Prédica: 1 Pedro 1.17-23
Leituras: Salmo 116.1-4, 36-41* e Lucas 24.13-35
Autoria: Roberto Natal Baptista
Data Litúrgica: 3° Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 23/04/2023
Proclamar Libertação - Volume: XLVII
Somos chamados para o amor
1. Introdução
Estamos no 3º Domingo da Páscoa, que recebe o nome de misericordias domini. A ênfase nesse domingo é a capacidade de Deus em olhar para o mundo com uma atitude de misericórdia, um coração voltado ao mísero, ao pobre, ao necessitado. Os textos da nossa tríade são exclusivos, diferente dos outros comentários do PL. O texto de Lucas 24 aparece em outros comentários. Temos aqui o conhecido relato dos discípulos no caminho de Emaús, a ênfase de um Jesus que caminha conosco e nos orienta. Já o Salmo 116 é exclusivo mesmo. Esse retrata o louvor do salmista a Deus por ouvir o seu clamor e livrá-lo da morte. Entende-se o papel do Salmo 116 nessa tríade: o resgate por um preço alto valoriza o valor da vida.
2. O texto
A Primeira Carta de Pedro era dirigida a cristãos gentílicos das regiões do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, como nos indica o primeiro verso dessa carta. Esses cristãos e cristãs são novos convertidos e, agora, divergem no ambiente em que vivem. Por isso sofrem acusações e calúnias. A carta procura levar conforto a essas pessoas
É sempre bom rever o que já foi trabalhado sobre o texto de pregação nos volumes de Proclamar Libertação. Reparto com você os cinco trabalhos que já foram publicados. Com a facilidade que temos de consultar esses textos no site da IECLB, basta aqui breve revisão. Apontarei apenas os pontos mais relevantes do texto de 1 Pedro em cada trabalho.
O primeiro texto trabalhado foi o de Rudi Kich, no PL XIII, destinado para o 3º Domingo na Quaresma [Oculi]. A perícope está delimitada de modo pouco diferente (1 Pedro 1. [1-17] 18-21). Após uma breve exegese, Kich sugeriu concentrar a prédica principalmente nos versos 18 e 19, chamando a atenção para o valor da vida humana e o preço com que todos fomos resgatados por Deus.
O segundo trabalho é o de Wilfrid Buchweitz, no PL XVIII, previsto para o 3º Domingo da Páscoa. Buchweitz chama a atenção para a mudança de foco de acordo com a mudança de período litúrgico. Enquanto no PL XIII o destinoera o período da Quaresma, agora o texto se destina ao período depois da Páscoa. O autor chega à conclusão de que, ao ler o texto de 1 Pedro, passamos de uma reflexão na Quaresma para uma prática ativa das recomendações feitas no texto.
No PL 30, temos o trabalho de Pedro Kalmbach sobre a perícope, também prevista para o 3º Domingo da Páscoa. Ele aponta para a mesma ênfase que Rudi Kich, ao dizer que o feito salvífico de Jesus expresso nos v. 18-19 é o tema central do nosso texto.
Odete Liber Adriano trabalha o texto no PL 35 previsto para o mesmo 3º Domingo da Páscoa. Aqui ela aponta para o tema central dessa porção de 1 Pedro, ou seja, o renascimento e a nova conduta.
Por último, o comentário no PL 41 elaborado por Manfredo Siegle para o mesmo período da Páscoa. Percebe-se que a partir do primeiro comentário no PL XIII, o texto de 1 Pedro 1.17-23 migrou da Quaresma para o 3º Domingo da Páscoa. Siegle faz uma exegese pormenorizada, desde a preocupação com a data da carta, destinatários, autoria, contexto, até a uma análise verso a verso. Sua avaliação e suas pistas são ricas. Ele sugere a seguinte estrutura para a elaboração da prédica: Mundo confuso – Cristo rejeitado – Deus cuida – Nossa missão.
V. 17 – Orar a Deus e chamá-lo de Pai tem consequências. Primeiro, deve-se saber que o Pai é um Deus que julga com equidade, com isonomia. Esse saber aponta para uma ênfase bastante luterana: cada um é responsável diante de Deus pela sua conduta. Segundo, é preciso ter respeito, consideração, valorização a esse Deus.
V. 18-19 – Esse conjunto foi muito enfatizado em outros comentários do PL. É justo. Tradicionalmente, concentra-se aqui o resumo do sentido do sacrifício de Jesus. A ênfase desses dois versos é a valorização da vida humana atribuída por Deus. No mundo em que vivemos, onde se mata por causa de um par de tênis, Deus aqui abre os nossos olhos para que percebamos o enorme valor que a minha e a sua vida de fato têm. Um preço imensurável, muito maior que o que temos de mais valioso. Muito mais que ouro e prata.
V. 20 – Os dois versos anteriores já parecem bastante claros sem esse acento no v. 20. O que era oculto desde os primórdios do tempo agora é revelado. Esse verso é muito conhecido nos textos neotestamentários, conforme 2 Timóteo 1.9ss; Tito 1.2ss; Colossenses 1.26; Efésios 3.5, 9; Romanos 16.25.
V. 21-23 – Os versos apontam para a conduta decorrente de toda a teoria até aqui elaborada. O v. 21 mostra que a fé e a esperança que esses cristãos aprenderam não seriam possíveis soltas no nada. Tudo isso tem como alicerce o Deus chamado de Pai. No v. 22 está o centro da conduta: amem uns aos outros com todas as forças e com um coração puro. Não podemos realizar esse amor sincero sem o conhecimento da verdade nos dada por Jesus. O v. 23 nos fala desse novo nascimento não de um pai mortal, mas do Pai que é imortal.
3. Pistas para a prédica
Tudo que vimos até aqui necessita desembocar na realidade em que vivemos. Eu dou uma sugestão. Sim, apenas uma sugestão. Você pode ponderar se ela é adequada à sua comunidade e ao momento em que você vive. A meu ver, a sugestão que segue é tão importante, que poderia dizer que esse conteúdo faz parte da essência da fé cristã. Sim, estou reforçando os sentidos do v. 22. E explico como o enxergo no nosso texto de 1 Pedro 1.
Veja o verso: Agora que vocês já se purificaram pela obediência à verdade e agora que já têm um amor sincero pelos irmãos na fé, amem uns aos outros com todas as forças e com um coração puro. Acho interessante que ele dá entender que tudo que antecede nos versos anteriores tem a função de apontar para o amor ao próximo. Em outras palavras, fé e teologia não fariam sentido apenas como uma teoria. Estou exagerando, eu sei. O fazer teologia é lindo como prática teórica. Entretanto, pensando na fé cristã, no testemunho de Jesus e na sua prática de vida, somos chamados para o amor.
Portanto, acredito que podemos aproveitar em nossa mensagem essa ênfase para repartir com a comunidade. Poderíamos até “abrir os olhos e os corações” dos nossos ouvintes para uma avaliação de sua espiritualidade. Não no sentido moral, mas naquilo que Lutero enfatizava de uma “conversão diária”. Resumindo em uma simples frase a nossa mensagem: todos nós devemos e precisamos nos converter sempre ao amor ao próximo, ao mais simples, ao mais pobre. Que Deus me ajude. E ajude, principalmente, as nossas comunidades.
4. Subsídios litúrgicos
Oração de confissão de medos e falhas: Deus, sabemos que somos falhos e dependemos de ti. A cada instante da nossa vida, necessitamos nos rever e perceber os momentos em que precisamos reagir diante dos nossos erros, dos nossos medos. Confiamos sempre no seu amor para nos ajudar nessa dura tarefa que todos e todas enfrentamos. Gratos pela sua orientação e sejamos sinceros contigo e conosco mesmos, sempre. Amém!
Sugestões de canções:
1) Caminhamos pela luz de Deus (LCI 305)
2) Nada te turbe (LCI 595)
3) O Senhor é a minha força (LCI 166)
Bibliografia
<https://www.luteranos.com.br/conteudo/1 Pedro 1.17-23>.
<https://www.luteranos.com.br/conteudo/1 Pedro 1.17-22>.
www.luteranos.com.br/conteudo/1 Pedro 1.17-21>.
* Conforme o Lecionário Comum Revisado da IECLB, a leitura prevista é Salmo 116.1-4,12-19.
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