Será que eles têm consciência de si mesmos? Estão junto a Cristo! Será que são felizes e que têm paz? Estão junto a Cristo! Você vê — nossa resposta é sempre a mesma. Ela não satisfaz nenhuma curiosidade humana. Mas ela basta. Basta plenamente para os que são de Cristo. Eles não precisam nem querem saber o que Deus reservou para si: dia e hora da vinda do Senhor, o número dos que se salvam, a maneira como o mundo será aniquilado ou transformado pelo juízo. Para os que vivem em Cristo, basta saberem que a morte não os separará dele, O resto não importa agora. O resto pode esperar. Basta que Deus saiba e que tenha marcado o dia.
«Ora; ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto; nós, os vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados, juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor.»
Notamos que nossa passagem bíblica, embora não satisfaça nenhuma curiosidade humana, faz algumas declarações simples e precisas a respeito da segunda vinda de Cristo, que deveremos ouvir com toda a atenção. O apóstolo diz que Cristo, num dia escolhido por ele, descerá dos céus, que os crentes já falecidos ressuscitarão e que os que naquele dia viverem serão arrebatados e levados ao encontro do seu Senhor. Assim todo o povo de Cristo será reunido e estará para sempre com o Senhor. — Verificamos que Paulo aqui fala com grande naturalidade do dia do juízo final, do dia da volta de Cristo, do fim do mundo, se assim quisermos. Conta com a volta de Cristo já naquele tempo o que os cristãos de todos os tempos deveriam fazer — uma vez que se lembrem de que Deus tem um calendário em que só ele marca as datas). Mas Paulo não procura apontar data nem assinalar lugar. Fala daquele evento como alguém que diz; Poderá ser hoje ou amanhã — e seria bom, se fosse hoje ou amanhã! Conta só o essencial: O Senhor dará ordem, o arcanjo fará ouvir sua voz, a trombeta de Deus soará: É como numa operação militar — ordem, vozes, trombetas. E esta linguagem militar, linguagem de guerra, de ataque a' um país ainda sob a tirania do inimigo, certamente não é casual. A própria palavra «evangelho», no hebraico, na língua que Jesus falava, era uma palavra de cunho militar: Era a mensagem alegre da vitória que era levada para o povo. Era pregar boas novas aos pobres e quebrantados, era proclamar libertação aos Cativos, era pôr em liberdade os algemados (Is. 61,1-2). Aí não é preciso acrescentar nada: A segunda vinda de Cristo será o evangelho de Deus — totalmente consumado.
Há canções de cristãos negros americanos que descrevem de forma igualmente ingênua e gloriosa os eventos finais da história do mundo, e o início do novo mundo de justiça e de paz: «Quando os santos vierem marchando .. » Certamente é uma maneira humana de descrever o que não pode ser descrito por palavras humanas: «Trombeta, voz do arcanjo, arrebatamento entre as nuvens»: nós não o podemos imaginar e nem deveríamos fazer. Será uma trombeta diferente, serão nuvens diferentes, será um arrebatamento diferente daquilo que nós imaginamos. O que importa é que não será um Cristo diferente daquele que se nos revelou pela fé. Será o Jesus Cristo que Deus fez ser o Salvador do mundo. O que importa é que tenhamos uma tal fé «militar» direta e clara: que esperemos pelo Senhor que vem para assumir o seu reino, que esperemos por sua palavra de ordem, que tenhamos confiança em seu poder de ressuscitar, de arrebatar, de transformar. O que importa é que saibamos que ele vem e que nos alegremos por sua vinda. Os detalhes são secundários. Assim como são secundários os detalhes da conquista de uma cidade. Importante é que a cidade seja conquistada e que o conquistador nela se instale.
É estranho: Paulo não entra em pânico por causa do «derradeiro dia». Quer expressamente que também aquela parte de sua mensagem que se refere à volta de Cristo seja usada para consolar os tristes. Lutero falou do «querido derradeiro dia.» Os primeiros cristãos oravam: Maran ata Senhor, vem! Prezado ouvinte: Pondo-me bem na linha em que o apóstolo Paulo está falando, quero dizer a você: Aceite o consolo da mensagem do Cristo que virá, e passe este consolo adiante!
Oremos: Senhor e Salvador! Agradecemos-te pelo consolo que nos ofereces pela mensagem de tua vinda em glória e poder. Faze-nos aguardar a tua vinda com sobriedade e com fé. Conforta os nossos corações, fazendo-nos entender que também os que faleceram na fé, estão contigo e que ninguém os separará de ti. Maran ata. Amém, vem, Senhor Jesus.
Veja:
Lindolfo Weingärtner
Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS